domingo, 29 de dezembro de 2013

A discussão continua em 2014

A jornalista Ana Sá Lopes, que ainda recentemente colocou a questão, a propósito do livro A Troika, a Crise as Alternativas Urgentes, analisou esta semana no jornal i o guião político para as Europeias de 2014 que o Alexandre Abreu, eu e o Nuno Teles escrevemos recentemente. Entretanto, o resistir.info decidiu simpaticamente disponibilizá-lo aos seus leitores, com sublinhados a vermelho, que é cor, da sua responsabilidade.

Aproveito para recuperar uma entrevista a Jacques Sapir traduzida pelo mesmo sítio: “Se agora olharmos para as possibilidades de renegociar os planos de austeridade que foram impostos pela UE e pelo BCE ao Sul da Europa (porque, no seio da Troika, a UE e o BCE foram os defensores das linhas mais duras, contrariamente ao FMI), vemos que elas são praticamente nulas. Se a Grécia ou Portugal recusarem um plano, os pagamentos europeus cessarão imediatamente. Se nesses países, os dirigentes políticos compreendessem que mais valia sair do Euro do que aceitar esta morte lenta, e se eles dissessem à Troika: 'Encantados! Suspendam os pagamentos e nós saímos do Euro e não pagamos a dívida!', talvez, nesse caso, esses países tivessem qualquer hipótese de renegociar os planos de austeridade. Enquanto não estiverem preparados para o fazer, não têm a mínima hipótese.”

14 comentários:

Alvaro disse...

É difícil ter um governo capaz de ter uma atitude destas.
Primeiro a saįda do Euro não é uma questão nem de direita nem de esquerda, é uma questão de sobrevivência. Infelizmente o termos quase que só políticos de esquerda a criticarem o Euro pode ter um resiltado negativo pois, todos os que não se consideram de esquerda tenderão a apoiar o Euro. Precisamos de um partido forte e à direira.

Alvaro disse...

Ainda sobre a saída do Euro.
A saída será catastrófica, disso não há dúvida pois ninguém nos irá ajudar, uma saída ordenada não é possível.
Mas se uma saída hoje será catastrófica, uma saída para o ano ainda será pior. E dentro de dois anos, pior ainda.
A solução é termos um governo minimamente interessado no futuro do país que tome esta decisão e a acompanhe com um road show pelas capitais da Europa que vire as opiniões públicas contra os seus governos. Quer se queira quer não estamos em guerra e, numa guerra, a melhor defesa é o ataque.

Jaime Santos disse...

È essencial que os riscos que decorrem de uma renegociação da dívida e sobretudo de uma saída do Euro sejam devidamente quantificados. Enquanto vocês não apresentarem um 'Guião para a Recuperação da Soberania Monetária' e se ficarem por princípios gerais, ninguém vai acreditar nisto. Um dos aspectos mais desoladores do debate (que ficou rapidamente esquecido) sobre a saída do Euro que ocorreu há meses na RTP foi precisamente a ausência de estimativas fundadas sobre um eventual programa de saída da Moeda Única... E não vale a pena argumentar com o domínio da comunicação social pela Direita (que, bem entendido, existe)...

Anónimo disse...

Jacques Sapir tem toda a razão. Estou plenamente de acordo. Portugal e não só tem de dizer á UE que isto não pode continuar. A austeridade ( ideia que vem do seculo 17 com Adam Smith e outros)é o contrário de e a negação da democracia. Não é possível coincidir por muito tempo democracia e austeridade. Vejam só o que diz o Conselho da Europa sobre a violação dos direitos humanos levada a cabo por esta politica malfeitora que tem na Alemanha a principal defensora.
Tem de haver um governo que lhes diga que estamos fartos deles ( da UE, do BCE do FMI) e que, ou acabam com as malfeitorias ou saímos do euro e se for preciso da UE e não pagamos.

Alvaro disse...

Uma quantigicação dos custos da saída do Euro parece-me difícil e inutil.
Para já que credibilidade teria esta estimativa? A credibilidade das estimativas sobre o que iría advir para o paįs com a adesão ao Euro?
Eram estimativas muito simpáticas. Só que falharam todas.

antónio m p disse...

Força, Álvaro. Não um, mas muitos partidos de direita! Para compensar a divisão da esquerda.

Creio que o Jaime Santos expressa uma necessidade sentida por quase toda a gente, mas não sei se é possível quantificar isso com algum rigor. De qualquer modo creio que não "se" tem ido suficientemente longe mesmo em termos de argumentação geral.

Talvez fosse útil um estudo sobre alguns países da América Latina na sua relação com o FMI.

Anónimo disse...

@anónimo
Leia melhor adam smith porque ele era contra o mercantilismo

O interesse da segunda ordem, a dos que vivem dos salários, está tão estritamente
relacionado com o interesse da sociedade como o da primeira.” (Conclusão do Livro I, p.199).
“Se os patrões ouvissem a voz da razão e da justiça, muitas vezes fariam melhor ao moderar a
dedicação de muitos dos seus operários em vez de estimulá-la. Poder-se-á verificar, acredito, em
qualquer tipo de comércio, que a pessoa que trabalha com moderação de modo a ser capaz de
trabalhar constantemente não apenas preserva a sua saúde ao máximo mas, ao longo do ano, executa uma maior quantidade de trabalho.” (Os Salários do trabalho, p.69).
“Os salários dos trabalhadores, como foi aqui demonstrado, nunca são tão altos como quando a
procura pelo trabalho está em crescimento, ou quando a quantidade de trabalhadores cresce
anualmente de forma considerável. Quando esta riqueza real da sociedade estagna, os seus
salários são rapidamente reduzidos ao mínimo suficiente para suportar uma família, ou para
continuar a procura de trabalhadores. Quando a sociedade entra em declínio, estes caiem ainda
mais.” “A remuneração liberal do trabalho, portanto, como é o efeito da riqueza crescente,
também é a causa do aumento da população. Queixar-se disso é lamentar a necessária causa e
efeito da prosperidade máxima pública.” (Os Salários do trabalho).

Alvaro disse...

O problema não é haver um ou muitos partidos de direita, o problema é que a saída do Euro não seja um monopólio da esquerda. Se a saída do Euro for um monopólio da esquerda, pior, de alguma esquerds, estaremos condenados ao definamento até uma explosão final, explosão esta que não será de certeza pacífica.

Jaime Santos disse...

Como Reinhardt e Rogoff recentemente argumentaram (e eles são insuspeitos, porque são de Direita), a superação de crises de dívida soberana foi sempre feita utilizando instrumentos de repressão financeira (desvalorização da moeda, inflação, impostos extraordinários). Isso irá muito provavelmente acontecer cedo ou tarde e sobre isso estou de acordo com o que dizem. Mas isso é no campo da teoria económica e não se ganham eleições só a debitar grandes princípios (olhem para Manuela Ferreira Leite). O povo português não foi consultado sobre a entrada para o Euro, mas deverá sê-lo sobre uma eventual saída. Nenhuma maioria de Esquerda poderá ser constituída para abandonar o Euro sem o apoio massivo da classe média. Ora, essa classe, em que me incluo, dispõe de poupanças sobre a forma de depósitos bancários, ou certificados do tesouro, aforro, etc. Para que eu possa apoiar uma tal medida, e estou disposto a fazê-lo, gostaria ao menos de saber com quanto é que vou ter que arcar em custos. Não chega dizerem-me que o facto de existir uma desvalorização da moeda afeta todos, baixando o custo do trabalho, pelo que o dinheiro não sofre necessariamente a desvalorização nominal que deriva da desvalorização da nova moeda. E quais os riscos de inflação descontrolada? Não foi essa inflação (em 1924/1925) que guindou Hitler ao poder, e sim as políticas de austeridade de Brunning nos primeiros anos da década de 30, mas a hiperinflação criou uma casta de gente arruinada preparada para lançar as culpas da sua situação nos suspeitos do costume (judeus, social-democratas, etc). E também não chega dizerem que a política atual de supressão de salários, sobretudo na função pública, está a reduzir rendimentos futuros, porque as pessoas olham de forma diferente para rendimentos já adquiridos e para aqueles que ainda não obtiveram. Se não querem arriscar dar à Direita (que consegue sempre surpreender pelo Reacionarismo) uma Maioria Constitucional que poderia fazer regredir tudo o que foi conquistado nos últimos 40 anos, e não apenas os Direitos Sociais (estou a lembrar-me do que se passa aqui ao lado em Espanha), têm que fazer tudo ao contrário de Passos Coelho: explicar com todo o pormenor os Sacrifícios que teremos que fazer para recuperarmos a nossa Independência (desses não nos livramos, dê para o lado que der). São capazes de ficar surpreendidos com a adesão das pessoas. Mas fazer isto implica uma nova forma de fazer política, onde a capacidade técnica seja pelo menos tão importante como a ideologia (porque de ideologia disfarçada de tecnocracia estamos nós fartos)...

Alvaro disse...

Acho muito difícil fazer um referendo sobre a saída do Euro. Logo que tal referendo fosse anunciado os bancos ficavam vazios.
Um governo eleito tem de considerar as opções para o futuro. Isto é, seguir o optimismo do Sr. Não Sei Quê, o indiano do FMI na Troika e dizer que esta politica vai ser a nossa nos próximos 15 anos e admitir que antes disso o país com uma população activa reduzida a metade ou menos da actual pela emigração e pela quebra da natalidade deixa de ser viável. Ou deverá sentir-se mandatado para tomar outras atitudes?
A tal classe média pode preocupar-se com as suas poupanças mas deve lembrar-se de que a principal, a casa em que moram, torna-se invendável e deixa de ter valor.
E o problema está aqui, mesmo que a economia global recupere um pouco, o que é pouco provável, as pessoas de uma forma geral não recuperarão, antes pelo contrário.
Um governo responsável pelo país de nenhumam forma poderá concordar e acomodar-se ao fim do país.

Anónimo disse...

E no entanto continuam a aderir países ao Euro!

Alvaro disse...

Anónimo escreveu:

"E no entanto continuam a aderir países ao Euro!"

Pois é, é o caso da Letónia, metida à força no Euro contra a vontade, segundo as sondagens, de 60% da população, isto é, da população que resta pois com a adesão à UE a Letónia entrou em crise e mais de 20% da população emigrou nos últimos anos.
Na Letónia o Parlamento recusou fazer um referendo sobre o Euro com o argumento de que à dez anos, quando a Letónia aderiu à UE já tinha sido feito um referendo.
A Letónia é mais um dos países da UE em que a palavra "democracia" perdeu significado, tal como nos está a acontecer.

Jaime Santos disse...

Não, Álvaro, acho que o difícil é sair do Euro sem fazer um Referendo. Se um partido ganhar as eleições com um programa de Governo que inclua a saída do Euro, os Bancos esvaziam no dia seguinte, antes desse Governo entrar em funções (por isso é que houve muitos eleitores do PASOK a votarem na Nova Democracia contra o Syriza nas últimas eleições gregas, e o Syriza só queria renegociar o Programa de Resgaste). Um Governo já em funções com um Programa que inclua um Referendo tem alguma margem de manobra para tomar medidas que evitem uma fuga de capitais em massa. Mas a única maneira de evitar qualquer fuga de capitais seria abandonar o Euro à socapa e isso seria impensável em Democracia... Quanto à atitude da classe média, ela será como a do sapo dentro da panela com água que lentamente aquece. As pessoas vão-se habituando a uma degradação lenta das suas condições de vida, mas experimente tirar-lhes de repente metade daquilo que têm no Banco (por via de um abandono da Moeda Única e de uma desvalorização à argentina). Esqueça. Isto não vai lá com Leninismos... Deixe isso para o Passos Coelho... As pessoas precisam mesmo de ser convencidas que o melhor é sairmos da Moeda Única... Até por isso o melhor é mesmo ir pela via referendatária...

Alvaro disse...

Por mim continuo a achar muito complicado sair do Euro sem ser de surpresa.
Mas isso não quer dizer que o governo deve tomar uma medida antidemocrática.
Como entramos para o Euro sem referendo, o Governo podia tirar Portugal do Euro de surpresa pois tratava-se só de repor a situação anterior e, em seguida marcar um referendo para a adesăo ao Euro.