Um amigo chamou-me ontem a atenção para a necessidade de seguir o que se passa em Espanha na área laboral, através do excelente Público espanhol: La reforma laboral, un foco de tensión desde el mismo comienzo del Gobierno de coalición. Passa-se a fronteira e é um enorme contraste em relação ao Público português.
Enfim, pela minha parte, lembrei-me de uma carta que o BCE escreveu, em 2011, a Zapatero, então primeiro-ministro espanhol, e de cujo conteúdo José Castro Caldas aqui deu conta. Toda uma economia política epistolar.
Tal lembrança permite-me sublinhar o que parece ser um padrão novo. Desde 2012 que o BCE assumiu mais poder, comportando-se como um Banco Central a sério nas áreas que são as suas. Foi a americanização do BCE, assim designada pelo historiador económico Adam Tooze no seu Crashed, uma história do presente com continuação recente em Shutdown.
A assunção do controlo político das taxas de juro e de outras condições de financiamento, superando a tão danosa ficção da moeda como mercadoria, vem associada a uma continuada e, talvez, até reforçada intransigência em relação às questões laborais. Afinal de contas, se o mecanismo disciplinar do desemprego se pode atenuar um pouco, têm de existir outros mecanismos em presença.
É o preço da ideologia do Banco Central dito independente, uma ofuscação pós-democrática para a qual João Ferreira do Amaral alertava há mais de duas décadas na cadeira de Política Económica e Planeamento. Para isso, para a moeda única e para muito mais.
1 comentário:
As cartas enviadas a governos pelo responsável da organização com colossal poder e sem legitimidade democrática Banco Central Europeu devem ser apresentas como provas do crime económico contra milhões de europeus, especialmente os do sul, em Tribunal.
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