sexta-feira, 2 de outubro de 2015

As boas notícias vêm de Inglaterra

Os comentadores locais, seguindo a moda internacional, têm insistido que Jeremy Corbyn, o novo líder do Partido Trabalhista britânico é um radical, um anacrónico, um erro de 'casting', que nunca chegará às eleições legislativas de 2020, quanto mais a Primeiro-Ministro do Reino Unido.

A liderança de Corbyn tem vindo a mostrar que não quer saber desses piropos. Tem estado a preparar-se para fazer um trabalho sério e consequente com aquilo que defendeu desde o início - basicamente, a construção de uma sociedade mais justa. Nesse sentido, constitui recentemente a comissão económica de apoio ao seu 'governo sombra' (onde se destacam Joseph Stiglitz, Thomas Piketty e Marianna Mazzucato), visando preparar propostas sustentadas que permitam ao Partido Trabalhista ressurgir como uma força progressista que não se resigna a prosseguir políticas conservadoras pintando-as de cor-de-rosa.

Num artigo de hoje do Financial Times, o colunista Martin Wolf (cujo último livro "As Mudanças e os Choques" recomendo a todos, de preferência na versão inglesa original, pois a tradução é uma desgraça) chama a atenção para o potencial transformador - e para a razoabilidade - de muitas das propostas que têm sido avançadas, seja nos domínios orçamental, do sistema de impostos ou das orientações do banco central, as quais permitiriam distribuir melhor a riqueza, salvaguardar o Estado Social e diminuir o poder devastador do sistema financeiro.

Ainda é cedo para saber no que isto vai dar. Uma coisa é certa: assim é mais fácil explicar aos eleitores que diferença pode fazer um partido de centro-esquerda.

6 comentários:

José M. Sousa disse...

Jeremy Corbyn’s Necessary Agenda

Anónimo disse...

A minha análise ao discurso de John MacDonnel, 28 de Setembro:

"Austerity is also not just a word for the 100,000 children in homeless families who tonight will be going to bed not in a home of their own but in a bed and breakfast or temporary accommodation. On behalf of this party I give those children my solemn promise that we will campaign for and when we return to government we will build you all a decent and secure home in which to live. Austerity is not just a word for the women and families across the country being hit hardest by cuts to public services. Women still face an average 19.1% pay gap at work. Labour will tackle the pay gap, oppose the cuts to our public services and end discrimination in our society. Whenever we cite examples of what austerity really means the Conservatives always argue that no matter what the social cost of their austerity policies, they are necessary to rescue our economy. Let’s be clear. Austerity is not an economic necessity, it’s a political choice."

Aborda os custos sociais inegáveis que Austeridade, impõe na população.

"If we inherit a deficit in 2020, fiscal policy will be used to pay down the debt and lower the deficit but at a speed that does not put into jeopardy sustainable economic growth. We’ll use active monetary policy to stimulate demand where necessary."

Contudo quer reduzir o défice. Colocar o pais a viver dentro das suas possibilidades. Como é possível serem um partido anti-austeridade e quererem a longo prazo reduzir o défice? Como conseguem estimular a procura, se ao fazerem estarão inevitavelmente a aumentar as despesas e por sua vez défice?

"Let me explain the significance of what we are doing today. We are embarking on the immense task of changing the economic discourse in this country. Step by step: First we are throwing off that ridiculous charge that we are deficit deniers. Second we are saying tackling the deficit is important but we are rejecting austerity as the means to do it."

Aqui de novo a importância dada ao Défice.
Deixa-nos contudo com uma nota de esperança final:

"Third we are setting out an alternative based upon dynamically growing our economy, ending the tax cuts for the rich and addressing the scourge of tax evasion and avoidance. Fourth having cleared that debris from our path we are opening up a national discussion on the reality of the roles of deficits, surpluses, long-term investment, debt and monetary policy. Fifth we will develop a coherent, concrete alternative that grows a green, sustainable, prosperous economy for all."

Espero que não sejam inconsequentes na abordagem que pretendem. A impossibilidade de quererem um estado que ajude a economia e que consiga diminuir o défice ao mesmo tempo.
Espero que os frutos que saírem desta discussão, sejam "maduros".

Francisco

Anónimo disse...

Hollande ... Renzi ... Podemos ... Syriza ... Corbyn ...

Conhece a história do Pedro e do Lobo? Já ninguém liga.

Jose disse...

Provavelmente teremos a senda habitual:
Radicalismo retórico seguido de tímidas reformas, conservando o discurso radical para explosões periódicas.

A idiotice demagógica de manter ilusões radicais e repelir investimento empenhado!

Anónimo disse...

Por recordar o meu avo, lembro do que me dizia, já la vai um bom par de anos, que saudade senhores…Era ele que dizia que os milagres só no estrangeiro, um bom rei só no estrangeiro, um bom politico só estrangeiro e etc. e tal… e interrogava-me, interrogando-se – Porque, se o Planeta era o mesmo, os homens e mulheres deste Portugal pequenino ate deram novos nundos ao mundo?
Pois e´-- os santos de casa não fazem milagres…fiquei a saber!
Outro tempo foi o Victor Hugo de França, o Maquiavel de Itália, o Lenine da Rússia, o Sócrates e Platão da Grécia e Kant da Alemanha. Só muito mais tarde Salazar se lembrou de Camões.
Paris, Veneza, Roma e Constantinopla/Bizâncio e foi preciso um terramoto de 1755/Marques de Pombal para lembrar Lisboa.
Agora interrogo-me eu…será que esta coisa de “Estagnação Mental” Hipertrofia Sistémica, e´ produto genuíno Português?
Os trabalhistas britânicos parece terem descoberto, só agora, um novo messias da política progressista…Já não era sem tempo… E já há quem o queira alcandorar no pedestal dos deuses. Bom, a Esperança e´ o que nos sobra em tempos de crise…”Viva o espirito de 45”. De Adelino Silva


nmlima disse...

Ola. Eu vivo no Reino Unido e tenho acompanhado as recentes vitórias de Corbyn (JC). Ele tem-se aconselhado com diversos economistas para tentar mitigar essa percepção que alguma imprensa tem reforçado de que ele "não passa" de revolucionário ou sonhador.
A promessa de nacionalização das concessões para transporte ferroviário é uma boa ideia para todos quantos vêem os preços a subir bem acima da inflação enquanto os dividendos e lucros dessas concessionárias voam para Françae e Alemanha, cujas operadoras (estatais) de servicos ferroviariod vêem o mercado britânico como uma extra bem lucrativo.

A promessa de quantitative easing para a construção de habitação social e boa ideia para todos quantos vêem os custos com habitacao subir para bem longe do alcance de uma classe média decente, enquanto que as propriedades de suposto luxo são deixadas vazias pelos milionários do Dubai e da Rússia que usam este mercado como uma refúgio para tesouros de proveniência duvidosa.

A população opoem-se ao fracking, mas o PM Cameron mudou as regras para evitar vetos locais. Trata-se de mais uma oportunidade para quantitative easing, a de investir para vivermos num Reino Unido carbon neutral. Claro que a direita já está a meter medo com o fantasma da inflação...
Os bancos nacionalizados em tempo de crise voltaram a dar lucro mas foram vendidos a preço de saldo biliões de libras abaixo do custo que foi nacionalizado. Diz o chanceler que era perverso o Estado deter capital de um banco. FDP.

A governação de Cameron é tão de direita que JC parece um radical de esquerda. Se calhar engano-me, mas creio que o radicalismo destes últimos anos foi o dos Tories. Se eu me naturalizar britânico, JC tem mais um voto.