segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Memória (XV)


«Não me parece que haja, no actual contexto, nenhuma ideia de que um governo - juntando CDS, PSD e Partido Socialista - pudesse sequer funcionar. (...) Todos os sinais que temos hoje é que qualquer coisa parecida com isso (...), não tem nenhumas condições para funcionar. Porque o programa económico é divergente, o modelo económico é diferente, a forma como o Partido Socialista (e já vão em duas lideranças) vem colocando o problema político e económico, mantém o mesmo perfil... E não é conciliável com os objectivos que temos. Quer com as regras europeias, quer com o que tem sido o esforço de modernização e de reforma estrutural da sociedade portuguesa.»

Pedro Passos Coelho, em entrevista ao SOL, antes das eleições legislativas (via As Minhas Leituras).

Por uma vez, estamos de acordo com o primeiro ministro. Como defendi aqui, no final da semana passada, o que está hoje em causa «é a escolha, para o nosso futuro, entre uma economia medíocre, que aprofunda o empobrecimento do país, e uma economia aposta na qualificação do trabalho, na modernização dos tecidos produtivos e na coesão social». Por isso, «pensar que uma e outra se podem conciliar e calibrar, num qualquer Orçamento de Estado negociado com a direita, é não perceber o que se passou nos últimos anos e subestimar a agenda ideológica que se pretende prosseguir, com a ajuda e cumplicidade das instituições europeias».

De resto, é querer «sol na eira e chuva no nabal», como assinala o Pedro Lains: «O PSD quis tudo. Juntou-se ao CDS para ganhar eleições, sabendo que dificilmente os dois teriam maioria absoluta. Não pensou, evidentemente, no dia a seguir. Se tivesse ido sozinho, por causa do método de Hondt, até podia ter tido menos deputados que o PS, mas poderia então lutar pelo bloco central. Assim, o que é que queria? Quer que o PS se junte a toda direita? Não pensaram em tudo, não foi? Agora é tarde. Foi esse quadro que o BE e o PCP viram e avançaram em conformidade, e o PS foi na onda. Para acabar com a austeridade. Qual é o problema? Quiseram tudo, podem ficar sem nada. Fizeram uma campanha dita de sucesso, mas ninguém pensou um minuto no que poderia acontecer à esquerda, e aconteceu. A arrogância paga-se caro».

3 comentários:

Jose disse...

Muito acertado comentário.
As incompatibilidades à partida fazem acordos em negociação.
Onde está o culto do consenso tão laboriosamente defendido durante décadas pelo Charneira?

Mas a hora é de subir ao poleiro pela escada da esquerda.
...
A vaidade é assim,
põe o bobo no alto e retira a escada,
e fica por perto esperando sentada,
mais cedo ou mais tarde ele acaba no chãoooo
...

Anónimo disse...

Bom artigo.

É sempre bom a memória não nos faltar, quando, na comunicação social totalmente ajoelhada, se fala em golpes de estado, em usurpações, em tudo e mais alguma coisa. Agora temos o "convite " de Passos Coelho para o A. Costa juntar-se ao governo.

Dias disse...

Por uma vez também eu estaria de acordo com o PM. Mas…
E a coerência? E o apego ao poder?
Depois de terem queimado Sócrates (por acaso até já foi libertado!) e dos ataques soezes ao carácter de António Costa (a política já foi suspensa), agora acenam ao PS com lugares no governo. Haja alguém quem compreenda tal comportamento…