Primeiro foi o sempre atento Mário Soares, agora é Narciso Miranda: «Em cada cinco jovens, há um desempregado, mais de 20 por cento da população vive abaixo do limiar da pobreza. Sou convictamente socialista e isto incomoda-me profundamente» (Publico). Já no fim-de-semana passado Sócrates lá tinha reconhecido, enfim, que o desemprego é de facto um problema grave. Mas foi Vitalino Canas quem, ao procurar sacudir as pressões, melhor resumiu o drama da direcção do PS: «À medida que os problemas forem sendo ultrapassados, é claro que a dimensão à esquerda poderá ser mais visível» (DN). E o drama reside na ideia, algo ingénua, de que na condução dos assuntos do governo pode existir uma zona mágica, para além da esquerda ou da direita, onde, sem princípios, ideologias ou grelhas de interpretação, os problemas e as suas soluções surgissem de repente de forma límpida e transparente. A esquerda ficaria para depois. Isto ilustra bem o que acontece quando as ideias socialistas são abandonadas. Por exemplo, na área da política económica fica-se refém do «ar do tempo». E o ar do tempo, em Portugal, é ainda dado pelas correntes neoliberais que afirmam que o desemprego não é um problema a ser resolvido por uma política económica activa, mas sim um problema do «mercado» que se explica, e é sempre a mesma cantiga desde o século XIX, pela «interferência» política perturbadora dos seus celestiais equilíbrios.
Informação em primeira-mão: o Nuno Teles tem um excelente artigo sobre o desemprego no número de Dezembro do Le Monde Diplomatique - Edição Portuguesa.
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3 comentários:
1. Acho que de facto não percebeu o que Vitalino Canas disse.
2. E de facto o Estado nada pode fazer para diminuir o desemprego. Nada. A não ser que meta a população a sustentar empregos artificiais.
O Pedro Sá só pode estar a brincar com o ponto #2. O que afirma é totalmente contra-intuitivo e o que se verifica é que o estado pode efectivamente criar e proteger emprego sustentável (vide Airbus, Boeing, etc.)
Reconhece-se um fundamentalista quando a sua opinião não verga face à realidade que a contradiz.
Caro João Branco, a questão não está em criar emprego sustentável, mas em não o deixar destruir.
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