sábado, 17 de setembro de 2016

Investimentos

Os capitalistas, individualmente inquiridos, declaram ao INE que a principal razão para a falta de investimento é a falta de vendas, a tal procura duradouramente estagnada, como os jornalistas económicos competentes assinalam. É preciso sempre lembrar que o investimento, em percentagem do PIB, caiu para metade desde que temos o Euro, tornando Portugal num indicador avançado do espectro da estagnação secular.

No entanto, quando passamos do individual para o associativo, passamos da procura para a política de classe: algumas associações patronais acham que a culpa é da solução governativa, do medo que comunistas e bloquistas metem aos frágeis capitalistas, gente dada a crises de nervos quando decide investir. Com a degradação de uma frente externa que não controlamos, gostaria de saber o que estaria a acontecer à parca procura interna sem a devolução de rendimentos ou sem o aumento do salário mínimo. E se não há investimento público, a responsabilidade é do garrote europeu.

Entretanto, um dos dramas de uma economia estagnada é que o jogo tende a ser de soma nula, o que uns ganham os outros perdem, sabendo nós quem tende a ganhar e a perder e quem quer reverter um pouco este padrão, até porque isso pode começar a mudar a natureza do jogo.

Historicamente, no capitalismo com assomos democráticos, a esquerda social-democrata dependeu da mobilização de instrumentos de política económica na escala onde está a democracia para resolver problemas de acção colectiva a certos sectores da burguesia, garantido, em modo de jogo de soma positiva, de redistribuição eficiente, a sua aquiescência pragmática com reformas estruturais favoráveis ao empoderamento dos de baixo.

Praticamente sem instrumentos de política, numa semicolónia, é tudo infinitamente mais difícil. Nunca se desiste, até porque isto ainda pode vir a ser um país. Aliás, tentar garantir tal feito pode ser o cimento político de que precisamos num tempo de identidades pulverizadas. Por isso, é preciso continuar a insistir na importância socioeconómica de investimentos culturais e políticos na questão da nacionalidade.

22 comentários:

Anónimo disse...

Os traficantes de drogas, contrabandistas, piratas, sequestradores, jihadistas, gangues criminosas e milícias que vagueiam em enormes áreas de território onde a autoridade central desapareceu são os verdadeiros rostos da globalização. Estes niilistas constituem o Estado islâmico, assim como constituem o Estado das transnacionais. A corrupção pode estar mais à vista e ser mais rudimentar no Afeganistão ou no Iraque, mas tem seu paralelo na venda dos políticos e partidos políticos que dominam nos Estados Unidos e na Europa. O bem comum – a construção de comunidade e solidariedade – foi substituído por décadas de doutrinação a favor da empresa privada com apelos para se acumular tudo o que se puder para si próprio e deixar os outros a sangrar na berma da estrada.
Chris Hedges

Anónimo disse...

Muito bom

Jaime Santos disse...

Eu sugiro-lhe que tenha cuidado com a linguagem que utiliza, João Rodrigues. A Sra Le Pen também fala de 'Primavera dos Povos' e de nacionalidade, como quando tenta apropriar-se da 'Europa das Pátrias' de de Gaulle. Eu sei que vai um oceano de distância entre o seu soberanismo de natureza inclusiva (detesto o termo nacionalismo) e a xenofobia dela, mas não se queixe que depois os metam no mesmo saco, quando a retórica se assemelha. É que há mesmo uma perigosa deriva populista no uso de tal linguagem. Manifestamente, o que se passa na Europa do Sul, nomeadamente na Grécia, não é um movimento de resistência revolucionário contra um poder imperial. A Europa disfuncional que temos foi fruto de atos de parlamentos soberanos eleitos pelo povos e nenhum dos ditos povos perdeu de facto a sua soberania. Simplesmente, os custos do abandono do Euro ou mesmo da União são elevados e recordo-lhe que no caso da Grécia, depois da capitulação de Tsipras, este viu a sua conduta ser sufragada pela maioria dos Gregos, goste o João Rodrigues disso ou não. Como já disse, há sempre alternativas, não há é almoços grátis. Se quer propor uma via alternativa, sugiro-lhe que comece a ser franco relativamente aos seus custos...

Jose disse...

Economia básica- o papel da procura.

Toda a empresa com pressão de procura é posta, se a tendência parecer estável, em modo de crescimento e potencialmente de investimento.

Mas, para a maior pate da nossa indústria, a nossa quota nos mercados é ínfima, o que significa que o crescimento é possível assim se invista o bastante para melhorar a posição em termos de concorrência.

Ora esse é o investimento que, incorporando um maior risco, só é feito em clima de confiança e estabilidade e não com a comunada ao leme e o país na corda bamba.

Anónimo disse...

Como?

"Economia básica"? Lições dadas por um representante dos capitalistas,gente dada a crises de nervos?
E logo por um tipo que tem a ousadia de comparar a Revolução Francesa ao Daesh?

Deve estar a brincar, provavelmente. A brincar ou a tentar replicar a missa beata em torno dos postulados neoliberais, que nos foram bombardeados ad nauseam durante a sua governança

Como a forma como vomita o termo "comunada" ainda é testemunho.

Anónimo disse...

"As grandes acusações feitas a este governo , embora nem sempre explicitadas são: a reposição dos vencimentos dos trabalhadores da função publica, modesta, as 35 horas, a diminuição do IVA na Restauração. "O exacto oposto do que deveriam fazer" dizem os agentes da Troika, opinião sempre amplificada por certa comunicação social e pelos bitates dos Schaubles e Dijsselbloens. Só que a opinião destes últimos e as ameaças de sanções da Comissão já tiveram efeito negativo nas taxas de juros sobre a dívida pública portuguesa, factura que lhes devia ser endossada".

(Carlos Carvalhas)

Anónimo disse...

É preciso mesmo ter algum cuidado com o que se diz.

Parece que o termo "primavera dos povos" não agrada a Jaime Santos. E por causa da Marine le Pen.

Antes de mais tal expressão não foi usada pelo autor do texto em debate pelo que manifestamente há aqui algo de má-fé.

Mas depois há outra coisa.Dá-se o nome de Primavera dos povos, "à série de revoluções na Europa Central e Oriental em 1848 que eclodiram em função de regimes governamentais autocráticos, de crises económicas, do aumento da condição financeira e da falta de representação política das classes médias e do nacionalismo despertado nas minorias da Europa central e oriental, que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as tentativas de reformas políticas e económicas
Este conjunto de revoluções, de carácter liberal, democrático, nacionalista e socialista, foi iniciado por uma crise económica na França, e foi a onda revolucionária mais abrangente da Europa, embora em menos de um ano, forças reacionárias tenham retomado o controle e as revoluções em cada nação tenham sido dissipadas".

Deixar que a direita e a extrema-direita se apropriem, mesmo que do ponto de vista semântico, de movimentos que são o seu oposto talvez possa passar em sítios em que se deixou aquelas todo o espaço para crescerem.
Mas aqui não pode passar

Anónimo disse...

As queixas e as acusações de "semelhança de retórica" são um novo ( não tão novo assim,confessemos) processo de "estigmatização" dos outros, já tornado visível e duma forma um pouco sórdida com a questão do Brexit.
Quem era pelo brexit era de início um perigoso extremista, expressão matizada posteriormente para um "porteiro" que abriu a porta à extrema-direita. Um jogador a fazer o papel do adversário ou algo do género.

Este processo em torno do Brexit foi desmontado e tem sido desmontado o que tem posto em evidência que também aqui a desonestidade intelectual não compensa. E que o medo pode já nao servir como espantalho para ganhar os demais para as suas causas.

Mais. O que se torna a cada dia que passa mais evidente é que o deixar à direita e à extrema-direita bandeiras que são dos povos e das classes trabalhadoras é objectivamente insuflar aqueles movimentos com quem se lhes deviam opor.

Anónimo disse...

Os termos "populismo" e "deriva populista" são outra curiosidade linguística.

São usados hoje por tipos tão execráveis como Barroso ou Assis.São de resto usadas por todo o entulho eurocrata e do directório, , por todos os chefes de estado e afinsquando se sentem ameaçados pelo opinião pública e pelos processos eleitorais. Aqui curiosamente já não causa espécie a companhia com quem utiliza sistematicamente tal linguarejar.

Linguarejar usado precisamente por quem é responsável pela presente situação . Que nega as suas responsabilidades. E que quer manter o seu status quo

Anónimo disse...

"o que se passa na Europa do Sul, nomeadamente na Grécia, não é um movimento de resistência revolucionário contra um poder imperial".

Isto será uma espécie de defesa envergonhada do poder imperial da UE? Um convite à submissão porque eles até não são "imperiais"? Um convite à traição porque eles são tão mais fortes?

Não sabe, não pode, não consegue Jaime Santos ver que não chegámos até aqui pelo capricho dos deuses. Que quem nos conduziu até aqui são precisamente os mesmos que estão ali.

Não ver o que está à volta é enterrar a cabeça na areia. Confirmado por esta patética afirmação sobre o que se passa na Grécia : "depois da capitulação de Tsipras, este viu a sua conduta ser sufragada pela maioria dos Gregos".

Quem trai as expectativas dos povos mais tarde ou mais cedo tem o seu julgamento aprazado. Em substituição de Tsipras virão em breve aqueles pelos quais aqui Jaime Santos se fartou de alertar em relação ao Brexit.
Quem trai abre a porta aos adversários.

O mundo, a Europa, também aqui as coisas não param. E depois não se diga que não foi à falta de avisos

Anónimo disse...

É falso ( logo desonesto ) dizer que João Rodrigues não tem proposto alternativas e não tem alertado para os custos destas.

Tem feito isto e tem feito mais, algo que Jaime Santos sistematicamente oculta. Tem chamado a atenção para os custos da não alternativa. E tem cotejado os custos e as consequências e tem-os incitado a usar a nossa própria cabeça

Anónimo disse...

Quanto à expressão "não há almoços grátis" é uma expressão de que não gosto. Mesmo nada

Quem usa na lapela o slogan dos almoços grátis é um papa-hóstias, amigo confesso doutro de hóstias papadas, que assumiu até há pouco o cargo de presidente da república.

Vejamos a sequência. Friedman populariza uma frase sobre a ausência de almoços grátis. Um pequeno lambe-botas da igreja, de cavaco e assumidamente traste hipócrita confesso que tem lugar cativo na imprensa dita de referência e de nome César das Neves, repete à exaustão a frase aprendida com o amado e pinochetiano mestre.

Alexandre Abreu num excelente post demonstrou que "não só existem almoços grátis, como existem almoços que só são servidos de graça".
http://ladroesdebicicletas.blogspot.pt/2014/08/almocos-gratis-e-facturas.html

Carlos Sério disse...

Investimento? Investidores? Que é isso? Eles só investem, só há investimento se os Bancos lhes emprestarem dinheiro e os bancos estão falidos. E, enquanto os bancos estiverem neste estado não há investimento. Os investidores investem as ideia não o seu dinheiro.

Jose disse...

Um verdadeiro pântano intelectual sempre que a esquerda ensaia falar de investimento privado.
Pois se a propensão ao investimento lhes soa a propensão à exploração dos coitadinhos!

Sabem que não sobrevivem sem investimento privado, mas sabe-lhes a óleo de fígado de bacalhau em estado puro.
A solução, camaradas, é a revolução, proletária, socialista, totalitária e total. Mas cadê o que se precisa para isso?

Um pântano em que o das 13:36/49 estrebucha em tons de ridículo!

Anónimo disse...

Pânico intelectual?

Mas que raio é isto?

Mas o candidato a professor sobre economia básica agora propõe-se também a umas explicações sobre o "pânico intelectual"?

O pânico que sentiu em 1974? As manifestações orgânicas do tal pânico foram esquecidas ou apenas se tratou de pânico de pânico não intelectual?

Anónimo disse...

Exploração dos coitadinhos?

Esta faz lembrar o tipo que anda por aí a dizer que não quer saber das condições das pessoas... antes da Revolução francesa e antes da instituição da choldra.

Voltámos asism ao discurso dos coitadinhos, o tal discurso pesporrento ungido pelo Passos e pelo Relvas. A "agenda dos coitadinhos" escondida tão cuidadosamente na batina e que agora vê a luz do dia desta forma destrambelhada

A irritação e o desnorte aí presentes e a comprová-lo, na sua exacta medida, aí está o estrebucho que invoca

Anónimo disse...

Jose com herr ou sem herr.

Se não sabe que há investimento público para além de herr é outra coisa.
A solução, pode dizê-lo aos seus camaradas, é por exemplo nacionalizar a banca. E pô-la ao serviço da economia e não dos lucros e apetites privados.

(Lembra-se das odes de amor que fazia aos banqueiros? Vamos lá lembrar?)

Anónimo disse...

Jose,

pantano são os teus amiginhos do psd/cds todos 'orientados' nas 'empresas' com quem les fizeram negócios em nome do Estado.

Atão, quando é que compram o bilhete de ida pó doutoure duarte lima em SAQUAREMA se ir defender de tão sórdido complot judaico-comunista ....

Anónimo disse...

Jaime Santos é sistematicamente desonesto. Nada do que João Rodrigues ou a esquerda da esquerda defendem e propõem como solução passa pelo que diz essa extrema direita e que se pode ler em artigo de Pedro Góis saído no Público:

«O […] Grupo de Visegrado é composto pelos governos/governantes da Hungria, Polónia, República Checa e Eslováquia (não confundir com os povos destes países). A este grupo […] juntam-se, por afinidades eletivas, governantes de outros países (a Ucrânia, por exemplo) e têm um potencial de agregar […] outros países das mesmas geografias políticas e sociais.

O grupo de Visegrado prepara-se para defender na próxima Cimeira de Bratislava uma posição […] que podemos apelidar de nacionalismo partilhado […]. Um nacionalismo de oposição às migrações, aos refugiados […] à diversidade que nos caracteriza enquanto UE a 28. Impedir a chegada, trânsito ou permanência de migrantes étnica ou religiosamente distintos das suas populações é um ponto de união entre este grupo de 4. Desafiados pela história de uma Europa sem Fronteiras, os membros do grupo de Visegrado escolheram um caminho de porta fechada.

Chamados a construir, em conjunto, uma Europa de valores, rejeitam ser solidários face aos outros Estados-membro e cerram fileiras protecionistas quanto à liberdade de circulação de seres humanos. Não aceitam acolher refugiados. Opõem-se à recolocação dos requerentes de asilo que já estão na União Europeia. São contra o caminho seguido até aqui. Tudo está errado nas políticas europeias de migrações. […] referem-se a Átila, o huno, como o antepassado da horda de refugiados e migrantes que agora querem invadir a Europa. Não têm pejo de associar refugiados e terrorismo, migração e medo. […] Querem menos. Menos estrangeiros, menos muçulmanos, menos integração, menos diversidade.

A sua posição conjunta é […] um desafio inaceitável à nossa história comum, ao humanismo europeu, aos nossos deveres conjuntos enquanto cidadãos de um espaço humanista.

As migrações são um colossal desafio para a Europa atual. Não são um desafio pelo número. Não são um desafio pelo seu impacto económico ou social. São um desafio porque estão a gerar um discurso de ódio protecionista, de ódio nacionalista e de oposição à diversidade. Em Bratislava (e nas cimeiras que se seguirão) ou fechamos a porta aos migrantes e refugiados (como pretende o grupo de Visegrado) ou somos capazes de encontrar um consenso entre os medos e as necessidades de seres humanos iguaizinhos a nós.

Se aceitarmos o medo, o protecionismo nacionalista, o discurso populista e fácil de quem tem uma solução, então, estamos condenados a perder este desafio. A um desafio colossal só a coragem da generosidade será capaz de fazer frente. Não há outra opção que não seja deixar a porta aberta às migrações, aos refugiados, à diversidade»

Jose disse...

«Não há outra opção que não seja deixar a porta aberta às migrações, aos refugiados, à diversidade»

Eis um novo candidato a beato, ou alguém preocupado que não lhe venham a pagar a pensão.
E quanto à necessária generosidade, a probabilidade é que seja a generosidade dos outros.

Anónimo disse...

Duma espécie de professor frustrado de economia básica a ver se vende a sua ideologia, ao invectivador rancoroso da comunada, do invocador de pântanos ao ignorante da existência de investimento público, do portador de pânico intelectual ao estrebuchador apanhado na volta dos dias , o das 19 e 07 volta agora, inquieto.

Então há candidatos a beato e ele não foi informado? Não lhe pediram conselho? Não o inquiriram para dar o seu acordo?
A ele, o Beato-mor, que gosta tanto de Torquemadas em particular, como da santa Inquisição em geral?

Anónimo disse...

O que quererá dizer quando fala em "preocupado que não lhe venham pagar a pensão"?
Vai voltar aos tempos em que bramava contra as pensões, em que se babava pela descida destas?

E agora, já neste governo, em que veio aqui chorar a favor das pensões, qual hipócrita ideologicamente avençado?

A generosidade dos outros e a generosidade do próprio? Como quando gritava que se estava a marimbar para as condições de vida dos desgraçados, dos plebeus e dos burgueses no período antes da Revolução Francesa?