quinta-feira, 31 de maio de 2018

Entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade



«O que cada um e cada uma de nós tem hoje que decidir é se se deixa tolher pelo medo ou se assume a responsabilidade de adotar uma lei que, de maneira equilibrada, razoável, prudente, respeite a decisão de cada pessoa. O que cada um e cada uma de nós tem hoje que decidir é se escolhe a prepotência de impor a todos um modelo de fim de vida que é uma violência insuportável para muitos ou a tolerância de não obrigar seja quem for e permitir ajudar a antecipar a morte àqueles para quem a continuação da vida em agonia se torna uma tortura. O que faremos hoje é portanto, cada um e cada uma de nós, uma escolha sobre a liberdade de todos.
(...) Como aconteceu em tantos outros momentos de alargamento dos direitos, há quem nos queira agora desviar de uma decisão ponderada, ameaçando com o risco de um desvario social, traduzido em outras leis que - dizem-nos - hão-de vir. Mas o que esses arautos do medo e esses cultores da desconfiança não dizem é que os projetos que hoje votamos qualificam como crime todos os cenários de desvario que eles próprios, e só eles, antevêem. O que eles não dizem é que os mecanismos de controlo que o projeto do Bloco de Esquerda e os demais projetos consagram, têm em vista precisamente impedir qualquer possibilidade de legitimar a antecipação da morte para situações diferentes das que a lei acolherá. Por outras palavras, não é sobre estas propostas que se pronunciam esses arautos do medo. Pronunciam-se sobre outras, que adivinham que virão. Palpita-lhes que essas propostas, que adivinham e que virão, serão perversas. E querem-nos amarrar ao seu palpite e fazer do seu palpite o fundamento de uma estratégia criminal. Cabe a cada um e a cada uma de nós escolher entre o medo de um palpite e a responsabilidade da liberdade. Esses que, em nome de um atávico medo da liberdade da decisão de cada um, nos querem tornar prisioneiros de uma vida biológica, que espezinha a nossa vida biográfica, são muitas vezes os mesmos que criticam o projeto do Bloco de Esquerda e os demais projetos, por supostamente não respeitarem a autonomia das pessoas e darem poder demais aos médicos. Estranha e terrível ironia esta, de quem, para manter o imperativo da sua visão particular do fim da vida no Código Penal, tanto repudia o acolhimento da autonomia de decisão como repudia a regulação da expressão dessa mesma autonomia.
(...) Este é o momento de darmos prevalência à liberdade sobre o medo. Este é o momento de darmos prevalência à tolerância sobre a prepotência. Fizemos escolhas assim, no passado. E aos que então quiseram amedrontar o país, com a sombra de supostos retrocessos civilizacionais, nós sempre respondemos com a demonstração prática de que não foram retrocessos mas avanços. Aos que nos quiseram travar com o anúncio de rampas deslizantes da indignidade, nós sempre respondemos com a demonstração de que a rampa da afirmação dos direitos e da dignidade é sempre ascendente. Este é o desafio que cada um de nós tem hoje diante de si. Saibamos dar-lhe a melhor resposta. E essa só pode ser a do respeito por todos, na tolerância sobre a escolha de cada um.»

Da intervenção de José Manuel Pureza, a ver na íntegra, no debate sobre a morte medicamente assistida.

22 comentários:

Jose disse...

A questão da eutanásia resume-se ao seguinte:
Quando os moribundos, ainda que a prazo, mantêm famílias em grave incomodidade assistencial ou unidades públicas (quando e se as houver) com escassez de vagas, seguramente que se não vierem a ser pressionados, sentir-se-ão motivados para o afamado 'acto de liberdade' da esquerdalhada totalitária.

Anónimo disse...

Um assunto a abordar com seriedade e este gajo ai de cima a responder de forma bovina

Augusto disse...

O indivíduo aí de cima , é um coitado , repete o que lhe mandam, porque os neurónios não dão para mais. É o protótipo do apoiante da direita retrógrada e bolorenta..

Anónimo disse...

Falam de moralidade como se ainda acreditassem nas velhas ideias do progresso, da era Vitoriana. Que todas morreram com o horror Nazi e com a Guerra Mundial. O progresso da História, o Progresso da Moralidade e tantos outros progressos! Acreditam no relativismo cultural, no multiculturalismo mas adoptam a certeza dos profetas em assuntos morais. Pensam que são ateus, agnósticos, laicos! Ou estão equivocados ou Deus entregou-lhes uma novas Tábuas da Lei, para evangelizarem os seus co-contribuintes! Nada percebem de moralidade mas são de facto moralistas, na conotação negativa do termo! Habermas dizia que na discussão pública numa democracia apenas os argumentos racionais poderiam entrar! Isto sim é uma atitude elitisma, daquelas que minam as nossas democracias. Pois estes iluminados são no fundo aristocratas! Era assim que Nietzsche preconizava, que a casta dos melhores - Aristocratas, deveria instruir o rebanho, de quais os valores do progresso e da civilização! A ignorância realmente muitas vezes é atrevida...

Jose disse...

Onde houver lei há lugar a processo judicial.
Que o MP defenda a vida.
A partir daí… veremos!

Jose disse...

Quanto ao corretês desses dois aí acima, resvala na couraça da minha indiferença.

Anónimo disse...

A indiferença de Jose é uma treta.

Repare-se. Chama-se o nome aos bois e eis que aparece apressado e trôpego a tentar corrigir as suas boçalidades

A couraça do coitado tem destas coisas. A admoestação varia na proporção directa da sua pedantice

Vitor disse...

É uma intervenção interessante, mas não considero de todo que tenha sido um assunto amplamente debatido, pelo menos na comunicação social. Provavelmente por grande culpa dos orgãos de comunicação social, com especial ênfase nos orgão públicos que têm a obrigação de fazer serviço público.

A campanha eleitoral não esclareceu minimamente sobre quais as posições de cada um dos partidos sobre este tópico.
A partir de agora ficou claro para os Portugueses que nas próximas eleições:
- caso pretendam manter a a eutanásia ilegal em Portugal deverão votar no PCP ou no CDS
- caso pretendam a despenalização da eutanásia deverão votar no BE ou no PAN
- caso sejam tendencialmente a favor poderão votar PS
- no PSD não é muito claro pois apesar dos atuais deputados terem votado maioritariamente contra, poderão ser substituídos nas próximas legislativas e já vi escrito que Rui Rio teria uma posição a favor da eutanásia.

Anónimo disse...

https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/pedro-tadeu/interior/seria-capaz-de-matar-a-ana-catarina-9387870.html

Anónimo disse...

Que disparate essa coisa escrita pelo Vitor

As coisas não giram à volta da eutanásia nem destas questões ditas fracturantes

Anónimo disse...

O vitor não é aquele tipo que agora não me lembro do nome...um tipo que está umas vezes na Holanda, outras vezes na Alemanha, umas vezes aparece com uma máscara, outras com de fato e gravata de um anúncio de sabonetes?

Os votos em função da eutanásia? Mas porque da eutanásia e não em relação a outras questões muito mais fundamentais para o nosso futuro?
Porque não em função da corrupção? Quem defende o neoliberalismo fica do lado dos que defendem os mecanismos que perpetuam a corrupção. Quem defende os DDT fica do lado dos partidos que o defenderam. Quem defende a supremacia da Alemanha fica do lado dos que assumem a sua luta contra a nossa soberania...

...e assim por diante.

Boa, vitor. Brilhante, vitor

Vitor disse...

sr anónimo o que eu escrevi são só factos. Achar que factos são uma "parvoíce" é que não me parece muito inteligente...

O que é mais relevante ou menos relevante para cada um cabe a cada cidadão decidir em consciência. Agora num momento em que se confirmou que o voto útil deixou de fazer sentido, pois já não é necessariamente o partido mais votado que forma governo, acredito que toda uma série de questões de outras índoles assuma uma maior relevância. Provavelmente as próximas eleições já serão caraterizadas por uma multidimensionalidade que deixará de ser limitada pela falsa simplicidade da escolha esquerda/direita e das vários cambiantes dentro deste eixo. E acredito que o caminho cada vez mais se fará nesse sentido.

Anónimo disse...

O caminho cada vez se fará nesse sentido....

Qual? O que o voto útil deixou de fazer sentido, claro.

Por isso o vitor fala assim:
caso pretendam manter a a eutanásia ilegal em Portugal deverão votar ...
- caso pretendam a despenalização da eutanásia deverão votar ...
- caso sejam tendencialmente a favor poderão votar ...


É o que se chama o voto útil em função da eutanásia. (Antes de se dizer que o voto útil já não faz sentido)

Saiam aí mais factos à moda do vitor.

Boa vitor. Brilhante vitor

Vitor disse...

Sr. anónimo. Parece-me que o senhor provavelmente não estará familiarizado com o conceito de voto útil. O voto útil é um voto num partido com um programa mais afastado das posiçoes do eleitos com base no pressuposto que esse partido tem uma maior hipótese de formar governo e que retira o voto a um eventual partido de menor dimensão com posições mais próximas das do eleitor que teria uma probabilidade muito baixa de formar governo (que por oposição seria entendido com o voto "inútil").

Ou seja esse exemplo que deu é exatamente o contrário do conceito de "voto útil".

Anónimo disse...

Se denomina voto útil o voto estratégico​ a una modalidad de decidir el voto ciudadano en función del eventual resultado de las elecciones, (ou seja, de quem defenda a eutanásia).El «voto útil» concede máxima importancia a ganar la elección concentrando el voto,( dos que querem a eutanásia) a la vez que busca evitar la dispersión del voto en múltiples alternativas. Requiere un análisis de las posibilidades de cada candidato, de cada cuestión y de sus probabilidades reales en una elección, y busca consolidar esas tendencias sumando el voto individual a una corriente colectiva perceptible. Habitualmente el «voto útil» tiende a polarizar una elección.

Ou seja, o voto útil em função da eutanásia.

Ou seja esse exemplo que deu é exatamente o conceito de "voto útil". Em torno da eutanásia

Hum. Fico também a pensar se não terá razão quem identifica o vitor como esse tal Pimentel


Vitor disse...

e quem me garante a mim que o anónimo não é esse tal Pimentel?

e já agora qual é o problema com a pessoa que utiliza esse nick Pimentel? Tem menos direito a expressar a sua opinião do que eu, os/as anónimos ou os outros participantes do blog?!

Anónimo disse...

Fica-se mesmo a pensar que o vitor é mesmo o pimentel .

Primeiro o vitor defende-se da acusação de ser o pimentel. Não quer nada a ver com o dito cujo. Arrenega-o. Esconjura-o para quem lhe denuncia o facto

Mas depois...tão ternurento, dá a mão ao pimentel.

Pimentel ferreira é um tipo conhecido por acumular nicks consecutivos e aparecer na mesma posta usando vários. Manipulação pela certa.
Mas há mais coisas muito feias desse tal pimentel, que é fazer-se passar por outros.
E há mais coisas ainda bastante feias sobre o sujeito, que não é próprio agora documentar para manter o debate com alguma elevação

Mas não estamos a falar no pimentel, mas sim em quem não sabe o que é isso de voto útil.

Esperemos que o "vitor" tenha ficado elucidado...

Vitor disse...

Sr anónimo.,
a meu ver a sua interpretação, o que coloca entre parêntesis, não se coaduna com a ideia de voto útil expressa no texto fora dos parêntesis.

Parece-me que uma pessoa que seja a favor da eutanásia e que estabeleça isso como uma das prioridades que irão decidir o seu voto, poderá razoavelmente ter confiança de que o seu voto terá representação no parlamento votando no BE ou em menor escala no PS. (não incluo o PAN pois acredito que este partido possa ter uma probabilidade elevada de não eleger nenhum deputado nas próximas eleições, nem o PEV pois este partido costuma coligar-se com o PCP). A imposição do voto útil verificar-se-ia caso o votante, para ter essa sua prioridade representada (a eutanásia), fosse encorajado a votar no PS, o partido tradicionalmente com maiores votações. Na minha opinião com este precedente aberto pela coligação, que exclui o partido/coligação com maior votação, este "voto útil" é muito menos incentivado em relação às eleições anteriores. A meu ver isso é algo de muito positivo e que mostra uma maior maturidade da democracia portuguesa.


Em relação à questão da identificação volto a perguntar, se os anónimos não se identificam com nicks o que garante que não sejam esse tal nefasto Pimentel?

Anónimo disse...

Mais uma vez " vitor" anda a pescar gambuzinos. Ou melhor, a ver se atira para qualquer lado menos para o que se discute.

Não se discutem as propriedades do voto útil nem aquilo que o "vitor" tem por bem achar positivo, muito positivo, positivíssimo ou o diabo a sete. Nem as opiniões do vitor sobre o PAN ou o PEV. Por acaso este último apresentou um projecto também para despenalizar a eutanásia. Malhas que se tecem e a que é alheia a sapiência do vitor.

O que se trata é de colocar a nu o disparate de, a propósito da eutanásia, apresentar uma série de condições para o voto a favor, contra ou assim-assim na legislação sobre a eutanásia.

E depois vir-se dizer, todo pimpão, que tal é o contrário do apelo ao voto útil. Ou mais galhardamente afirmar coisas como "provavelmente não estará familiarizado com o conceito de voto útil"

O exemplo dado é de facto um apelo ao voto útil para que a eutanásia seja aprovada, reprovada ou assim-assim. Acima de tudo,concentrar o voto em relação à eutanásia. O resto é secundário. É assim um voto útil em função da eutanásia

Pensa-se que até o "vitor" consiga perceber. E lastima-se que só depois de ser chamado à pedra tenha resolvido regressar ao tema.

Anónimo disse...

Quanto aos nicks e à sua putativa identificação ...

ó vitor deixe-se disso. Foi demonstrado que joão pimentel ferreira usa e abusa de nicks diferentes no mesmo post, faz-se passar por outros personagens e comentadores. O próprio vitor caiu em si e já o carimba como nefasto, lolol, o que é um avanço auto-critico importante.

O mais do resto é estar com atenção. E ir recebendo as dicas da matilde

Vitor disse...

O sr.º anónimo continua a ignorar corajosamente o facto do conceito de voto útil dizer respeito a votar num partido que não é o que melhor nos representa por receio de ele não ser eleito. E por outro lado está a subalternizar uma discussão política da eutanásia face a outras ideias que para si eventualmente serão mais importantes. Sr. anónimo esse mundo limitado à ideia da esquerda/direita em que vivia está a acabar.

Deixarei aqui de responder a anónimos. Caso pretenda conversar comigo por favor arranje um nick que me permita saber se estou a falar empre com a mesma pessoa ou com pessoas diferentes. Agradecia também que não recorresse tanto a expressões acintosas como "pescar gambuzinos" e similares porque só servem para denegrir as minhas ideias de uma forma que considero desrespeitosa.

Anónimo disse...

Claro que vitor deixa de responder a anónimos. Isso era o que o joão pimentel ferreira diria antes de se retirar e postar outra posta sob anonimato.

E tal como JPF, a vitor também lhe vai faltando a coragem para assumir que o que se discute não é o que o vitor quer agora discutir, nem sobre o que o vitor acha que está a acabar, a nascer ou a abortar

O que se colocou em causa ab initio foi esta forma de condicionar o voto, tendo como universo de referência a eutanásia.E tentar arrumar as coisas, tal como é hábito em pimentel ferreira, naquela xaropada de voto útil em partidos de acordo com o problema da eutanásia.

Demagogias destas não passam. Tal como não passam os lamentos sobre gambuzinos ou nicks que são uma farsa

Percebeu tudo, caro vitor?