quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A economia como ela é


«Continuamos a ouvir, do PSD e do CDS, a ideia de que este Orçamento de Estado - apesar de "alimentar clientelas" - não tem medidas para as empresas e para a competitividade económica. Este é um debate muito mais importante do que parece. O que o PSD e o CDS nos têm para apresentar sistematicamente, como grande medida para as nossas empresas, é a redução do IRC. Continuam sem perceber que por mais que baixássemos os impostos, que tívessemos a torneira do crédito aberta, as melhores máquinas, os melhores pavilhões, se não tivermos um povo com capacidade para consumir, as empresas não vendem, não florescem, e a economia também não.
Como é que podem falar em competitividade económica quando acham que a política económica é aumentar impostos e cortar rendimentos? Quando aumentam impostos e cortam rendimentos, o que fazem é degradar a atividade económica e impossibilitar as empresas de vender produtos e de crescer.
E portanto quando nós governamos com o povo português, para o povo português, para os trabalhadores portugueses e para as famílias portuguesas; quando aumentamos as pensões em trinta euros, quando aumentamos o Abono de Família, quando aumentamos o salário mínimo nacional de 505 para 600€, quando eliminamos a sobretaxa, quando repomos o que foi cortado nos salários da Administração Pública, o que estamos a fazer não é a governar para nenhuma "clientela", é governar para todos os portugueses e, já agora, com ganho para as nossas empresas. Essa separação é uma separação falsa. De quem não percebe o que determina as decisões de produção e de investimento das nossas empresas. E era importante que percebessem, porque gostam de falar em nome dos empresários mas não sabem o que é que os faz vender, o que é que os faz investir. Não se pode separar empresários e empresas do resto do povo português.»

Da intervenção de Pedro Nuno Santos no encerramento do Debate na Especialidade do OE de 2019.

16 comentários:

Geringonço disse...

Diz um socialista "nós governamos com o povo português, para o povo português, para os trabalhadores portugueses e para as famílias portuguesas"

A sério?

"Muitos trabalhadores não qualificados para poucos trabalhos de baixas qualificações"

"Portugal é o segundo país da União Europeia com o rácio mais elevado entre trabalhadores e lugares que exigem baixas qualificações."

"O economista João Cerejeira, professor da Universidade do Minho, lembra que o setor do turismo permitiu a ocupação de grande parte desta população"

https://www.dn.pt/edicao-do-dia/29-nov-2018/interior/muitos-trabalhadores-nao-qualificados-para-poucos-trabalhos-de-baixas-qualificacoes-10250762.html


O PS e Costa não governam para o povo português, para os trabalhadores portugueses, para as famílias portuguesas, o PS e Costa governam para isto:

"António Costa trocava Governo pela União Europeia"

https://www.rtp.pt/noticias/politica/antonio-costa-trocava-governo-pela-uniao-europeia_a1113920

Jose disse...

Falam em dar à economia como se não fosse da economia que retiram tudo que dão!

Tudo que fazem é endividarem-se ou redistribuir. E o superior critério de sustentar clientelas está sempre activo.

Anónimo disse...

Excelente intervenção de Pedro Nuno Santos.

José Cruz disse...

O actual primeiro-ministro já foi apelidado de tudo e mais alguma coisa,desde que deixou a presidência da Câmara Municipal de Lisboa,ganhou as directas no PS e teve a votação necessária para que pudesse apresentar ao país a situação de governo que está em vigor.Desde mentiroso,refinado e compulsivo,a desapiedado e indiferente,sem empatia ou distante,toda a panóplia de epítetos dos habituais deserdados da direita, que por aqui vagueiam,com a tarefa diária,histérica e estéril de tentar preparar o terreno para o regresso de um "iluminado",seja a recondução triunfante de um Pedro Passos Coelho ,seja a cruzada de um qualquer "capo" a capitanear as hostes imbuídas da salvítica missão da salvação da pátria.Tudo isto,para replicar ao comentador que assina como geringonço,que a apressada associação de António Costa a uma possível intenção de assumir uma posição e cargo na UE ê mais um caso,agudo,de delirium tremens com que a direita e os seus correligionários nos querem brindar.
Não sendo apoiante,nem votante do partido de António Costa,estou à vontade para adiantar que o único projecto,a única teforma,as derradeiras medidas que a direita (não me refiro,apenas,ao PSD e ao CDS/PP),mas a toda uma direita social,arrogante e mesquinha,é a do favorecimento fiscal das empresas e dos empresários, até à quinta geração, a contenção dos custos com as prestações sociais e,quando possível,a sua total regressão e a assumpção dos custos e prejuízos da acção empresarial privada ,pelo Estado.
Se a juventude e a novidade podem caracterizar a "geringonça",são velhas e requentadas as ideias que movem alguns "geringonços".

Geringonço disse...

Jose, podes mostrar alguma coisa que tenhas feito na vida que possa ser considerado de produtivo?

Ou será que vives com o dinheiro dos outros?

Anónimo disse...

A maior carga fiscal dos últimos 20 anos para os piores serviços públicos de sempre.

Dar 10 , para tirar 50.

vitor disse...

Deve ser preciso um curso de economia para perceber que o maior cancro da economia portuguesa são mesmo os salários baixos. Porque as economias que mais crescem são sempre aquelas onde nunca há dinheiro para nada. Mais ou menos como a falácia de analisar os níveis da produtividade só tendo em atenção a qualificação dos trabalhadores. Variáveis como o investimento nunca são chamadas para analisar a produtividade em Portugal.

Anónimo disse...

Se não existisse PSD e CDS, queria ver o PS a fazer o ajustamento desde 2011. Era cómico.

Anónimo disse...

Enquanto não acabarem com a corrupção ( que não é do interesse de ninguém que esteja sentado no parlamento ), enquanto não retirarem todos os boys das administrações públicas sem excepção e se construir um País que tenha como base a meritocracia/ responsabilização/ independência, este País não vai a lado nenhum.

O País está entregue a gente que se quer governar a si próprio e a mais um bando de abutres que têm ao seu lado . E esta gente ainda tem a lata de achar que estão a falar para atrasados mentais.

Vejamos a abstenção e os votos em branco no próximo ano eleitoral.

Geringonço disse...

Jose Magalhães, demonstrei o nojo que sinto por Passos Coelho e Pafs não poucas vezes, mas não pense que faço fretes a Costa e ao PS, aliás, não faço fretes a qualquer partido...

Jose Magalhães, tem alguma coisa a dizer sobre a precariedade que o PS não combate? Ou sobre o facto de Costa estar disponível em sacrificar a população portuguesa e prol do projecto europeísta?

Anónimo disse...

Acho que a perspetiva de Pedro Nuno Santos assenta num grande equívoco de base: nada garante que um aumento de consumo interno seja dirigido para a produção das empresas portuguesas. Pelo contrário, se esse aumento de consumo ocorrer e as empresas portuguesas enfrentarem custos acrescidos (face à concorrência externa) então o mais natural será que os produtos disponibilizados através de importação sejam mais baratos, logo mais consumidos, agravando o défice externo. Já para não falar de produtos (como os combustíveis) que nem sequer é possível produzir em Portugal.
O que não significa que não haja razões válidas (eu acho que há) para o Estado aumentar as suas prestações sociais, procurando assim combater a desigualdade. Mas aumentar o rendimento disponível para aumentar o consumo interno e assim "dar ganhos" às empresas portuguesas não me parece ser adequado.
Reparemos. Portugal tem um potencial de 10 milhões de clientes. Só na Europa não 500 milhões (acho). O que tem mais impacto para um empresa portuguesa? O aumento de rendimento disponível dos Portugueses (10M de clientes) ou uma baixa nos custos de produção que lhe permitam concorrer num mercado de 500M de clientes (incluindo os portugueses)? Já para não falar do resto do mundo.

Manuel Galvão disse...

Ó anónimo 17H15, pela sua lógica devíamos, isso sim, baixai o salário mínimo!
Assim aumentávamos a produtividade aumentando as exportação.

No limite, tudo correria pelo melhor se fossemos um país de escravos, salário zero.

O senhor nunca ouviu falar de automatismos, robots, inteligência artificial na produção.

Nunca ouviu falar em aumentar a produtividade investindo em novas tecnologias...

Se calhar nós estamos nesta cepa-torta porque os empresários (incluindo bancos) não têm visão moderna e não arriscam modernizar suas empresas. Só sabem pedinchar salários baixos...

José Cruz disse...

Com algum atraso,pelo que peço a compreensão,já que a passagem pela "pista"nem sempre é regular,entendo apresentar a minha posição acerca das questões que levanta o comentador geringonço.A precariedade do trabalho,que é uma chaga,laboral e social,como os casos de todos conhecidos,até na proximidade,como é o caso dos trabalhadores portuários de Setúbal, entre muitos outros é,antes do mais,a aplicação prática da primeira precarização que foi aprovada e promulgada pelos diplomas 53/2011, de 14 de outubro, 23/2012, de 25 de junho, 47/2012, de 29 de agosto, 69/2013, de 30 de agosto, e 27/2014, de 8 de maio,que constituiram e ainda constituem a limitação dos Acordos Colectivos de Trabalho e a sua efectiva precarização. Perguntar-me-á,porque é que o governo do PS,não subverteu esta situação, com a revogação destas leis?A resposta é complexa e,do meu ponto de vista,resulta da ausência de especialização e pulverização das empresas,que praticam técnicas abusivas de gestão que são negligenciadas pelo governo,que se demite de uma açção fiscalizadora e interventiva,que devia combater.No entanto,seria interessante para a análise desta questão, saber quantos dos trezentos mil empregos criados,segundo números apresentados por Costa,foram criados em todo o sector público e destes qual a percentagem daqueles que foram contratos sem termo.
Quanto à questão da dependência de António Costa do projecto europeísta parece não existirem dúvidas quanto a esta opção, que é do governo e do PS.O que falta apurar e, aí é que está a enorme falha de todo os intérpretes do sistema político português é a posição do povo português quanto a esta questão, nunca devidamente auscultada por referendo directo nesta matéria mas,convenhamos, que por esta falha não tem Costa a principal responsabilidade.

Anónimo disse...

O post (e o comentário) não era sobre salários baixos. Era sobre se o estímulo ao consumo é ou não uma medida (também) dirigida às empresas. Concentre-se.

S.T. disse...

A discussão acerca da devolução de rendimentos e da criação de procura interna já foi feita noutros posts aqui no LdB.

Básicamente o problema é que numa economia aberta se os salários aumentam e a oferta de produtos interna não é competitiva traduz-se em deficits da balança de transacções por via de aumento das importações.

Isso leva-me a pensar num quadro mais geral que, por efeito da abolição dos controles de transito de mercadorias a "classe dos capitalistas" fica numa situação paradoxal:

"Os capitalistas" sabem que ganhariam mais numa economia com mais procura e que teriam a ganhar até mais com a expansão do poder de compra dos "plebs", mas sabem que que numa economia aberta a procura que criem localmente se transfere para o nível global indo enriquecer "os capitalistas" de outros países. Por isso o jogo é asfixiar a procura local e tentar sacar a procura dos outros. Segundo estas regras do jogo ganham "os capitalistas" que conseguirem fechar mais a torneira no seu país e aproveitarem a procura que outros criem.

Por isso eu vejo esta situação como um jogo de incentivos perversos de que só se sai alterando as regras do jogo. A resposta de Trump a este jogo é o proteccionismo, controlando não só o transito de mercadorias como as transferências de mão de obra. Os chamados "liberais" apostam na abertura porque são os que estão melhor posicionados para tirar partido dos diferenciais de preços entre as diferentes economias. E isto tanto dos diferenciais de preços de mercadorias como até de mão de obra.

Farto-me de rir com os ingénuos que pensam que a motivação de Merkel ou de outros advogados da abertura de fronteiras é "humanista". Óbviamente tais pessoas não percebem que as motivações subjacentes são meramente económicas e isso quer dizer que não aprenderam a lição de que numa sociedade capitalista tudo pode ser encarado como tendo uma etiqueta de preço.

Aquilo que pode contrabalançar esta comodificação de tudo (e este tudo inclui pessoas) é a política, com que podem ser definidos os limites do que pode ter um preço e do que não pode.

S.T.

S.T. disse...

Pode-se estabelecer um paralelo entre a biologia e a economia. Se ligarmos todos os ecossistemas do planeta só sobreviverão as espécies globalmente mais aptas e versáteis, mas perder-se-á a biodiversidade.

Um rato é um animal extremamente eficiente e versátil. Tão versátil e eficiente que se fôr deixado em liberdade num ecossistema que durante milhares de anos esteve protegido de ratos pode levar à extinção os Kiwis (animais) neozelandeses. Os "kiwis" (neste caso os habitantes da Nova Zelândia) têm que escolher entre exterminar os ratos ou deixar perecer a biodiversidade da sua terra.

Os supostos ganhos da globalização provêm de "espécies invasoras" que entram em ecossistemas económicos que préviamente funcionavam em equilíbrios locais. Não é por acaso que os produtos da globalização são tão indiferênciados culturalmente.

Esta analogia deve levar-nos a pensar o que é que queremos trocar e com quem. E sobretudo por quem e como é que isso é decidido. Por isso a política se deve sobrepôr à economia nessa escolhas mas sem ignorar os fundamentos dessa mesma economia.

Neste contexto os países são ecossistemas que fornecem uma relativa protecção e criam no seu seio equilíbrios locais mas adaptados às condições em que evoluíram. Destrui-los conduziria a um darwinismo que seria globalmente catastrófico.

Esta é uma perspectiva organicista mas que fornece uma outra maneira de pensar a economia e a política.

S.T.