O gráfico ao lado apresenta a evolução dos CDS (uma espécie de seguro contra o risco de incumprimento) das obrigações do tesouro de alguns países, no primeiro trimestre do ano. Nele vemos que, de acordo com os mercados, o risco de o Estado português passar a perna aos seus credores aumentou duas vezes e meia em apenas um mês, para logo a seguir se reduzir significativamente.
Tirando o cataclismo madeirense (que para o efeito não conta), não me vem à mente nenhum evento ocorrido no período no país que justifique uma evolução tão dramática. Eis algumas explicações alternativas possíveis:
1) os agentes financeiros internacionais aperceberam-se que o país está num estado que não poderiam imaginar um mês antes; esta é uma explicação que nos levaria a concluir que os mercados financeiros não são lá muito eficientes (tirando um conhecido caso da blogosfera, não consta que haja muitos observadores da situação nacional que tenham alterado o seu diagnóstico em tão curto espaço de tempo);
2) os agentes financeiros estavam convencidos que a UE ia mesmo deixar cair a Grécia, abrindo um precedente sem fim, até que o Conselho Europeu decidiu que salvaria qualquer Estado Membro necessitado; esta é uma explicação que nos leva a ver os agentes financeiros como criaturas muito susceptíveis a qualquer afirmação de qualquer responsável político, mais ou menos desbragado - nem a UE ponderou alguma vez fazer da Grécia uma espécie de Lehman Brothers, nem o acordo alcançado permite sossegar quem se sentisse preocupado quanto à eventualidade de incumprimento do Estado grego;
3) os agentes financeiros aproveitaram a fragilidade da situação grega para iniciarem ataques especulativos às economias menos robustas (como fazem habitualmente em vários pontos do mundo), ou seja, para cobrar um prémio de risco mais elevado por uma situação que objectivamente não tem nada de distinto a não ser a própria dinâmica especulativa gerada pelos agentes financeiros.
Em qualquer um dos casos, não ficamos com ideia que os mercados financeiros sejam muito úteis no que toca a determinar o futuro colectivo das populações de um país, pois não?
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5 comentários:
Claro que nao sao nada uteis.
Por isso mesmo, recomendava que nao utilizasse os mercados de capitais para financiar os devaneios dos sucessivos governos portugueses.
Se eles estao permanentemente enganamos, e para nada servem, e ignora-los e financiar-se em casa, i.e., em Portugal.
De que devaneios está a falar, caro Anónimo? Da assunção pelo Estado português da responsabilidade dos desaires do BPP e do BPN? Ou das garantias dadas a todos os bancos para se financiarem? Ou da sistemática sub-taxação do sistema financeiro? Ou do instrumento primordial de evasão fiscal, que beneficia o sector financeiro internacional, que constitui o offshore da Madeira?
Quem o ler ainda fica convencido que os mercados financeiros fazem um grande favor aos Estados quando lhes empresta dinheiro.
1. "Para a mentira ser segura
e atingir profundidade,
deve trazer à mistura
qualquer coisa de verdade…
(António Aleixo)"
Sem duvida que as flutuações dos CDSs se devem à especulação, no entanto senão houvesse razões para preocupação não havia especulação, se não houvesse sangue na agua não atraiamos tubarões!
Defendo que deve haver position limits para os naked CDS, mas mesmo na situação actual de ausencia de regulação, não se vêm ataques especulativos a serem lançados contra governos em boas condiçoes financeiras!
2. "Se eles estao permanentemente enganamos, e para nada servem, e ignora-los e financiar-se em casa, i.e., em Portugal."
O governo financiar-se em casa? em Portugal? Eh eh eh! Esta é para rebolar a rir! Já pensou porque é que os certificados de aforro representam menos de 1% divida publica? Se houvesse quem esprestasse dinheiro ao estado a esse preço, o estado não ia colocar obrigações no estrangeiro a taxas de juro muito superiores!
Mas se conhecer alguém em Portugal com cerca de 100 biliões de euros para emprestar ao nosso governo a uma taxa baixinha, telefone ao Sr. Teixeira dos Santos, que ainda lhe dão uma medalha.
"Quem o ler ainda fica convencido que os mercados financeiros fazem um grande favor aos Estados quando lhes empresta dinheiro."
Se o estado portugues só fizesse obra com o dinheiro que consegue poupar por si proprio (superavites) ainda estaria para alcatroar a primeira autoestrada portuguesa, ainda estaria por construir o primeiro hospital central, etc.
Os mercados de capitais tem sustentado o estado actual de coisas em Portugal.
O país tem vivido nos últimos 30 anos permanentemente dos emprestimos dos outros, sejam da UE, seja dos mercados de capitais.
Agora que estes se comecam a preocupar com o eventual retorno do seu dinheiro, já nao prestam, nao sao racionais, sao viveiro de "especuladores".
Este tipo de argumentacao é contra os mercados, hedge funds, CDSs, é ridicula e hipocrita.
Se nao gostam, tentem pedir emprestado em Portugal, aos Portugueses, os 25 Mil Milhoes que o IGCP precisa para este ano.
Anónimo, os especuladores não se começam a preocupar "agora". O seu raciocínio deixa implícita a ideia de que, havendo investidores altruístas e outros egoístas, todos estão interessados em investimentos a longo prazo - logo, desinteressados da especulação. Não é isso que sucede: a especulação é um jogo de curto prazo, com rendibilidade elevadíssima e risco diminuto para o seu prossecutor. Quando o entendemos como "especulador", é alguém que aposta contra o cumprimento da dívida soberana e aposta a favor da diminuição da qualidade de vida dos seres humanos reais que constituem a economia. Isto é, se achar que as finanças têm ligação à economia; acho que a crise de 2007-? fala por si.
Ainda outra coisa: deixa implícita a ideia de que os Estados dependem dos mercados de capitais. Gostava de saber o que esses ditos "mercados" fariam sem transacções de dívida soberana. Parece-me que os Estados sobreviveriam melhor.
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