segunda-feira, 11 de outubro de 2021

RTP, exemplo do melhor da nossa capacidade coletiva


A RTP disponibiliza gratuitamente o serviço RTP Play. Com apenas uma ligação à internet, é possivel ter acesso a todos os canais de televisão e a todos os canais de rádio da estação em direto. É possível ainda ter acesso a um vasto catálogo de séries e documentários de grande qualidade em que a estação investiu nos últimos anos. Há séries de ficção mais convencionais ou mais experimentais, há documentários de história e ciência, nacionais e internacionais.

A RTP play oferece agora também transmissão em direto dos festivais com os quais estabelece parceria. O que me permitiu ontem ver um grande concerto do Jorge Palma em direto, a partir do festival Iminente.

A RTP Play é um serviço público gratuito, na vanguarda das melhores práticas tecnológicas e com a variedade e qualidade de conteúdos que ilustram o que é um meio audiovisual que serve para elevar os padrões de entrenimento e cultura dos cidadãos, por oposição à estratégia de embrutecimento dos telespetadores que os seus congéneres de sinal aberto vêm seguindo, numa corrida para o fundo da qualidade de conteúdos.

Tudo isto com um lucro de cerca de 3 milhões de euros em 2020. Mas esse nem é o ponto principal: poderia dar prejuízo, e não seria um problema, mas antes um investimento no serviço prestado às populações.

É do conhecimento geral que nem tudo na RTP está bem. O critério editorial da informação está longe de refletir a pluralidade de opiniões na sociedade portuguesa e a precariedade persiste de forma inexplicável em parte da sua força de trabalho.

Mas é impossível não olhar a RTP como exemplo do que melhor podemos fazer com a propriedade pública na construção de serviços de qualidade.

E nestas alturas não podemos deixar que a memória nos atraiçoe: foi este serviço público de qualidade reconhecida que a direita quis privatizar com a maior fúria em 2011, tendo em Passos Coelho, hoje objeto de culto sebastiânico de parte da direita portuguesa, um dos mais vocais defensores da privatização. Desejo apenas interrompido, no limite, por opiniões divergentes dentro da prórpia coligação e alguns percalços.

Quando vos disserem que o Estado nunca gere bem e o privado gere sempre melhor, considerem enviar-lhes este link.

9 comentários:

Anónimo disse...

"Estado nunca gere bem e o privado gere sempre melhor"
Nunca/sempre.
Podia dar um exemplo de quem alguma vez disse isso? Só um exemplo, com link.
Obrigado

Hélder Rocha disse...

Já digo há muito que a qualidade das séries da RTP não deve nada às estrangeiras. Sul, Filhos do Rock ou Terra Nova são alguns exemplos da qualidade destas produções.

Anónimo disse...

"Mas É IMPOSSÍVEL não olhar a RTP como EXEMPLO DO QUE MELHOR podemos fazer com a propriedade pública na construção de SERVIÇOS DE QUALIDADE."
Esta afirmação, confrontada com as opções editoriais, posições políticas expressas publicamente e em directo, pelos jornalistas e pivots, bem como o miserável "pluralismo" manifestado na política redactorial, permitem-me concluir que, ou as suas opiniões não abonam nada a sua capacidade de avaliação ou eu estive as duas últimas décadas em Marte

Anónimo disse...

Falta aqui uma noção de custo/benefício.

Jaime Santos disse...

Completamente de acordo. Só que o truísmo que representa a afirmação de que o Estado gere bem certos sectores da Economia ou da Sociedade, ou pelo menos melhor do que o sector privado, em particular quando está em causa o interesse público e não o mero lucro, transforma-se numa falácia quando se quer generalizar tal afirmação e dizer que o Estado gere bem todos os sectores económicos...

E aliás nem precisamos de invocar o exemplo soviético, bastam as experiências de Economia mais ou menos planificada no mundo ocidental que tiveram a sua derrocada nos anos 70 e 80...

O problema da Esquerda não é a defesa da presença do Estado na Economia. É o estatismo. Com prejuízo dos setores que realmente o Estado consegue gerir bem, pela falta de recursos para acudir a tudo e mais alguma coisa...

Guilherme Rodrigues disse...

É uma pena nao conseguir disponibilizar o serviço ao mesmo nivel na diaspora. Acho que muitos portugueses ate pagariam para isso

Anónimo disse...

A RTP é essencial mas sem publicidade e com pluralismo.

Francisco disse...

Nas sociedades capitalistas e ao contrário do que afirmam os teóricos das ciência jurídico-políticas que são hegemónicos nos manuais universitários, o Estado não é uma entidade neutra que está na sociedade como uma espécie mitificada de bom pai de família, que ali de cima do seu pedestal vai cuidando por igual dos interesses de todos os seus filhos. O Estado, em sociedades estratificadas em classes - e essa é a natureza da sociedade em que vivemos - representa os interesses das classes dominantes, que serve através do seu aparelho institucional, reflectido nos domínios político, ideológico ou mesmo económico.
Neste sentido, a forma como o Estado gere e aquilo que o Estado gere, é também em larga medida o reflexo e o resultado de opções classistas e das tensões subjacentes aos antagonismos que lhe são inerentes.
Tony Judt - um autor insuspeito desse ponto de vista - evidenciou nomeadamente no seu "Tratado Sobre os Nossos Actuais Descontentamentos", o modo como a capitulação da social-democracia europeia no decurso dos anos 70 e 80 do século XX, correspondeu à resposta a necessidades de acumulação e reprodução ditadas pelo âmago do sistema capitalista, cujos tentáculos se alargaram aliás a inúmeros sectores até aí públicos (nomeadamente e no caso da Inglaterra o sector ferroviário) que não tiveram melhor gestão depois disso nem passaram a prestar melhor serviço, servindo contudo o desiderato do grande capital que lhe estava associado. Também entre nós serviços como a saúde ou os correios, reflectem igualmente a subordinação permanente do poder político (corporizado, lato sensu, no Estado) ao poder económico, com todas as consequências que daí advêm. É também por isso que a RTP - veículo de produção ideológica de importância capital - tem a preocupação eugénica de assegurar que os seus espaços de comentário, debates e mesmo certos serviços ditos noticiosos, são circunscritos apenas aos que o devem ser, evitando que vozes subversivas se façam ouvir. Depois há ainda a ladaínha da falta de recursos, em que as orgias ditas PPP são apenas um exemplo maior das patetices que são geralmente debitadas em torno do tema, como aliás o impagável Jaime Santos fez, mais uma vez, questão de provar.

estevesayres disse...

Tenho sido ao longo dos anos, um crítico de como são geridos os serviços públicos, não só por questões ideológica, até porque defendo os serviços públicos, sem eles as classes mais pobres, e não só, não tinham acesso. Por fim; a RTP é a preferida… https://www.rtp.pt/play/p8971/primeira-pessoa