Um editorial recente no Público terminava assim: “Valha-nos Merkel”. Sugiro que este seja o epitáfio do europeísmo realmente existente neste jornal, o epitáfio da imaginação do centro dominante entre as elites intelectuais e políticas desta e de outras periferias europeias.
Realmente, é requerida muita imaginação pós-nacional para fazer da melhor encarnação política do capital industrial exportador e da banca do centro alemão uma garantia do que quer que seja de decente nas causticadas periferias e para lá delas.
Com a sua intransigência na defesa dos superávites externos alemães e da moeda disfuncional que os garante, Merkel foi o rosto da austeridade europeia que lhes é inerente; um dos principais factores de instabilidade económica internacional, em suma.
Entretanto, é trágico ver o que resta da social-democracia europeia a aplaudir o ordoliberalismo alemão que a destruiu, julgando, contra a evidência mobilizada pela história da economia política, que esta forma de anti-socialismo e de anti-keynesianismo é outra coisa que não uma variação do globalismo neoliberal.
Neste contexto, é também trágico ver o que resta da social-democracia europeia a tentar agarrar-se ao perigoso plástico político que ainda flutua por aí – Macron 2017 = Le Pen 2022. Estou de resto cada vez mais convencido que o laboratório italiano mostra aos dependentes objectivos e subjectivos de Merkron o seu futuro. Afinal de contas, as classes subalternas reconstroem sempre um espaço nacional, graças à esquerda ou apesar dela ou mesmo contra ela.
Mas valha-nos ao menos Merkel por causa de Trump. Repito-me, uma vez mais, contra este liberalismo do medo que só serve para tolher amplos sectores intelectuais ditos progressistas:
Na verdade, a UE nunca será um contraponto a Trump, porque sempre cresceu à sombra do poder imperial norte-americano e assim espera continuar. No quadro da acomodação, de resto já em curso, com a nova administração, quanto muito haverá um perigoso reforço do militarismo europeu, com maior investimento nas forças armadas em países como a Alemanha. Trump espera assim aligeirar o fardo financeiro dos EUA com a NATO.
E acrescento: não se esqueçam finalmente dos efeitos políticos internacionais contraproducentes dos superávites alemães, alimentado a economia política (inter)nacional de Trump.
Sim, o valha-nos Merkel é mesmo um bom epitáfio.
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29 comentários:
As 'causticadas periferias' emigram livremente para o centro.
As causticadas periferias’ recebem ajudas vultuosas do centro.
O que as periferias sempre recusam é o ordo, o antigo bom senso da ordem e da prudência, que os tempos são da inovação de velhas soluções de desordem e risco de endividamento e saque.
Sinto-me constrangido ao indicar um link em italiano porque sei que não é própriamente acessível à grande maioria. No entanto pela sua importância, talvez valha a pena o esforço porque ao retomar um texto do "German Foreign Policy" esclarece a posição alemã e os seus interesses para lá da retórica dos discursos oficiais.
Aqui fica, para quem lhe puder meter o dente:
http://vocidallestero.it/2018/11/21/german-foreign-policy-i-nemici-interni-della-ue/
Como prémio de consolação para os que não lêm italiano, um texto em inglês de Tom LUONGO via Zeroedge:
"Take Heed Italy, Brussels Doesn’t Care One Whit About You"
https://www.strategic-culture.org/news/2018/11/22/take-heed-italy-brussels-doesnt-care-one-whit-about-you.html
Tiragostos:
"Salvini is doing exactly what he needs to do to shore up support and push the Italian electorate away from Brussels. It was a stroke of political genius to submit a budget which placated both halves of the coalition – tax and regulation cuts along with universal basic income – while ever so gently flaunting EU budget rules."
"Salvini está a fazer exatamente o que é preciso para reforçar o apoio e afastar o eleitorado italiano de Bruxelas. Foi um golpe de gênio político apresentar um orçamento que aplacou as duas metades da coligação - impostos e cortes de taxas e regulamentos, juntamente com rendimento básico incondicional - e ao mesmo tempo faralhar tão suavemente as regras orçamentais da UE. "
" So this whole thing is nothing more than Kabuki theatre. And Salvini knows it.
He understands that the euro is a death trap for Italy. He also knows he has all the leverage because of the size of the debt pile."
"Então tudo isso não passa de teatro Kabuki. E Salvini sabe disso.
Ele entende que o euro é uma armadilha mortal para a Itália. Ele também sabe que tem toda a força por causa do tamanho da pilha de dívida (italiana) ".
S.T.
Relacionados com o "perigoso plástico político" ou "contentor semiafundado, verdadeiro perigo para a navegação" chamado Macron, também temos por dignos de nota dois textos de Jacques Sapir no Les Crises:
O primeiro sobre os "coletes amarelos" os "cheira-mal do diesel".
"Les Gilets Jaunes et la colère des masses populaires, par Jacques Sapir"
https://www.les-crises.fr/russeurope-en-exil-les-gilets-jaunes-et-la-colere-des-masses-populaires-par-jacques-sapir/
O segundo, sobre o livro da Coralie Delaume "Le Couple Franco-Allemand n'existe pas":
https://www.les-crises.fr/russeurope-en-exil-coralie-delaume-et-lavenir-des-relations-franco-allemandes-par-jacques-sapir/
"Le « modèle » allemand n’a jamais existé"
"Car, c’est bien là où git le problème. Il y a une utilisation particulière de l’Allemagne, une Allemagne fantasmée, à l’histoire réécrite, que décrit fort bien Coralie Delaume dans son premier chapitre. Les divers dirigeants réactionnaires de notre pays, Sarkozy, Hollande te Macron, se servent de cette réécriture de l’histoire économique allemande pour construire ensuite un « modèle allemand », au nom duquel ils cherchent à terroriser les français. Cet usage politique à des fins internes d’un modèle largement mythifié s’est, avec le temps, transformé en une soumission aux projets géopolitiques de l’Allemagne."
"O modelo alemão" nunca existiu"
"Porque é aí que está o problema. Há um uso particular da Alemanha, uma Alemanha fantasiada, com uma história reescrita, que Coralie Delaume descreve muito bem no seu primeiro capítulo. Os vários líderes reacionários do nosso país, Sarkozy, Hollande e Macron, usam essa reescrita da história económica alemã para construir um "modelo alemão", em nome do qual procuram aterrorizar os franceses. Esse uso político interno de um modelo amplamente mitológico, ao longo do tempo, transformou-se numa submissão aos projetos geopolíticos da Alemanha. "
S.T.
Um dos entretenimentos mais populares entre os políticos e a enorme coorte de analistas políticos é a desconstrução do discurso político.
Procura-se o ocultos em tudo o que é dito ou suposto, numa tal teia de significados que quase dá saudades da simplicidade marxista de reduzir tudo a relações de produção ou de classe.
Trump é uma excepção quase tranquilizadora, e não me surpreenderia que isso lhe dê um segundo mandato.
Não se deve vender a pele do urso (ou ursa) entes de o (a) caçar.
Embora enfraquecida Merkel ainda dá cartas mesmo que já seja um cadáver político adiado.
A sua sombra pesa de forma determinante na escolha do(a) seu(sua) sucessor(a).
Só daqui por alguns anos a opinião pública da Alemanha e da EU se vai aperceber de quão ruinosa a gestão de Merkel foi.
No entanto é já muito claro para qualquer alminha com dois dedos de testa e conhecimentos mínimos de teoria económica que o povo alemão vai pagar com língua de palmo esta gestão oportunistica da Sra Merkel. Cortar os investimentos em infraestruturas, educação e investigação desviando recursos para oferecer reduções de impostos destinados ao complexo bancário-exportador alemão vai ter consequências dramáticas na prosperidade futura da Alemanha.
E nós sabemos como o complexo bancário-exportador alemão é completamente irresponsável nas suas apostas de casino. Basta recordar as declarações de Timothy Geithner sobre como era voz corrente em Wall Street antes de 2008 que "os estúpidos banqueiros alemães" compravam toda a m_rda de produtos financeiros derivados que lhe pusessem na frente.
Por isso os prejuízos da banca alemã em 2008 foram descomunais. Ainda agora o DB anda a reduzir a sua pilha de derivados que era equivalente a 80 PIBs anuais alemães.
E basta dar uma vista de olhos à cotação das acções do DB que batem mínimos históricos para se perceber que ainda não acabou. Portanto os investimentos da casta bancário-exportadora alemã têm sido ruinosos. E quem lhe tem posto o dinheiro nas mãos tem sido Frau Merkel, em detrimento de muito necessários investimentos estruturantes na economia alemã e do bem-estar dos assalariados alemães.
O legado de Frau Merkel será igual ao de todos os neoliberais: Miséria para a arraia-miúda, pilhagem dos recursos do estado e concentração da riqueza nas mãos de jogadores de casino compulsivos.
S.T.
Falta o link, pois então!
Parece que só 20% da rede ferroviária de alta velocidade alemã está operacional. Razão: Falta de investimentos, de manutenção e de pessoal. Dá para acreditar?
https://www.dw.com/en/deutsche-bahn-delays-on-time-arrival-goal-amid-lack-of-investment/a-46402528
Divirtam-se!
S.T.
Quanto ao "perigoso plástico político", tenta assobiar para o lado à espera que a contestação dos "coletes amarelos" abrande.
Entretanto...
Até os deputados da maioria não sabem o que responder ao aperceberem-se da amplitude do movimento de contestação.
https://www.francetvinfo.fr/economie/transports/gilets-jaunes/je-suis-totalement-desemparee-les-deputes-lrem-deboussoles-face-au-mouvement-des-gilets-jaunes_3043629.html
Coralie Delaume tuita:
"L'argent magique, curieusement, on en trouve toujours pour financer le CICE ou le manque à gagner lié à la suppression de l'ISF."
(ISF é o imposto sobre fortunas)
https://twitter.com/CoralieDelaume/status/1065932598583672837
Neste artigo do Le Figaro Coralie Delaume fala-nos da "secessão das elites" em relação ao povo, fenómeno subjacente ao dos "coletes amarelos" e que o explica.
http://www.lefigaro.fr/vox/societe/2018/04/20/31003-20180420ARTFIG00185-la-secession-des-elites-ou-comment-la-democratie-est-en-train-d-etre-abolie-par-coralie-delaume.php?fbclid=IwAR0qOGtj0yuv6QeWRXRyxBfY9x0ZzFXvSzI1fI0USsJEKhbh9Bu9vycnYyY
"...nous faisons face à l'«autonomisation d'une partie des catégories les plus favorisées, qui se sentent de moins en moins liées par un destin commun au reste de la collectivité nationale». On voit en effet combien le phénomène est lié au dépérissement du cadre national, dépérissement qui permet aux «élites» de vivre de plus en plus dans une sorte d'alter-monde en suspension, cependant que les autres sont rivés à un ici-bas qui commence à se changer en friche, et finira par se muer en jungle."
"... estamos a enfrentar a autonomização de algumas das categorias mais favorecidas, que se sentem cada vez menos vinculadas por um destino comum ao resto da comunidade nacional. "De fato, vemos o quanto o fenómeno está ligado ao declínio do quadro nacional, um declínio que permite que as "elites" vivam cada vez mais numa espécie de mundo alternativo em suspensão, enquanto os outros estão retidas num "aqui em baixo" que começa a se transformar em terra inculta, e acabará por se transformar numa selva ".
"D'une manière générale, la construction européenne est un formidable outil de déresponsabilisation des «élites» nationales, notamment des élites politiques. Celles-ci, toutes ointes qu'elles sont de la légitimité offerte par le suffrage universel, n'en assument pas pour autant les vraies charges. La capacité à faire les grands choix a été massivement transférée au niveau supranational, qui lui ne rend pas de comptes."
"Em geral, a construção da EU é uma ferramenta formidável para a desresponsabilização das "elites" nacionais, especialmente as elites políticas. Estas, como se sentem ungidas pela legitimidade oferecida pelo sufrágio universal, não assumem no entanto os respectivos ónus. A capacidade de fazer grandes escolhas foi esmagadoramente transferida para o nível supranacional, que disso não presta contas".
S.T.
É, as classes subalternas reconstroem sempre um espaço nacional, deve ter sido por isso que a URSS interveio na RDA, na Hungria e na Checoslováquia, então os 'internacionalistas' gravitavam em torno do Comintern, não é João Rodrigues?
Não há pachorra para a hipocrisia de quem no Passado combateu sempre a social-democracia e vem agora chorar lágrimas de crocodilo pela sua agonia e reclamar-se de um certo nacionalismo progressista que não medrou em lado nenhum. Isto porque se transformou depressa em despotismo. Nada que espante, afinal pagava normalmente tributo a Moscovo, o que mais seria de esperar?
Mas fica a pergunta. Por que é que afinal, as Esquerdas anti-liberais não aproveitam em nada esse declínio da social-democracia? Os programas de desenvolvimento nacional estão aí, mas os votos não aparecem... O único Partido Europeu que parece ter chegado ao Poder pela Esquerda foi o Syriza, mas foi rapidamente engolido pelo juggernaut de Bruxelas, desde logo porque de facto não tinha programa alternativo fora do Euro (nem ninguém tem, note-se bem, aparte uns quantos slogans).
Corbyn quer, quando muito, nacionalizar as utilities, plano para o qual não tem um chavo. Isso e o facto de prometer ao eleitorado aquilo que não pode em termos do Brexit, enquanto cultiva a ambiguidade de quem espera que o Poder lhe caia ao colo.
Vai acabar por fazer o Labour servir de idiota útil à pior das Direitas desde Thatcher, pelo menos. Irá repetir o feito de Michael Foot, presume-se...
E, se olharmos apenas para o que aconteceu mais recentemente na Venezuela, convenhamos, tais programas não se recomendam de todo.
A Esquerda da Esquerda quer que troquemos a cólera pela peste. A continuarmos assim, acabaremos todos sob o tacão de nacionais-populistas de Direita que irão, claro está, implementar uma cleptocracia capitalista que fará o sistema existente parecer um piquenique.
Então o João Rodrigues poderá talvez gritar 'eu bem vos avisei' (se o deixarem). Não, não avisou porque aquilo que propõe é tão repelente como aquilo que é apenas a sua imagem no espelho, mesmo se com outros protagonistas...
Gostava de levar à vossa consideração algumas reflexões que têm por base um artigo publicado no zeroedge e que contráriamente ao meu hábito não darei o link. LOL
Já vão perceber porquê. É que o artigo vale tanto por algumas constatações em linha com o que eu e alguns dos autores deste blog têm transmitido como pelo facto de o autor estar ligado a um conhecido instituto ordo-liberal.
E essas constatações são, para sermos sucintos, de que o euro favorece descaradamente os exportadores alemães que se escondem atrás de uma moeda subavaliada para eles e sobreavaliada para os países da periferia da EMU/zonaeuro. É a "batota cambial" de que se queixa Trump e de que Portugal é também um dos principais lesados. Nada disto é novidade para quem tem seguido os posts do LdB e alguns dos meus comentários e links.
A "novidade", se assim se pode chamar, é a sugestão de que a restrição do euro a um núcleo duro constituido pela Alemanha, França e a Holanda permitiria aplacar a ira trumpiana e preservar o "sound money", o que quer que isso seja na mitologia ordo-liberal.
Ora, tal proposta revela que até nos circulos mais fundamentalistas ordoliberais reina o pavor das iras trumpianas e a consciência de que o euro é um instrumento monetário de esbulho das economias periféricas. E esta é a constatação mais importante: Os arautos do europeísmo ordoliberal não são parvos e sabem muito bem a destruição que tentam impôr aos países do sul, querem é fazer de nós parvos, se os deixarmos.
Acessóriamente reconhecem a fragilidade de economias baseadas na exportação face a uma crise nos países "clientes", mas isso já nós sabíamos e já disso tínhamos falado há dias.
Em suma, apesar de vários erros de raciocínio de palmatória, o artigo, de que nem menciono o título, revela que a escumalha ordoliberal sabe muito bem a m_rda que anda a fazer e que "josés", "pimenteis" e quejandos devem ser tratados como aquilo que são, agentes de desinformação e de descarada falsidade económica e política.
Apenas mais uma curta nota para dizer que este núcleo duro Ge-Fr-Ne não tem homogeneidade suficiente e a França seria canibalizada em semelhante arranjo. As suas classes populares seriam completamente cilindradas e, pela amostra que os "coletes amarelos" nos têm dado, não suportarão as tentativas de repressão salarial e de nível de vida que Macron, que não por acaso tentou homenagear Pétain, lhes tenta impôr.
S.T.
Aqui os "esquerdalhos da casa" entre uma humanista como Merkel e um déspota como Salvini, não hesitam? Oh meus amigos, saibamos valorizar os valores humanistas que a esquerda sempre defendeu!
Este gráfico apresenta o Salário Mínimo Nacional mensal a preços constantes (IPC), desde 1974 até 2016. De salientar que o índice que aqui se usa para calcular o Salário Mínimo a preços constantes, ou seja, descontando a inflação, tratando-se assim do poder de compra real desses assalariados, não se trata do índice que mede o PIB, mas o Índice de Preços no Consumidor (IPC) que considera os serviços, produtos e bens de consumo que a grande maioria dessas pessoas utiliza e consome. A seguir à revolução de Abril e com a introdução de um salário mínimo, considerado por muitos, demasiado elevado para a capacidade económica e industrial do país de então, denota-se que houve um acerto desse valor, levado a cabo pela desvalorização cambial, imposta pelo FMI das duas vezes que esteve em Portugal por essa altura. O que é mais interessante de observar, é que na terceira intervenção do FMI em 2011, não só o decréscimo do valor real do salário mínimo foi residual, como foi muito inferior ao das intervenções precedentes. O valor que o salário mínimo real tem em 2017 (€535, acerto IPC, base 2011), é 26 porcento superior ao valor real que tinha em 2002 (€424, acerto IPC, base 2011), data da entrada na moeda única; já o salário mínimo real em 2002 (€424), data da entrada na moeda única, é 21 porcento inferior ao valor real que tinha em 1975 (€535, IPC, base 2011). E qual a diferença entre estes dois períodos? A divisa!
Sempre que foi necessário fazer equilíbrio das contas externas ou das contas públicas, que o país, quer por opção própria, quer por imposição dos credores, usou o mecanismo monetário para desvalorizar a moeda, tornando assim a nossa economia mais competitiva para com o exterior, melhorando por conseguinte os indicadores da indústria e do patronato exportadores. Não esquecer que a soberania monetária é um excelente estabilizador automático para fazer recuperar a competitividade de uma economia. Mas esses ganhos de competitividade foram sempre alcançados com a desvalorização cambial e com a consequente perda de poder de compra da classe média e das classes menos favorecidas, em relação ao exterior. Eu não nego que a soberania monetária não traga vantagens económicas ao potencial de crescimento. Todavia fico perplexo com alguns economistas, pois àquilo que denominam de "instrumentos para regular a balança de pagamentos", chama-se de facto empobrecimento externo. São eufemismos políticos, tais e quais os mesmos, que Pedro Passos Coelho utilizava, quando denominava de "políticas de ajustamento orçamental", o corte de salários e de pensões. E ao contrário do que referem muitos, não se trata apenas de automóveis provindos da Alemanha, vai de coisas tão banais como telemóveis, máquinas de barbear, autocarros, comboios, aviões da TAP, equipamento médico, medicamentos dos hospitais, lâmpadas, frigoríficos, máquinas de lavar roupa e toda uma série de produtos e serviços que hoje consideramos banais para nos providenciar qualidade de vida. Há outros produtos que diria que são mesmo essenciais, como equipamento médico ou medicamentos. Obviamente que todos estes produtos não nos são dados, precisamos de exportar produtos nossos, para os poder adquirir, e diria que precisamos de exportar milhares de rolhas e de litros de vinho, para poder importar um único Mercedes. Todavia há outro mecanismo para evitar a importação de automóveis e combustíveis, que perfazem 1/4 das nossas importações de bens, mecanismo esses muito usado em países como Holanda ou Dinamarca, sendo que esse mecanismo é também um excelente estabilizador automático. Esse mecanismo é a fiscalidade.
Reparemos em acréscimo, que o grande capital já tem os seus ativos financeiros no estrangeiro, numa moeda que lhe confere confiança e previsibilidade. E mesmo os ativos financeiros que tem em Portugal, perante uma redenominação da divisa, poderia transferi-los imediatamente para outros países que não saíssem do Euro, tal como fez o grande capital grego durante a crise das dívidas soberanas. Ademais, o grande capital, após uma transição para o Escudo, e depois de ter os seus euros assegurados no estrangeiro, o que faria certamente, seria após a desvalorização do Escudo, voltar a reconverter os euros em escudos, lucrando assim de forma especulativa como nunca antes visto com as flutuações cambiais. Não esquecer ainda que a moeda única findou na Eurozona com uma certa classe de parasitas financeiros, fenómeno que hoje deixámos de dar valor, neste caso, os cambistas. Os cambistas são aquele grupo de indivíduos, que sem propriamente produzirem nada de tangível, lucram apenas com a conversão das divisas. Sair do Euro, seria novamente voltar a dar de ganhar a essa classe de parasitas, dentro da Eurozona, tal como a afamada Western Union, que ganha milhões anualmente apenas nas taxas de conversão das moedas.
É evidente que a riqueza ou pobreza das nações não reside nas cotações das dividas, que são uma consequência, mas sim na capacidade de produzir mercadorias e serviços que sejam atrativas para outros países. Ou seja, ninguém fica mais rico ou mais pobre apenas por mudar de métrica, neste caso, a divisa que mensura a referida riqueza. Se no cômputo geral a riqueza do país não se altera em função da divisa, tal já não é verdade com referência à sua distribuição. Não nos podemos esquecer, que os assalariados, classe média e pensionistas têm um determinado valor de rendimentos fixos e previsíveis, quer do estado sob diversas formas, quer do patronato; assim como ativos financeiros nos bancos como por exemplo poupanças, que estão cotados em euros. Converter para uma moeda que desvalorizaria de imediato, significaria o empobrecimento da classe média e proletária em relação ao exterior, em benefício do patronato que exporta e das contas públicas. De facto, sair do Euro e mudar para um Escudo que deprecie, significa uma transferência de riqueza da classe média para o patronato, em nome de contas externas equilibradas e da competitividade da nossa economia nos mercados internacionais. Conclui-se que os dados da inflação, do valor do salário mínimo nacional e da distribuição da riqueza entre o grande capital e os assalariados, não deixam quaisquer dúvidas. Se juntarmos a estes factos que o grande capital tem os seus ativos financeiros no estrangeiro, o princípio axiomático que qualquer pessoa de esquerda não pode jamais olvidar é muito simples: sair do Euro, para uma moeda que desvalorize, significaria obrigatoriamente uma transferência de riqueza da classe média para o grande capital.
Oh ST, venha o link, venha, venha, mesmo que nem sequer saiba fazer um "link"! Eu explico camarada ST. Você coloca uma tag HTML <a> e fecha-a com </a>
Pelo meio coloca a referência href="o link vem aqui" e o texto em apreço.
Veja por exemplo caro camarada ST este exemplo. Quando coloca este código aqui nas caixas de comentário
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=8ZRWW79Mypc"> O melhor vídeo do Youtube dedicado ao camarada ST </a>
É assim que é processado
O melhor vídeo do Youtube dedicado ao camarada ST
Eu julgava que eles ensinavam estas coisas nas novas oportunidades.
Agora como anónimo o pimentel destila as suas patacoadas como se alguém ainda acreditasse nelas. LOL
Parece que acertei em cheio no ninho das vespas. Excelente! Muito me divirto aqui no LdB.
E já ganhei honras (imerecidas) de camarada. Boa!
Nada de novo no argumentário cretino de pimentel. Só desinformação e economia faralhada.
Ninguém com um mínimo de conhecimentos de economia já compra semelhante mistela.
Quase todos os argumentos estafados que foram desmontados repetidamente. Nada de novo, portanto.
E dão trabalho a gente desta numa trollfarm europeísta? LOL
O que dói ao pimentel são os links para artigos e trabalhos de economistas reputados e credenciados. É que é muita gente, e dos bons!
S.T.
Quanto ao "humanismo" de frau Merkel, vistos os estragos que tem feito no bem-estar e sustentabilidade económica futura do seu próprio povo, só escamoteados por uma classe jornalistica comprada e servil, a história se encarregará de a classificar entre as maiores fraudes políticas do século XXI.
Pelo menos Salvini defende com unhas e dentes a prosperidade futura e a liberdade de escolha do seu povo. É tão simples quanto isso.
S.T.
«... este liberalismo do medo que só serve para tolher amplos sectores intelectuais ditos progressistas»
Se não os tolhessem, quanto progresso não veríamos a par do crescimento da dívida!
Qual crescimento da dívida, José?
Aquele que os compadres Gaspar e Coelho conseguiram realizar com a fraude da austeridade expansionista? :)
S.T.
E os links camarada ST? Estou à espera daquele link que demonstra que Merkel é a responsável pela tragédia em Borba.
O ST já disse ao que vinha, e não merece mais consideração que um qualquer fascista troll de Internet. Entre a humanista Merkel, que acolheu na maior economia da Europa um milhão de pessoas que fugiam da miséria e da guerra e aceitou as respetivas consequências políticas para a sua carreira e partido; e o demagogo populista Salvini que trata os refugiados como gado, o camarada ST prefere Salvini. Logo, o ST não passa de um facínora e de um fascista, assim como um nacionalista xenófobo mascarado de soberanista.
E o resto é retórica de pacotilha, mascarada de sapiência!
"Quase todos os argumentos estafados que foram desmontados repetidamente"
E já agora, ninguém desmontou nada (dizer ad nauseum que desmontou não conta), porque os dados apresentados fazem referência a factos e não a opiniões.
O valor que o salário mínimo real tem em 2017 (€535, acerto IPC, base 2011), é 26 porcento superior ao valor real que tinha em 2002 (€424, acerto IPC, base 2011), data da entrada na moeda única; já o salário mínimo real em 2002 (€424), data da entrada na moeda única, é 21 porcento inferior ao valor real que tinha em 1975 (€535, IPC, base 2011). E qual a diferença entre estes dois períodos? A divisa!
O ST além de xenófobo (preferir Salivini a Merkel revela muito sobre a sua raça) é eurofóbico. E olhe que normalmente as fobias dançam em conjunto. Aposto ainda que é misógino e homofóbico.
Para o amigo ST:
Os efeitos do mal amado Euro na competitividade das insdustrias Tugas do vestuário e calçado:
"Vendas por trabalhador crescem MAIS de 50% em 10 anos. No calçado, cada funcionário faz mais 550 pares do que em 1994"
...
“Desde 2009, a faturação por trabalhador Aumentou 50%”, sublinha Braz Costa, diretor-geral do Citeve — Centro Tecnológico da Indústria Têxtil e do Vestuário, quando refere o salto dos 36.558 euros (2009) para os 54.744 euros em 2017."
...
"Visto de outro forma, neste período de nove anos, o número de trabalhadores da fileira caiu 6,5%, mas o seu volume de negócios Aumentou 40% e as exportações Cresceram 50%, para um valor recorde de 5,053 mil milhões de euros (...)
(...) estes números assentam em dois pilares: há mais valor/hora porque há inovação, design, serviço para vender em cada peça, e há, também, mais produtividade física induzida pela tecnologia, modernização de equipamento e ambiente organizacional das empresas."
"Na verdade, este caminho começou a desenhar-se mais atrás, na viragem da década, com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio, quando a fileira foi assombrada pela deslocalização de investimentos e encomendas, falências, desemprego, e teve de reagir com eficiência e criação de valor.
Se em 2017 a ITV lusa empregava 137 mil pessoas e faturava 7,5 mil milhões de euros, isto significa que conseguiu recuperar valores de vendas e exportações com METADE dos trabalhadores do início da década, para se apresentar ao mundo como “um case study”, pela sua capacidade de resistência e adaptação."
....
"Na indústria do calçado, a história conta-se da mesma forma, mas com outros números. Aqui, “mais do que a China, a sombra que pesava sobre nós e nos fez agir foi a ameaça da concorrência dos países do Leste, onde sabíamos haver mão de obra qualificada e barata. A competição só podia ser feita por via da excelência e do valor acrescentado"
....
"Em 1994, o sector empregava 59 mil pessoas, produzia 109 milhões de pares de sapatos e registava um volume de negócios de €1,6 mil milhões.
Em 2017, a força de trabalho está 40% abaixo, os pares produzidos caíram mais de 20%, mas a faturação aumentou 25%, e o preço médio por par de sapatos na exportação triplicou, para atingir os 26,54 dólares (€23,07 ao câmbio atual), o segundo valor mais alto do mundo, atrás de Itália.
O número de pares por trabalhador cresceu 30% ou 550 pares, para os 2400 (...)
De: O expresso: "Como os têxteis e o calçado vendem mais com menos"
Como diria um brazuca: Unabomber, mi isplica porque é que o êxito do sector do calçado não se estendeu ao conjunto da economia portuguesa?
Quanto ao crescimento do salário mínimo, o seu relacionamento com a moeda é claramente abusivo porque não existem mecanismos de transmissão que o expliquem.
Como todos sabem o valor do salário mínimo é determinado pela vontade política que em farsa de negociação de concertação social lhe vê aposto o carimbo. E mesmo que tal negociação fosse "livre", os seus resultados seriam determinados pelas relações de poder entre patronato e sindicatos que está muito longe de depender da moeda.
Consultem antes a percentagem do valor do trabalho no PIB que é muito mais interessante.
S.T.
Ora mostra lá ST dentre a colecção de links aquele que mostra quanta dívida escondida foi posta à luz do dia por acção da troika no tempo do Gaspar e Coelho.
Junta-lhe os défices que sempre eram escassos para o gosto da esquerdalhada.
Quanto dá?
Quanto à falsa escolha entre Merkel e Salvini só faço uma pergunta:
Preferem "humanista" que os roube e escravize ou "nacionalista" que os liberte?
E quem ainda não tiver percebido que muitas das vascas que Salvini faz são espectáculo para a galeria e cortina de fumo, é demasiado ingénuo para apreciar as subtilezas da política internacional.
E quanto ao "humanismo" de Merkel, que não é mais do que uma manobra para conseguir mão de obra barata para alimentar as fábricas alemãs, tem recebido alguns "facadas" e "machadadas" por vezes demasiado literais.
E ainda por cima sai-lhe o cão cadela. Os "muito qualificados sírios" afinal mal sabem ler e escrever. É só azares, ou não fora a migração dos "refugiados" sírios uma bem montada operação de embuste.
https://voiceofeurope.com/2018/11/refugees-disastrous-for-german-welfare-state-as-almost-50-are-illiterate/
S.T.
O Cuco tem andado desaparecido, mas deixou-nos o S.T. - das transcrições passa-se aos links mas a ideologia não se altera.
Disse o ST:
"Como diria um brazuca: Unabomber, mi isplica porque é que o êxito do sector do calçado não se estendeu ao conjunto da economia portuguesa?"
ò amigo ST não foi só o calçado e os texteis que tiveram exito:
- Peso das Exportações no PIB:
"De 27% do PIB em 2009, passámos para 45% do PIB em 2017.
Um aumento de 18 pontos percentuais (p.p.) do PIB, ou seja, em oito anos, um aumento de quase 70%.
Em volume, passámos de cerca de 56 mil M€ de exportações do PIB em 2009 para cerca de 85 mil M€ em 2017. Um crescimento em volume de 50%".
....
"As exportações de bens aumentaram de 39 mil M€ para 55 mil M€, ou seja, mais 40%. Passaram de 22% para 28% do PIB."
....
Unabomber,
Tudo isso foi uma extraordinária acção governativa da geringonça no apoio à iniciativa privada, e isso apesar dos males da austeridade do PPC e o ST vai já apresentar uns links que demonstram que se não fosse o euro a coisa tinha ido para o dobro!
A falácia de unabomber é apresentar apenas um dos pratos da balança. Se considerar também as exportações a cantiga já é outra.
Onde estão os enoooormes excedentes da balança de transacções correntes?
E pelos antecedentes unabomber não merece mais explicações. Sabe perfeitamente que o que apresenta é só uma forma de (tentar) intrujar o pagode.
S.T.
As importações não merecem explicação?
Não há um link que demonstre o efeito do devolver o rendimento às pessoas?
Não há notícias sobre o entusiasmo pelo investimento?
Cantiga tão promissora...que decepção!
O dilema das importações que crescem quando os salários e o poder de compra sobem é sobejamente conhecido. Como é sobejamente conhecido entre quem se interessa minimamente por estas questões, no contexto de protectorado económico em que vivemos é um exercício de equilíbrio em que Centeno pelo menos foi muito melhor do que Gaspar/MLAlbuquerque.
Ver este meu comentário de 27 de novembro de 2018 às 15:00:
https://www.blogger.com/comment.g?blogID=4018985866499281301&postID=6746454523560779953
Blogger S.T. disse...
A questão dos preços agrícolas ilustra bem o efeito de uma moeda sobreavaliada na economia real.
A curto prazo é excelente. As mercadorias importadas são super-baratas, o consumo dispara e anda toda a gente satisfeita.
Enfim, toda a gente não, porque os produtores nacionais vêm as suas margens esmagadas se quiserem vender, vão à falência ou deixam simplesmente de produzir. Em todo o caso ninguém no seu perfeito juízo vai investir. Para quê, se depois não se consegue ter preços competitivos?
É por isso que uma moeda sobreavaliada é uma maldição para um país. Destrói todo o sistema produtivo e os consumidores que a princípio ficaram todos satisfeitinhos da silva vêem-se desempregados e incapazes de consumir.
É o que se chama serrar o ramo da árvore no qual se está sentado.
S.T.
Por isso insisto: O mecanismo de controle que comanda o binómio consumo/investimento é a taxa de câmbio implícita ou REAL. E é por isso que a liberdade e soberania monetária seria tão preciosa para Portugal e para a prosperidade dos portugueses.
Querer "consumir barato" produtos importados demonstra curteza de vistas e é insustentável a longo prazo.
S.T.
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