sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A mesma conversa fiada de sempre


Numa denúncia das ilusões federalistas euro-liberais, Jorge Bateira defendeu já há uns anos o seguinte: “na ausência de uma língua comum, largamente partilhada, a cidadania europeia não passa de um mito que serve a estratégia política de uma elite cosmopolita desligada dos seus povos”. 

Lembrei-me desta sensata formulação a propósito de uma iniciativa europeia em que o jornal Expresso participa e que se chama, olha a surpresa, “Europe talks”, com “media partners” e tudo. Diz que é para aproximar, mas o uso e abuso do inglês é de facto a expressão linguística do desligamento dos povos e da cada vez mais desigual realidade dos países da UE. 

Nesta senda, decorreu no passado 1 de Dezembro uma iniciativa de caridade global que a SIC divulgou: “O GivingTuesday começou em 2012, nos Estados Unidos da América. Hoje é uma organização autónoma, com o leadership support da Fundação Bill&Mellinda Gates”. 

Foi uma boa forma de celebrar o nosso dia da restauração da independência. Talvez o devêssemos mudar para 4 de Julho, já que os EUA são o único país onde uma certa versão de nacionalismo é no fundo aceite pelas elites, até por tantas que se dizem críticas, deste lado do Atlântico. São as que continuam a dizer que o nacional é absurdo e que só há local e global, ou seja, que só existe o eixo Bruxelas-Washington mais as suas dependências. 

É caso para perguntar: Os EUA dão o quê, já que são dos países mais brutalmente desiguais e internacionalmente menos generosos? E a Europa fala o quê? E que classe fala numa UE que de resto é cada vez menos a tal Europa, agora que o Reino Unida saiu e tudo? 

A UE, com mais ou menos cosmética, continuará a falar a língua do capital financeiro transatlântico sem trela, graças à liberalização que promoveu da passagem dos anos oitenta para os noventa em diante. Tudo pode ser suspenso em plena pandemia, menos uma das prerrogativas, a da livre e assimétrica circulação, que dá mais poder estrutural ao capital para erodir a única generosidade que conta, a que é inscrita nas instituições do Estado democrático e social de base nacional. 

Por falar em iniciativas internacionais inconsequentes, os Papéis do Panamá, desculpem, the Panama Papers, é que nunca falaram grande coisa. Afinal de contas, o grupo Impresa, inacreditavelmente subsidiado pelo Estado, tem muito mais espaço dedicado à propaganda ao capitalismo da doença do que ao escrutínio das suas doenças. Não é caso único, obviamente, num panorama mediático desolador. E o resto é conversa fiada ideológica; cheap talk, como se diz em bom português.

17 comentários:

Anónimo disse...

Ahahah

Muito bom, ou seja very good

Anónimo disse...

A nunca eleita no universo do eleitor europeu, Madame Ursula, a chefe do Executivo UE, num "Inglês" falso, e em falcete, discursa quiméras (imprimir freneticamnte moeda fiat) perante um "Parlamento" aonde ninguém tem como língua mãe ... o Inglês.

Anónimo disse...

A utilização de uma língua "franca" é essencial para um projecto que se quer global. A cultura e os costumes não devem ser resultado de uma apropriação.

Anónimo disse...

O eixo rotschild-rockfeller.

Jose disse...

Li e achei um desperdício de tempo.
O inglês é língua franca e não julgo que valha a pena meter o nacionalismo no assunto.

Para esse efeito bastava-me que não andassem a inovar no português escrito com experimentalismos idiotas.

Anónimo disse...

O que será uma língua franca? Uma forma de apropriação da cultura e dos costumes?

Anónimo disse...

Uma língua "franca" é uma língua que permite o entendimento entre intervenientes com língua "mãe" distinta. O que se tem assistido ao nível da linguagem, cultura e costumes é a dominação do países/elites que impõem a globalização que conhecemos.

Anónimo disse...

Já agora, a propósito, uma leitura, resgatada pela esquerda, do 1 de dezembro:

https://www.facebook.com/jferreira2021/videos/881341535948478/

Jose disse...

«países/elites que impõem a globalização»

Impõem porra nenhuma.
Exibem o seu modelo de consumo e por todo lado os seguem ansiosa e denodadamente.
E queixam-se, e queixam-se, de não terem o bastante.

E desses países/elites, onde a cultura tem as suas mais notáveis manifestações, tomam-lhes o lixo cultural e propagandeiam-no, e usam-no.
E quando, através de uma cultura subsidiada, aparentam opor-se-lhe, não fazem mais que exibir modelos anacrónicos e sem futuro.

JE disse...

Jose está inquieto.E teima em cumprir o que é denunciado à priori

Eis jose com a sua "mesma conversa de sempre"

Para jose, qualquer coisa que saia dos discursos idiotas do outro traste, é "experimentalismo".

"Idiota"?

Pois. Tem que conferir com a linguagem dos "discursos claros e lúcidos" do outro, para ver se passa no crivo da sua profissão falhada


Entretanto que linguagem usará como facilitador de negócios?

Ana Maria disse...

A Bélgica não tem uma língua comum. O Canadá não tem uma língua comum. E são estados-nações!

JE disse...

Há mais.

A perda de tempo de que jose aqui se lamuria, não é invocada depois por ele, para o "porra" a que depois se socorre, para continuar o seu discurso

Jose já se esqueceu da sua função de propagandista ao seu modelo de consumo,embora tal modelo seja para consumir pelos porno-ricos.

Os modelos anacrónicos e sem futuro são modelos para os demais. Para os porno-ricos,upa upa.


Quanto "aos paises/elites, onde a cultura tem as suas mais notáveis manifestações..."

"A mesma conversa fiada de sempre". Bush, Blair, Barroso, Aznar também a tiveram e publicitaram, quando arrasaram um país e uma região com mais história e mais cultura do que a história e Koltura de todos os desfiles da legião portuguesa e das falanges espanholas

E infelizmente foi no país de Beethovem e de Goethe que surgiu a verdadeira besta nazi, a mostrar que essa história é, para além de subsidiada ,uma estória muito mal contada

JE disse...

Já agora...

Obrigado ao anónimo.Gostei muito de ouvir a leitura do 1º Dezembro, resgatada pela esquerda

JE disse...

Os aldrabões sem escrúpulos geralmente têm a ignorância que lhes é própria. Como a deste joão pimentel ferreira, convertido agora em "ana maria"

O Canadá é um Estado que abriga duas nações: uma de origem francesa e outra de origem inglesa, sem contar os americanos nativos

Depois explicar-se-á o que é a Bélgica...

Et vive le Quebec libre

Jaime Santos disse...

Conversa fiada ideológica. Uma excelente maneira de definirmos aquilo em que se transformou o discurso dos Partidos de Esquerda que defendem a soberania tal como ela é vivida em sítios como a China ou Cuba ou o Vietname: o líder manda e o povo obedece.

Com franqueza, perante isto, tragam-me já as grilhetas de Bruxelas, que nesta Europa o João Rodrigues ainda tem direito à liberdade de expressão. Mas nos ditos países eu não teria...

Pois, eu sei, é what-aboutism. Mas como também é aquilo que nos propõe em alternativa quando canta loas à resposta de países como a China ou o Vietname à pandemia, bom desculpe, mas é muito relevante...

É single party dictatorship versus multiparty democracy em Inglês, sabe?

JE disse...

Conversa fiada ideológica

E está o assunto arrumado

Quem o diz é Jaime Santos, perito nessa mesma conversa fiada. E se o ele diz, na sua conversa fiada ideológica, que a dos outros é que é conversa fiada ideológica,o que resta fazer?

Acreditar na conversa fiada de JS?

A ideológica e a outra?

JE disse...

O rancor que JS tem a quem não segue os mantras das suas grilhetas de estimação.E de quem olha para um mundo multipolar, com a China e Cuba e Vietnam com interesse e agrado.

Uma pena que JS, líder das claques de apoio às submissões e ao curvar da espinha, não seja o líder a quem outros respeitem e adorem.Ele bem tenta.Ele bem incentiva.Ele até papagueia em inglês, como mostra do seu amestramento ideológico oportunista e servil

Há qualquer coisa de sadomasoquista em JS. Não é só pela sua inenarrável repetição do seu hino às grilhetas,sonho húmido de muito canastrão para quem estas constituem o seu alfa e ómega.

Mas esta submissão, este lambe-botismo ( que rima com whataboutism) aos que se arrogam como senhores do universo... Essa adoração pelos seus ditadores de estimação, este seu silêncio cúmplice perante os seus fulgêncio baptista, ou Pu Yi, aquele último imperador chinês que também o foi do estado fantoche japonês de Manchukuo, ou Ngo Dinh Diem, aquele célebre e triste ditador do Vietnam do Sul

Entretanto Macron pugna pelo direito à livre expressão do seu povo. Um mimo.
Que quando se junta ao rancor patético e idiota de JS, pela resposta de outros à pandemia, se converte em pura e manifesta anedota

Eis a que se resume esta hipocrisia neoliberal e fanática.