A discussão sobre a possível nacionalização do Northern Rock realça o papel vital das instituições públicas nas numerosas crises financeiras passadas. De facto, a história recente mostra como foram numerosas as intervenções públicas salvadoras do sistema financeiro global. Intervenções justificadas pela importância deste sector no resto da economia, mas que sempre foram acompanhadas por medidas que distribuíram assimetricamente os efeitos das crises, quer na relação entre capital e trabalho, quer nas relações entre diferentes nações. A expressão do João é certeira: «socialismo para os ricos, capitalismo para os pobres».
Doug Henwood faz esta breve história aqui (só para assinantes). A crise da dívida externa nos países em vias de desenvolvimento, aberta pela insolvência mexicana no início dos anos oitenta, resultou nos trágicos programas de ajustamento estrutural do FMI. O pagamento do pesado serviço da dívida destes seguintes foi, no entanto, assegurado. A crise bolsista de 1987 foi "resolvida" com um empréstimo de 200 mil milhões de dólares do Fed norte-americano ao sector financeiro. Em 1994, foi novamente o México o centro da instabilidade financeira, cedo circunscrita por um novo empréstimo norte-americano. Contudo, este país não foi poupado a uma dura recessão e a um novo programa de liberalização da sua economia. O mesmo se passou, grosso modo, no Sudoeste Asiático, em 1997-98. Finalmente, em 2001, a bolha especulativa bolsista em torno da "nova economia” foi lentamente "esvaziada" pela diminuição progressiva das taxas de juro, criando uma nova espiral especulativa, desta vez no sector imobiliário.
Este olhar sobre a história recente ajuda-nos a perceber que estamos longe das crises profundas e duradouras do século XIX. Ao contrário do que certa esquerda sempre espera quando uma crise se anuncia, o capitalismo não vai acabar amanhã. Mas será que estamos condenados a "socializar" as perdas dos investimentos especulativos do sector financeiro? A resposta é não. Através da regulação (taxação das transacções, regulamentação da actividade dos diferentes agentes, intervenção de um sector público robusto, etc) o sistema financeiro pode ser disciplinado e estabilizado. Se as suas irresponsáveis acções têm efeitos exacerbados nas vidas de todos nós, então porque não poderemos ter, todos nós, uma palavra a dizer no seu funcionamento?
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1 comentário:
Regulação sim e sempre, sector público robusto não vejo para quê.
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