domingo, 8 de maio de 2011

Uma escolha inadiável

Num artigo muito lúcido no FT a propósito dos rumores sobre a saída da Grécia da zona euro, Wolfgang Münchau termina assim:

«As elites políticas europeias têm medo de dizer a verdade que os historiadores da economia sempre souberam: que uma união monetária sem união política é simplesmente inviável. Isto não é uma crise da dívida. Isto é uma crise política. A zona euro estará em breve confrontada com a escolha entre um inimaginável passo em frente para a união política ou um igualmente inimaginável passo atrás. Sabemos que o Sr. Schäuble [ministro das finanças alemão] equacionou, e rejeitou este último. Também sabemos que ele prefere o primeiro. Está na hora de o dizer.»

Óptimo. Já sabemos qual é a escolha do ministro das finanças da Alemanha. Só falta saber qual é a escolha do povo alemão.

6 comentários:

Nuno disse...

Aquilo que parecia impensável há uns tempos será uma inevitabilidade para breve.

Infelizmente parece que a cada dia que passa qualquer uma das hipóteses fica cada vez mais inviável politicamente, com o azedar de relações e emergência de preconceitos culturais traduzíveis em programas de austeridade retaliatórios.

Como para trás já não vamos, será que os alemães gostarão de ter mais umas RDAs para suportar e os portugueses da ideia de suserania?

tempus fugit à pressa disse...

unidade política numa manta cada vez mais retalhada e em crises várias....

sinceramente

isto é ficção político-económica?

Zuruspa disse...

Para começar, isso da Grécia säo BOATOS, e näo rumores. Escrever em português europeu precisa-se!

E depois, näo passam disso, BOATOS, porque os alemäes (governo e povo) sabem bem que sem Euro näo conseguem manter a procura dos seus produtos. O que näo me chateia de maneira nenhuma, porque os produtos alemäes säo de alta qualidade.

Entäo a resposta aos BOATOS sobre a saída da Grécia será de acelerar a uniäo política? uGA-se, já näo era sem tempo!

João Carlos Graça disse...

É bom que se reconheça que a estrutura institucional da UEM é não apenas economicamente complicada como politicamente indefensável por quem argumente com base em ideias democráticas. Naturalmente, quando se chega a um ponto de defender o explícito protectorado, como acontece (e muito, e mesmo "à esquerda") entre nós... bom, então aí temos toda uma outra conversa, claro.
Mas deixo isso. Se não é esse o caso, é bom que pensemos as dificuldades de fundo (estatuto do BCE, primazia da estabilidade de preços, etc.), mesmo independentemente ou para além das aflições de momento, da misericórdia que a "Alemanha" tenha ou não tenha por nós, etc.
Porque se não pensarmos, o que acabaremos por ter, parece-me, é um aceitar mais ou menos resignado por parte das populações das periferias... e a verdade é que essa trajectória, promovida explicitamente pelas direitas "europeias" (PSs incluídos), é algo relativamente ao qual as próprias esquerdas perdem legitimidade para se opor, aceitando elas que dependeremos naturalmente da benevolência das decisões tomadas por órgãos que assumidamente não elegemos, que viveremos indefinidamente de subsídios ou de transferências... que aliás não existem ou quase, etc., etc.
Em suma, e no meu modesto ponto de vista, democraticidade da estrutura política antes de mais. Portanto, saída. E depois, só voltar a entrar-se se as condições forem radicalmente diferentes das que presidiram à fundação da UEM realmente existente.
Senão, não. Mais vale, nesse caso, permanecer de fora. A prazo será melhor também para a economia. Mas acima de tudo, será infinitamente mais satisfatório do ponto de vista da "saúde democrática" do sistema político.
Sinceramente, acho estranha a escassez actual de lucidez na consideração deste problema... É como se o ambiente político já estivesse todo ele narcotizado pela ideia de inevitabilidade de pertença a uma Eurolândia que de facto (e de jure) não é democrática, bem pelo contrário. Talvez seja só problema meu, talvez seja. Mas de facto acho...

Maquiavel disse...

A inevitabilidade de pertença a uma Eurolândia que de facto (e de jure) não é democrática, bem pelo contrário, está nos "estatutos" da UE.

A Dinamarca está basicamente fixa ao Euro (+-2%), a Estónia também o esteve durante 10 anos (e por isso o rombo näo foi täo grande como nos países vizinhos).

O que se viu é que os países que näo estavam indexados ao Euro viram as suas moedas definhar, sem os tais ganhos de competitividade externa. Veja-se a Hungria... mas também o Reino Unido!

João Carlos Graça disse...

Caro Maquiavel
Tem razão em lembrar que saída da Eurolândia, só por si, não resolve as coisas. Mas isso não obsta a que possa ajudar (as comparações "tudo o mais permanecendo igual" são evidentemente impossíveis...)
O que me faz mais espécie, porém, é este contributo da esquerda para que se continue a "viver em negação", de tal forma que o espaço da verdade ("andare drieto alla verità effetuale della cosa", etc.) acaba por ter de ser ocupado por manobrismos e intrigas palacianas. Ver aqui o texto do Varoufakis, sff: http://mrzine.monthlyreview.org/2011/varoufakis070511.html
Se isto não é a definição mesmo de miséria política...