No post da semana passada, procurei demonstrar que a redução brutal do número de docentes no ensino básico e secundário não encontra justificação no proclamado «factor demográfico» (que traduziria o impacto da quebra da natalidade na diminuição do número de alunos), nem num suposto aumento de «eficiência» na gestão dos recursos humanos da educação (dado que a proporção entre alunos e professores evoluiu negativamente em todos os níveis de ensino entre 2010/11 e 2012/13).
De facto, em matéria de «eficiência», a comparação da proporção entre alunos e docentes no período considerado permite-nos confirmar as consequências práticas das decisões da tutela relativamente ao aumento do número de alunos por turma nos diferentes níveis de ensino. Isto é, caso se tratasse efectivamente da obtenção de «maior eficiência», a diminuição do contingente de professores não implicaria um agravamento dessa mesma relação.
Tentemos pois apurar quanto há de «demográfico» na diminuição do número de professores verificada entre 2010/11 e 2012/13 e quanto há de «ofensiva ideológica» à Escola Pública, pela via da diminuição deliberada dos recursos humanos da educação (tendo em vista, para lá da efectivação dos cortes no Estado Social, criar um exército de mão-de-obra desempregada, em condições de ser cooptada, a baixo custo, pelos estabelecimentos do ensino particular e cooperativo).
Assim, face aos constrangimentos de natureza estatística, que inviabilizam cálculos mais específicos (isto é, por ano de escolaridade), assumamos que uma redução do número de professores estritamente associada às quebras da natalidade se traduziria na manutenção dos índices de proporcionalidade entre docentes e alunos registados em 2010/11, nos diferentes níveis de ensino.
Se assim fosse, concluímos facilmente que não teria sido necessário «dispensar» cerca de 2.600 professores no 1º ciclo do ensino básico (mas apenas cerca de 1.500) e 7.000 no 2º ciclo do ensino básico (mas apenas 1.400). E em relação ao 3º ciclo do ensino básico e do ensino secundário, não só não teria sido necessário «dispensar» nenhum professor como a manutenção da proporcionalidade entre professores e alunos obrigaria a contratar cerca de 2.300 novos docentes. O que significa que, globalmente, a estrita aplicação do «factor demográfico» representaria uma redução de cerca de 630 professores e não dos 23.000 que foram efectivamente «dispensados» ao longo deste período.
O despedimento massivo de docentes do ensino básico e secundário explica-se portanto, como demostra o gráfico, fundamentalmente por razões de natureza ideológica, que actuam sob o manto protector da troika e do Memorando de Entendimento assinado em Maio de 2011 (com os seus considerandos sobre «racionalização» de meios e aumento da «eficiência»). E sublinhe-se, igualmente, que não estamos a incluir na análise a devastação ao nível da Educação e Formação de Adultos (que teve o Programa «Novas Oportunidades» como alvo de estimação), nem a considerar a desejável redução do número de alunos por turma, entendendo-a como elemento central no desafio de recuperação do atraso estrutural português, em matéria de educação e qualificações escolares.
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14 comentários:
A este contingente se acrescentará um outro , a breve trecho.
A municipalização , com a possibilidade do currículo ser alterado em 25% pelas autarquias , fora outras contas em que se assume logo que há professores a mais, 1/3 dos docentes poderá ficar sem emprego sendo em parte substituídos por contratados pelos municípios.
Quanto a mim, aqui, aposta-se na morte de dois coelhos de uma cajadada. Por um lado, diminui-se ou elimina-se o número de professores do quadro no topo da carreira e , por outro, as CM contratam novos com salários miseráveis e contrato precário. Genial ...
MJoão
«redução do número de alunos por turma, entendendo-a como elemento central no desafio de recuperação do atraso estrutural português, em matéria de educação e qualificações escolares»
Central na ideologia dos 'coitadinhos' que não veêm outro meio de a indisciplina e a não selectividade serem diminuídas nos seus efeitos senão pela redução percentual dos seus agentes e represetantes.
Por seu lado os professores são óbviamente padrões de cultura e profissionalismo.
Em conclusão, só a despesa garante o reconhecimento do esforço, tudo o mais acaba por ofender algum direito dos 'coitadinhos'.
Sem polémicas temos que ser capazes de apontar caminhos para que a qualidade do ensino melhore. Tinhamos essa mole de gente que agora foi dispensada portanto a falta de professores não colhia. Sempre defendi o caminho que o B.Gates dá na sua palestra no TED(formação pelo exemplo). E ainda não foi implementada a via profissional- modelo alemão que vai implicar uma redução de 40% da necessidade de professores. Isto se queremos fazer as coisas bem.
A propósito do problema demográfico:
- Promover a Monoparentalidade - sem 'beliscar' a Parentalidade Tradicional (e vice-versa) - é EVOLUÇÃO NATURAL DAS SOCIEDADES TRADICIONALMENTE MONOGÂMICAS.
Anexo:
Monoparentalidade em Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas
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- Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas apenas os machos mais fortes é que possuem filhos.
- No entanto, para conseguirem sobreviver, muitas sociedades tiveram necessidade de mobilizar/motivar os machos mais fracos no sentido de eles se interessarem/lutarem pela preservação da sua Identidade!... De facto, analisando o Tabú-Sexo (nas Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas) chegamos à conclusão de que o verdadeiro objectivo do Tabú-Sexo era proceder à integração social dos machos sexualmente mais fracos; Ver blog « http://tabusexo.blogspot.com/ ».
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Concluindo:
- Nas Sociedades Tradicionalmente Poligâmicas é natural que sejam apenas os machos mais fortes a terem filhos; no entanto, todavia, as Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas têm de assumir a sua História: não podem continuar a tratar os machos sexualmente mais fracos como sendo o caixote do lixo da sociedade!... Assim sendo, nestas sociedades, deve ser possibilitada a existência de barrigas de aluguer para que os machos (de boa saúde) rejeitados pelas fêmeas, possam ter filhos!
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P.S.
Existem muitos homens sem filhos ['por isto ou por aquilo' não agradam ás mulheres; adiante] que devidamente motivados/acompanhados... poderiam ser óptimos pais solteiros!!!
A ausência de tal motivação/acompanhamento não só é uma MÁ GESTÃO DOS RECURSOS HUMANOS da sociedade... como também, uma INJUSTIÇA HISTÓRICA que está grassando nas Sociedades Tradicionalmente Monogâmicas.
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É errado estar a dizer «a Europa precisa de crianças, não de homossexuais»... isto é, ou seja... a Europa precisa de pessoas (homossexuais e heterossexuais) com disponibilidade para criar crianças!
É UMA MUDANÇA ESTRUTURAL HISTÓRICA DA SOCIEDADE: os homens poderão vir a ter filhos... sem repressão dos Direitos das mulheres; leia-se: o acesso a barrigas de aluguer.
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Obs: Quando se fala em Direitos das crianças... há que ver o seguinte: muitas crianças (de boa saúde) hão-de querer ter a oportunidade de vir a ser pais... oportunidade essa que lhes é negada pela 'via normal'.
F.Rui.A.R.
Caro António Cristóvão,
Comentário certeiro.
Mas gostava também de acrescentar que não somos um país rico, seria natural termos mais alunos por professor. Se é essa realidade, os professores deviam ter espirito de sacrifício á semelhança da grande maioria dos outros trabalhadores, e fazer o seu melhor nas circunstancias que temos.
No entanto assistimos a "trinta por uma linha" por parte destes profissionais, que teimam contra toda e qualquer logica, constituir-se como um grupo privilegiado que pretende ter condições de pais rico.
cumps
Rui Silva
Mais uma vez não pode passar.
Não pode passar o extremismo fundamentalista do sr jose mais a sua "ideologia dos coitadinhos".
Veja-se como de uma assentada jose mistifica conceitos e mistura as coisas: a indisciplina e a não selectividade ( a selecção sempre foi uma coisa que desperta pavlovinianamente os reflexos dos darwinistas sociais)juntas e de mãos dadas
E como tenta justificar o maior empenho dos recursos do estado noutras áreas tidas por mais fundamentais que esta da "recuperaão do atraso estrutural portuguÊs em matéria de educação e qualificações escolares".
Como por exemplo na "tortura"?
Sejamos frontais .Perante o escândalo inqualificável de torturas efectuadas pelos EUA, jose taxativamente escreveu istoà laia de justificação de actos repugnantes:
"Mas para qualquer filho da puta capz de atrirar um avião para cima da minha casa, tanto se me dá que em nome de Alá ou en nome do Demo, acho pouco."
Aí está um filão que atrai a justificação do despesismo para este jose?
De
Não somos um país rico?
O sr rui silva ( espero que já tenha lido os livrs recomendados) deve estar equivocado
Vejamos,como é possível não sermos um país rico? O arco da governação promove PPP e swap.E bancos laranja comoo BPN e coisas como o BPP e como o BES. E duplicações do "investimento"em acções ao cavaco e viagens de submarinos gratuitos ao portas
Não somos um país rico?
Mas como se os benefícios fiscais atribuídos em 2013 atingiram os 1 678 milhões, mais 63% do que em 2012 sonegango o governo a informação respeitante a quem?
Pecrebemos assim que o sacrifício solicitado desta forma pungente e assaz gobvernamentalmente cheire a hipocrisia pura e a discurso bolorento.
Sabemos que os trabalhadores sao sacrificados.
Também sabemos quem são os privilegiados.Exactamente esses que nos governam e se governam
De
A propósito destes desajustados "trinta por uma linha " de alguns profissionais que teimam em constituir-se como grupo privilegiado que pretende esconder os que beneficiam de facto com a presente situação.
O Tribunal de Contas (TdC) diz, hoje,explicitamente, que há encargos adicionais de 2485 milhões de euros "que terão de ser suportados pelo Estado no futuro".
Por conta do BPN
De
Completamente alheios a isto tudo, o(a)s profs preferem esgatanhar-se por causa de vírgulas nas actas e preenchimento de cruzes em planos de faz-de-conta...uma tristeza! (ou de como as tutelas e os governos têm os melhores assalariados/escravos possíveis e imaginários para continuar a sua política de destruição da escola pública...)
Quando a política desce ao nível da conversa de vizinhas:
Ai ele gastou e ela não tem direito ao mesmo? Homessa!
Caro De
Em relação ao livros, ainda não tive tempo...
É algo que tenho que fazer com calma, pois como lhe disse é um assunto que não domino.
Adiante...
Não parta do principio que apenas você é contra os casos do BPN, BES e duma forma geral toda a corrupção. Eu também sou.
Realmente os políticos que nos governam nem é preciso qualifica-los, basta ver o resultado onde chegamos.
No entanto sendo tão maus, como continuam a ganhar eleições e a fazer aquilo que entendem ?
Porque "alimentam" os lóbis.
E em Portugal não se consegue ganhar eleições sem ceder ao lóbi da "Função Pública" e ao "Sector Empresarial do Estado".
Em Portugal cerca de 4,6 milhões de pessoa dependem direta ou indiretamente do estado
cumps
Rui Silva
Por favor argumentos tirados dos tomos dos discursos de passos coelho já não resultam nem funcionam
A corrupção é uma instituição que vive alapada no poder.No poder do bloco central de interesses que nos governa e se tem governado.
Já por bastas vezes se discutiu aqui que a política neoliberal é fonte e garante dessa mesma corrupção.
Como também já por bastas vezes se disse que não é apenas pela corrupção que se deve mandar às urtigas esta sociedade venal, desigual,parasitária e decadente.
Os lóbis sabemos nós quem são.E ao contrário do que a propaganda de certa forma boçal quer fazer passar, não são os funcionários públicos e os do sector empresarial do estado.Veja-se como o discurso do método da camarilha neoliberal utilizou precisamente estes alvos para a sua política sem escrúpulos ao serviço dos interesses privados. Veja-se como durante anos verteram este fel sobre os Funcionários públicos como manobra de diversão e como justificação para os ataques ao mundo do trabalho - público e não público.
Por isso esse "discurso" velho da idade da exploração já não funciona.Caducou.Pifou. Deu o berro.
Apesar das tendências rejuvenescedoras de alguns no seu esforço para.
De
( o que quererá dizer este jose quando fala na política em função da conversa das vizinhas?
Será que ele não aguenta casos concretos e números disponibilizados por fontes oficiais?
E se refugia nas vizinhas e nos homessa, face ao confronto dos axiomas neoliberais com a realidade ?
Os factos e os números são mesmo uma coisa lixada para os oficiantes dos cultos e dos credos) .
De
e qual será o impacte dos agrupamentos?
.
pensei logo no método de Hondt e no efeito das coligações.
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