terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Leitura obrigatória


O impasse em que nos encontramos, descrito por um dos políticos franceses que mais cedo percebeu o drama do euro:

A Alemanha aparece como a garantia, de última instância, de um sistema – a moeda única – que ela aceitou em 1989-1991 sem, no fundo, o ter verdadeiramente desejado: se dependesse dela, o calendário da moeda única teria sido adiado indefinidamente. Na verdade, ela tinha fixado as regras dessa moeda única, as suas, mas a aceitação de um calendário para a sua entrada em vigor – 1997 ou, o mais tardar, 1999 – foi o preço que teve de pagar em 1990 pela sua reunificação. Os franceses estão mal colocados para dela se queixarem.
[…]
Ulrich Beck [A Europa Alemã] escreve que "a impossibilidade de controlar as coisas foi intencionalmente criada e pretendida no plano político". Com efeito, tal era a "aposta Pascaliana" de François Mitterrand, aceite por Helmut Kohl, sobre um "para além das nações". O fracasso desta aposta era previsível. Ulrich Beck imagina que teria sido possível nessa altura colmatar as deficiências estruturais da moeda única se tivessem sido criadas, em simultâneo, "as instituições cuja vocação teria sido a de supervisionar e coordenar eficazmente a política económica e financeira dos países europeus", em suma, se a Europa se tivesse tornado desde o início uma entidade federal, quer dizer uma nação. Como é evidente, a Europa de 1991 não tinha chegado a esse ponto, apesar dos belos discursos. Há um sinal que não engana: o Tratado de Maastricht proíbe qualquer financiamento do Banco Central Europeu aos Estados (…) e não prevê qualquer solidariedade financeira entre estes. O verdadeiro redactor do tratado, Karl-Otto Pöhl, e o chanceler Kohl, tinham percebido o que vinha aí: entenderam precaver-se desde logo contra a tentação de alguns Estados se comportarem como “passageiros clandestinos”, ou seja, de se endividarem sem limites, obrigando as "assinaturas" mais seguras a assumir o peso das suas dívidas, a começar, com certeza, pela Alemanha.
[…]
 E aqui chegámos: porque a sua assinatura é de longe a mais segura, a Alemanha está hoje em posição de decidir pelos outros todos. No entanto, ela não pode aceitar o encargo das enormes transferências que implicaria uma escolha verdadeiramente federal. Como todos os "federalistas fanáticos", Ulrich Beck não quer ver isto.

(Minha tradução de parte das páginas 248-9)

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