segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Não são tolos estes romanos


“Um debate realizado no dia 7 de Dezembro em Roma, “L’Euro contro l’Europa?” (O Euro contra a Europa?), promovido pelas fundações Nuova Italia e A/Simmetrie, reuniu na antiga bolsa de Roma trezentos ouvintes. Neste debate intervieram os Prof. Alberto Bagnai (Universidade de Percara), Diego Fusaro, filósofo marxista e investigador da Universidade de Milão, Brigitte Granville (Universidade Queen Mary, Londres), e este vosso humilde servo [Jacques Sapir] na parte científica. O antigo presidente da câmara de Roma, Gianni Alemmano, que também foi ministro da agricultura, e Stephano Fassina, responsável pelos estudos económicos do Partido Democrata (partido do centro-esquerda, maioritário no Parlamento), intervieram no debate político.

Alberto Bagnai, pela sua parte, insistiu nas incoerências que marcam a constituição e o funcionamento da zona euro. Esta foi criada, segundo os que a projectaram, para proteger a UE das desordens económicas mundiais. Ora, confrontada com uma desordem (a crise económica e o seu aspecto mais evidente, a crise da dívida soberana) a zona euro tratou imediatamente de destruir o grande mercado que pretendeu criar. De facto, é mesmo à destruição desse mercado a que assistimos através das políticas ditas de “desvalorização interna” cujo resultado imediato é tornar os países que a praticam ainda mais dependentes do mercado exterior à zona euro. Na realidade, podemos considerar que a zona euro, e em termos mais gerais a UE, foram o principal vector da globalização da Europa. Foi em nome do euro que os diversos obstáculos à unificação do mercado monetário mundial foram levantados. Foi graças à zona euro que os bancos europeus puderam disseminar na UE os activos “tóxicos” americanos. Percebe-se o alcance e a profundidade da mentira quando se vê que o peso do euro, como moeda de reserva à escala mundial, na melhor das hipóteses, pouco ultrapassou a percentagem das antigas moedas nesta zona. Acresce que o euro acaba de passar a terceira moeda usada em transacções financeiras, ficando agora o Yuan em segundo lugar. Gianni Alemanno, com base na sua experiência em negociações do comércio internacional, insistiu no facto de a UE não ser, de todo, um factor de resistência à pressão de outros países (EUA, China).
 [...]
 Até na Itália se sente que o debate progrediu rapidamente nos últimos meses. O facto de esta reunião ter sido possível, incluindo participantes à direita e à esquerda, o facto de as posições pró-euro terem ficado relativamente isoladas, são sinais que não enganam. A força crescente da contestação ao euro não é um fenómeno francês, é um fenómeno internacional que é confirmado pelo número crescente de economistas que se juntam ao movimento.”

(Ver aqui a totalidade do relato por Jacques Sapir)

3 comentários:

brancaleone disse...

Aproveito para deixar aqui alguns links
O primeiro tem a ver com este debate "O euro contra a Europa" (tiro o ponto de interrogação porque não é preciso)
A versão inglesa pode ser ouvida eliminando um canal audio.

http://www.youtube.com/watch?v=t1PItR05ePI

Os seguintes são de outro debate organizado pelo EFD no Parlamento Europeu no dia 3 de Deszembro com os economistas italianos Bagnai e Borghi (os que abriram e lideram o debate contra o euro na Italia)

http://www.youtube.com/watch?v=888DTmP4iVY&list=UULmZBODEvhxl_6YdTJY0MVg

http://www.youtube.com/watch?v=fXrFtT7DkeU&list=UULmZBODEvhxl_6YdTJY0MVg

Ricardo disse...

"A União Monetária Europeia constituiu um erro político,uma vez que eliminou a desvalorização apesar da enorme heterogeneidade dos países da zona euro. A saída da moeda única equivaleria à entrada de uma política de delimitação em relação à chamada "globalização".Quem rejeita uma "globalização" que submete o mundo a uma lei de mercado única que força a convergência não pode querer insistir no euro,a moeda que faz isto mesmo à Europa." (Wolfgang Streeck in Tempo Comprado)

Anónimo disse...

Por aquilo que tenho lido, parece-me claro que a saída do euro representa uma das poucas vias de Portugal poder desenvolver-se. Isto porque com este nível de austeridade e consequente retrocesso civilizacional que já nos levou para níveis dos anos 60/70, nunca iremos sair da cepa torta.
Hoje, face á UE do centro, Portugal é um país do 3º mundo.
Não foi para isto que aderimos á UE que se transformou num autêntico pesadelo e não em algo de bom para o país.