quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Salário mínimo: para terminar com os argumentos de autoridade

A absurda declaração da JP sobre o salário mínimo já mereceu bons comentários, entre outros, de Daniel Oliveira, Pedro Sales e Vital Moreira. A direita intransigente, por sua vez, decidiu invocar poderosos argumentos de autoridade: «O salário mínimo deve ser um dos assuntos em que a discrepância da opinião popular e o conhecimento dos economistas mais se evidencia» diz um; a proposta da JP está suportada por «sólidos fundamentos teóricos» diz outro. A direita intransigente tem obviamente todo o direito de procurar ser o intelectual colectivo dos sectores mais retrógrados do patronato português, mas os seus «argumentos» roçam a ignorância e a desonestidade intelectual quando invocam o apoio «científico» dos economistas para as suas cruzadas. Este é um assunto que divide a «comunidade» e que, mesmo dentro da teoria económica dominante, é altamente disputado. Por exemplo, os prémios Nobel Kenneth Arrow, Lawrence Klein, Paul Samuelson, Robert Solow e Joseph Stiglitz, juntaram-se, em 2006, a mais de 650 economistas académicos na defesa de um aumento do desvalorizado salário mínimo norte-americano, considerando que seria um bom instrumento de combate à pobreza e à desigualdade e que poderia contribuir para reequilibrar as relações laborais. Depois temos, entre outros, o famoso estudo empírico de David Card e Alan Krueger mostrando que o salário mínimo não provoca necessariamente desemprego. E quanto aos fundamentos teóricos, basta conhecer os modelos teóricos do paradigma da informação assimétrica para ter muitas dúvidas sobre as conclusões simplistas do modelo de concorrência perfeita que trata o trabalho humano como se este fosse uma mercadoria homogénea. E depois há cada vez mais economistas convencionais, como Stiglitz, que modelizam as relações laborais como relações em que existem assimetrias de poder e em que os ganhos de produtividade não se traduzem necessariamente em correspondentes aumentos salariais. Basta conhecer um pouco de história económica para saber que é assim. Chega portanto de argumentos de autoridade económica. Este gráfico (para os EUA) diz tudo sobre como o «mercado» assegura a convergência automática entre o crescimento da produvidade e o crescimento dos salários. Enfim, a direita intransigente continua viciada em convenientes ficções mercantis.



Adenda: Entretanto, Bz do insurgente tem um comentário à minha posta que merece ser lido. O seu argumento em nada modifica a realidade da discrepância entre o crescimento dos salários e o crescimento da produtividade nos EUA, nos últimos 30 anos. Como mostra o artigo de onde o gráfico foi retirado, o crescimento da produtividade ultrapassou em 50% o crescimento do salário real mais outros benefícios auferidos pelos trabalhadores (por exemplo, com prémios de seguro de saúde). O meu ponto mantém-se portanto. Bz não apresenta nenhum argumento que justifique esta divergência (como poderia ser de outra forma?). O seu argumento sobre o facto destes trabalhadores beneficiarem da globalização (produtos mais baratos) é totalmente arbitrário já que estamos a falar de crescimento de salários reais (a inflação ou deflação já estão incorporadas). Os outros pontos de Bz só são válidos se conseguir demonstrar que o crescimento dos salários acompanhou a produtividade nos outros sectores. Basta olhar para o seu novo gráfico para ver que o problema liberal se mantém (análises mais finas que revelassem o crescimento do leque salarial só o acentuariam). E depois existe a interessante questão da segmentação do mercado de trabalho (implícita no seu argumento) à qual voltarei. Quanto ao resto, como sabe Bz que os restantes 19350 economistas da AEA ou que os outros prémios Nobel vivos são contra o salário mínimo? Conhece algum inquérito?


7 comentários:

BrainstormZ disse...

Caro João Rodrigues,

Publiquei comentário ao seu post n'O Insurgente.

Cumprimentos
BZ

Anónimo disse...

Muito bom post do brainstormz, será que o Sr. Rodrigues antes de chamar "nomes" aos outros não lê o que posta? Como não pensou na evolução laboral por sectores? Como pode ser tão desonesto intelectual? Colocar uns gráficos e mandar uns bitates não o enchem de razão..Percebo que o DO, que não percebe muito do assunto, se apresse a fazer um copy/paste (atenção que não estou com isto a dizer que você percebe do assunto..), mas você antes de elaborar uma resposta cheia de links e “teorias” devia ter perdido alguma tempo a pensar em certas variáveis que mudaram de tal maneira que só podemos dizer que o seu “estudo” é um logro/engano...

Anónimo disse...

Tuesday, August 29, 2006

How are wages and productivity related?

Motivated by an article in yesterday's NY Times, a reader asks me to clarify the linkage between real wages and productivity as a matter of economic theory. Here is the basic logic taught in economics textbooks:

Economic theory says that the wage a worker earns, measured in units of output, equals the amount of output the worker can produce. Otherwise, competitive firms would have an incentive to alter the number of workers they hire, and these adjustments would bring wages and productivity in line. If the wage were below productivity, firms would find it profitable to hire more workers. This would put upward pressure on wages and, because of diminishing returns, downward pressure on productivity. Conversely, if the wage were above productivity, firms would find it profitable to shed labor, putting downward pressure on wages and upward pressure on productivity. The equilibrium requires the wage of a worker equaling what that worker can produce.

Why don’t real wages and productivity always line up in the data? There are a several reasons:

1. The relevant measure of wages is total compensation, which includes cash wages and fringe benefits. Some data includes only cash wages. In an era when fringe benefits such as pensions and health care are significant parts of the compensation package, one should not expect cash wages to line up with productivity.

2. The price index is important. Productivity is calculated from output data. From the standpoint of testing basic theory, the right deflator to use to calculate real wages is the price deflator for output. Sometimes, however, real wages are deflated using a consumption deflator, rather than an output deflator. To see why this matters, suppose (hypothetically) the price of an imported good such as oil were to rise significantly. A consumption price index would rise relative to an output price index. Real wages computed with a consumption price index would fall compared with productivity. But this does not disprove the theory: It just means the wrong price index has been used in evaluating the theory.

3. There is heterogeneity among workers. Productivity is most easily calculated for the average worker in the economy: total output divided by total hours worked. Not every type of worker, however, will experience the same productivity change as the average. Average productivity is best compared with average real wages. If you see average productivity compared with median wages or with the wages of only production workers, you should be concerned that the comparison is, from the standpoint of economic theory, the wrong one.

4. Labor is, of course, not the only input into production. Capital is the other major input. According to theory, the right measure of productivity for determining real wages is the marginal product of labor--the amount of output an incremental worker would produce, holding constant the amount of capital. With the standard Cobb-Douglas production function, marginal productivity (dY/dL) is proportional to average productivity (Y/L), which is what we can measure in the data. (See Chapter 3 of my intermediate macro text for a discussion of the Cobb-Douglas production function.) Keep in mind, however, that the Cobb-Douglas assumption of constant factor shares is not perfect. In recent years, labor’s share in income has fallen off a bit. (Between 2000 and 2005, employee compensation as a percentage of gross domestic income fell from 58.2 to 56.8 percent.) From the Cobb-Douglas perspective, this means that the marginal productivity of labor has fallen relative to average productivity. This modest drop in labor’s share is not well understood, but its importance should not be exaggerated. The Cobb-Douglas production function, together with the neoclassical theory of distribution, still seems a pretty good approximation for the U.S. economy.

Update: If you want to look at data on factor income shares, go to the BEA. Click on "List of All NIPA Tables." Then click on Table 1.11. You can then judge for yourself whether the changes in income shares are large or small.

Update 2: Economists Russell Roberts and David Altig also blog on this topic.

http://gregmankiw.blogspot.com/2006/08/how-are-wages-and-productivity-related.html

Pedro Sá disse...

A questão é muito simples. E reefrenciou-a correctamente. A relação entre as duas partes não é de igualdade.

E, mesmo que o fosse, pelo menos a mim parece-me que subemprego ainda é pior que desemprego.

Anónimo disse...

http://farmaciacentral.wordpress.com/

Nuno disse...

Não é logro nenhum. A relação não é de igualdade entre as partes. A tentar enganar as pessoas está quem defende essa igualdade. A produtividade aumenta a ritmos superiores ao salário real!

Anónimo disse...

Resumo do comentário de GPN:
odeio a esquerda e o socialismo.

Comentário meu:
Achas que é com argumentos destes que vais convencer alguém a aderir à ideologia liberal?