sábado, 24 de outubro de 2015

Leituras


«A indigitação de Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro pelo Presidente da República é juridicamente sustentável e politicamente legítima e não constitui uma surpresa. Se a declaração do Presidente da República se ficasse por aqui, não haveria muito mais a dizer (...). Só que Cavaco Silva (...) quis sugerir que irá até onde for preciso para manter o BE e o PCP fora do poder ("é meu dever tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados, pondo em causa a confiança e a credibilidade externa do País"). (...) Pode esta loucura anti-democrática de Cavaco levá-lo a manter um governo de gestão PSD-CDS no poder até que outro presidente possa dissolver a Assembleia da República? A resposta sensata é não.»

José Vítor Malheiros, A Cavacada

«Cavaco não usou justificações democráticas e constitucionalmente sustentadas. Pelo contrário, adotou uma postura autocrática, tornando claro a uma parte do país que o seu voto e ideias cheiram mal - parte do país que, curiosamente, serviu para derrubar em 2011 um governo contra o qual reclamou "um sobressalto cívico". Para Cavaco, BE e PCP só dão jeito para deitar abaixo governos, nunca para os sustentar. E se os portugueses decidiram nas urnas virar a página, Cavaco cá está para lhes emendar a mão. Independentemente da vontade dos eleitores, o homem que ocupa Belém com a mais baixa votação e pior aprovação de sempre quer impor a sua, brandindo, como tantos, de Avillez a Barreto, fizeram nos últimos dias, a sua moca de Rio Maior. Ganha a verdade e a clareza, se tivéssemos dúvidas.»

Fernanda Câncio, Cavaco de Rio Maior

«Cavaco tem ainda razão noutro ponto do seu discurso: é ao Parlamento e aos deputados que cabe, em consciência, apreciar o programa de Governo. Ou seja, não lhe cabe a si. A intervenção de Cavaco foi por isso boa para um líder de claque. Decididamente, não é uma intervenção de um Presidente da República. (...) O discurso presidencial foi, na verdade, um insulto à democracia. Cavaco andou uma semana a apelar ao compromisso e ao diálogo, mas falou ao país de fantasmas e fez uma "declaração de guerra". Em resumo, o voto de um milhão de pessoas do nosso país não conta: a CDU e o Bloco de Esquerda seriam uma espécie de excrescência da democracia, vedados do direito de fazer parte de qualquer solução governativa.»

José Soeiro, A ameaça de um sequestro

«O senhor presidente da República disse que tinha acabado aqui o tempo do presidente. Eu infelizmente não vi nenhum presidente. O que eu vi foi uma declaração golpista de direita, que sequestra o parlamento e que faz uma coisa ainda pior (...), a exclusão de três partidos políticos, que são legais e que desenvolvem a sua actividade de forma legal em Portugal, que participam em eleições. E outra coisa que o senhor presidente da República fez hoje, que foi apelar a uma sublevação num grupo parlamentar de um partido que tem regras. E portanto, a todos os níveis, não foi a intervenção de um presidente da República, foi a intervenção de um golpista, absolutamente inaceitável e lamentável. Envergonha o país, envergonha a Constituição da República Portuguesa, devia envergonhar qualquer democrata.»

João Galamba (programa As Palavras e os Actos)

11 comentários:

meirelesportuense disse...

Creio -já o afirmei aqui- que foi lamentável a posição assumida pelo PR na sua comunicação ao País indigitando Passos Coelho.
Cavaco Silva mostrou mais uma vez a sua mentalidade autocrática.
Nada que possamos estranhar se olharmos bem para o seu percurso Político, percebe-se que Cavaco só se sentiu mesmo bem quando esteve no ex-Ultramar na década de 60 com direito a casa, esposa e piscina...Mas já não estamos no período do Estado Novo. E Cavaco ignora isso, sonha com o regresso ao passado, mas é inevitável meu caro, o regresso já não é possível e basta olhar-se ao espelho, ver o seu aspecto actual, envelhecido, disperso, com dificuldades motoras, até o seu penteado à francesa está ultrapassado e caduco.
Viva a República Portuguesa!

Anónimo disse...

Agora percebo o porquê dos comentários desse indivíduo, em tempos, de que a pensão quase não lhe chegaria para as necessidades... de facto, aquilo que aufere não lhe permitirá adquirir um cérebro novo e funcional.

Jose disse...

Cavaco é a peste encarnada para toda a esquerda.

Logo agora que ganhavam o poder perdendo eleições, logo agora que produziam programas ao centro para sustentar desvios à esquerda, logo agora que podem anunciar que quer a 'verdadeira' esquerda quer a esquerda LGBTUVXZ se prestava ao papel de guarda pretoriana!
E não é que a afamada 'múmia' de Belém proclama que tem autonomia para ler resultados eleitorais e que vai daí, se não pode dizer como governarão os governos, diz poder dizer que governos podem formar-se?
E os novos génios da política que assim vêm perturbada tão elaborada congeminação, perguntam-se como é possível que tal coisa possa acontecer; como pode entender-se que quem é eleito para enfeitar o parlamentarismo da República possa condicionar os seus mais lídimos próceres!
A seguir em próximos capítulos.

fernanda disse...

Que Cavaco esteja caduco não é assim tão grave, o que é preocupante é que haja muitos por aí que, com penteados modernos, alojam ideias tão caducas quanto as dele. Não esqueçamos que o dito 'senhor' foi eleito por voto popular por duas vezes e continua a ter aqueles que o criticam mas que nos momentos de aperto cerram fileiras por detrás dele.
Quer-me bem parecer que ele vai mesmo nomear um governo de gestão e que será melhor a esquerda encontrar uma forma criativa de se lhe opor a fim de capitalizar dividendos para próximas eleições. Aqui a retórica e o domínio do simbólico terão um papel crucial. Portanto, os poucos jornalistas e comentaristas progressistas que ainda resistem ao bloqueio deveriam começar a pensar seriamente em encontrar slogans poderosos e pregnantes para passar ideias; não esqueçam que atualmente é este o formato de comunicaçao que atinge objetivos; na maior parte das pessoas a iliteracia informativa é a nota dominante.

Carlos Sério disse...

Com vistas curtas parece que Cavaco, pateticamente, se quer substituir ao senhor Schauble.

Alice disse...

"É meu dever tudo fazer para impedir que sejam transmitidos sinais errados às instituições financeiras, aos investidores e aos mercados [...]"
Assim nos explica quem são os seus senhores e nos mostra a sua interpretação peculiar (e inconstitucional) da Constituição, de onde, afinal, infere ser o dever do Presidente da República cuidar dos interesses das instituições financeiras, dos investidores e dos mercados...

meirelesportuense disse...

Zézinho:
-Peste Encarnada Não, Peste Negra!...Ou Febre Amarela, ou Gripe Asiática.
Mas Múmia de Belém, também lhe fica Muito Bem.
-Belos e gloriosos tempos aqueles em que ele ia para Moçambique matar pretos e comunas!
-Pretos e Comunas, duas facetas esplêndidas, para expôr depois, espetadas em paus afiados, à extasiada Maria!...Agora tem que se cingir a admirar umas malas ou uns sapatos de São João da Madeira, umas peças congeladas na DocaPesca, ou uns presuntos regados com Licor Beirão.
-Anda Maria, vamos embora, resta-nos a Quinta da Coelha e os numerosos troféus coleccionados ao longo de toda a nossa vida! A propósito, já te depositaram a Pensão na CGD?...

meirelesportuense disse...

Fernanda: -O Governo mesmo que seja indigitado como de Gestão terá apenas 2/3 meses de existência, Cavaco vai embora entretanto e outro Presidente será eleito.
Logo, há esse aspecto crucial no nosso horizonte. Unidade na eleição do próximo Presidente da República!

meirelesportuense disse...

Relembrando uma frase de Sócrates hoje em Vila Velha de Rodão, o PR é a Pedra Angular de todo o Sistema Político -tal como gostam de afirmar os acólitos Cavaquistas-, ora a Pedra Angular só cumpre a sua função em pleno em Arquitectura, exercendo a mesma pressão quer à esquerda quer à direita da estrutura que a enquadra, tem que ser completamente paritária, se se inclinar muito para qualquer um dos lados a estrutura cai, inevitavelmente...

meirelesportuense disse...

"...a pedra angular não apoia nem sustenta peso algum, sua função é equilibrar a queda dos semicírculos opostos que se apoiam sobre as colunas que compõem um arco."

"Por essa razão de mediação e equilíbrio, a expressão "pedra angular" é usada, de modo similar à expressão "alicerce", com o sentido de designar algo que seja fundamental, central, num tema qualquer, por exemplo: "A lei é a pedra angular da república", "O amor é a pedra angular do casamento" ou "A qualidade dos ingredientes é a pedra angular da boa cozinha"."

-Como vemos, Cavaco, é mais uma Pedra Desalinhada da Estrutura Democrática -alinhando por uma das suas faces, a de que mais gosta-, do que uma qualquer pobre e simples, mas por isso mesmo exacta, Pedra Angular.

AnaQ disse...

Talvez que, em outras circunstâncias e no seio das instituições do Estado, já era evidente a existência de um apartheid não declarado:sob a aparência de amiguismos, uns tantos tinham plenos direitos dentro da sua profissão, por oposição a outros que pareciam constituir um grupo à parte e desprovido de alguns direitos...Pois bem, com o discurso do nosso PR acabamos de compreender a natureza do apartheid: ou se pertence ao grupo dominante, ou então aceita-se a mera existência do individuo, MAS sem direitos plenos. Ora bem...