Frank Levy e Peter Temin são economistas norte-americanos do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Escreveram recentemente um excelente artigo que os neoliberais e os deterministas de todos os partidos deveriam ler. O seu objectivo é explicar o contraste, para os EUA, entre o período de «prosperidade partilhada», iniciada com as políticas do New Deal, e que vai da 2ªGM até aos anos setenta e o período que vai do final dos anos oitenta até à actualidade. Este último é marcado por um assinalável desfasamento entre o crescimento da produtividade e o crescimento dos salários e por um brutal aumento das desigualdades, com a percentagem do rendimento captado pelos 1% que estão no topo a passar de 8,2% em 1970 para 17,4% em 2005. Tudo isto é conhecido. A explicação para este fenómeno é que é mais controversa. E é aqui que este estudo é muito útil porque vem dar peso à perspectiva institucionalista, até há pouco defendida apenas por um punhado de economistas políticos mais ou menos radicais: «argumentamos que a distribuição de rendimentos em cada um dos períodos foi fortemente moldada por um conjunto de instituições económicas. Os anos do pós-guerra foram dominados pelos sindicatos, um quadro negocial (. . .), impostos progressivos e um salário mínimo elevado - tudo parte de um esforço governamental para distribuir os ganhos do crescimento. Os anos mais recentes foram marcados por reversões em todas estas dimensões, num padrão que ficou conhecido por Consenso de Washington». Ou por neoliberalismo.
Isto melhora: os autores argumentam convincentemente que as explicações convencionais para o aumento das desigualdades - globalização ou o progresso tecnológico que criou um enviesamento nas qualificações requeridas - só funcionam se se levar em linha de conta as modificações institucionais acima referidas. É também interessante a análise comparativa em termos de eficiência das duas soluções: estilhaçam-se muitos preconceitos ainda em voga entre os economistas. O aumento das desigualdades é assim produto de «mudanças na política económica» com impactos nos arranjos prevalecentes. Não há inevitabilidades dizem os autores. Muito depende da luta social. Afinal de contas, a economia não é uma máquina, mas sim um conjunto de relações sociais potencialmente contestadas. Sempre assim foi e sempre assim será.
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