quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Bem visto da economia
Helena Garrido publicou uma excelente posta sobre a «tempestade» que vem da América: «com este quadro temos ainda uma margem limitada dos instrumentos de política. A descida de taxas de juro por parte do BCE enfrenta riscos de impacto limitado pela correcção em alta dos 'spreads' para créditos de maior risco, podendo ainda ficar condicionada se a inflação subir. E as políticas orçamentais estão manietadas pelo Pacto de Estabilidade». Pois é. É no que dão mandatos e regras «estúpidas» que só têm servido para bloquear o crescimento concertado da procura agregada europeia, o que obrigou a um esforço exportador para os EUA que é agora posto em causa. O PEC é um colete de forças que só bloqueia uma política económica de relançamento para fazer face às dificuldades. Não é por acaso que a nossa longa estagnação coincide com esta aberração pré-keynesiana. Há duas alternativas: ou se reforça o orçamento europeu (como é que se avançou para a moeda única sem um orçamento europeu com peso macroeconómico é uma das questões que os historiadores económicos do futuro irão ter de explicar), o que é inexequível políticamente no actual contexto, ou se manda o PEC para o caixote do lixo da história, coisa que os grandes países já fizeram na prática. Isto implica aceitar que o défice é apenas um instrumento e não o objectivo da política económica.
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4 comentários:
O essencial é que de facto todas estas regras apertadas foram provocadas pelo pânico do Sr. Kohl com os países do Sul da Europa, e de lá para cá com o avanço do liberalismo à direita tem sido complicado mexer nelas...
Em qualquer caso, parece-me que deveríamos aguardar um pouco mais para rever o PEC. Não podemos deixar de ter em conta que o PEC é uma das causas primárias do alto valor do euro e da credibilidade que a moeda tem por todo o mundo.
Numa altura em que o euro vai dando passos de gigante para ser a moeda de referência mundial, mais vale prevenir.
Uma dúvida sincera de quem não percebe nada de economia.
Para mim o défice é um bocado como o crédito ao consumo: Mandar a despesa para o futuro. Estamos a falar de um imposto sobre o futuro.
Nisto eu vejo problemas morais, egualitários, práticos e de credibilidade:
Morais porque estamos a empenhar o futuro, que não é só nosso.
Egualitários porque o défice não é progressivo: vai ser no futuro que se decide como se paga, e pode ser de uma forta equitativa ou não (se bem que com o peso dos impostos indirectos em Portugal este argumento é frágil).
Práticos porque não se sabe se vai ser mais fácil ou mais dificil pagar do que actualmente. Depende de muitos factores.
De credibilidade são óbvios, acho.
Não era mais simples aumentar os impostos progressivos? Parece-me que em Portugal há espaço para isso...
Isto são perguntas honestas de quem não percebe nada de economia. Não percebo a vossa lógica, sinceramente.
Se quer usar uma metáfora acho que o défice pode ser (se for o resultado de certas despesas) um bocado como um crédito ao investimento. O Estado investe em equipamentos materiais e imateriais, na educação, etc. e assim as gerações futuras herdam uma economia mais produtiva. É por isso neste caso justo que suportem parte do fardo.
Depois há a questão conjuntural: acho que em momentos de crise o défice deve ser a variável de ajustamento, ou seja, o Estado não só tem que gastar mais (subsidios de desemprego por exemplo) como tem menos receitas e além disso deve fazer um esforço de investimento suplementar para empurrar o sector privado e assim minorar o problema da quebra da procura. Se quer fica um slogan: a melhor forma de resolver o défice é colocar a economia a crescer em pleno-emprego. E aí sim é mais fácil aumentar impostos e resolver problemas de progressividade.
Pedro Sá: está a ver mal a questão do euro, a sua valorização é uma desgraça para a indústria europeia e para a economia portuguesa. E não vejo que relação isso tem com um Pacto que os grandes países não cumprem quando estão em dificuldades e que perdeu toda a credibilidade a não ser para alguns crentes.
Vendo numa perspectiva de muito curto prazo teria razão. Mas os ganhos decorrentes do facto de se ter a moeda de referência internacional superam todos e quaisquer inconvenientes. E para chegar aí é necessário um euro forte.
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