quarta-feira, 25 de maio de 2011

Portugal não vai conseguir pagar a dívida

Nunca citámos tanto Krugman como agora, mas é óbvio que o argumento de autoridade ajuda a passar uma conclusão que devia ser evidente para todos: uma economia anémica com problemas estruturais de competitividade, para mais sujeita a um programa procíclico selvagem em plena recessão, não consegue pagar empréstimos com este tipo de juros - nem os dos contratos antes contraídos, nem os que vêm associados ao pacote BCE-FEEF-FMI. E desta vez nem falo dos efeitos distributivos desse programa de austeridade. Por isso talvez fosse bom que se abandonasse as conversas sonsas em torno da boa fé de Portugal como devedor e se encarasse a realidade - em moldes democráticos e mais cedo do que tarde.

9 comentários:

António Araújo disse...

Não é suposto pagarmos a dívida...apenas que aguentemos um pouco a farsa para dar tempo aos bancos alemães de descalçar a bota...o que parece que não querem aceitar é que também isso será provavelmente impossível.

Teófilo M. disse...

Mas isso é conversa que interesse a alguém?

Diogo disse...

A arrogância com que vocês, ladrões de bicicletas, colocam nos vossos artigos, falando do alto das «cátedras» de umas colunas em jornais, imaginando-se uns «iluminados», coadunam-se pouco com a realidade. Deixo-vos um pequeno trecho deste link:

Economy Is Not A Science

Frederick Soddy turned the scientific world on its head, by proving the divisibility of the atom. Later Soddy won the Nobel Prize for discovering the existence of isotopes. Soddy was a serious scientist. He was also an underground economist. And he turned the upside down world of economics right side up again. Here’s his conclusion: "I thought that, as a scientific man, I ought to know something about economics. So I studied the money system for two years and could make nothing of it. Then, one day, the truth dawned on me. What I was studying was not a system, but a confidence trick." He also concluded economists were incompetent, and economics pretended to be a science. But it wasn’t a science, which is why everyone has such a hard time understanding it. Frederick Soddy, Nobel laureate in chemistry, decided that economists’ dangerous drift into pseudo-scientific abstraction must be halted before they destroyed industrial societies, because their uninformed ideas contravened the first and second laws of thermodynamics. Now, the family of Alfred Nobel, led by lawyer Peter Nobel, has disassociated itself from the Bank of Sweden Prize in Economics In Memory of Alfred Nobel.

Alexandre Abreu disse...

Caro Diogo,
Gosto imenso de discutir epistemologia, mas não entendo os seus argumentos. O que é que entende por ciência? Reconhece as ciências sociais de uma forma geral? E porque é que a economia contraria as leis da termodinâmica?(Já agora e ainda sobre termodinâmica, recorda-se que os sistemas sociais são sistemas abertos?) E olhe que estou longe de estar a defender a economia enquanto tal, especialmente na versão dominante - agrada-me muito mais uma ciência social pós-disciplinar. Quanto aos efeitos perniciosos de muita teoria económica, com ou sem termodinâmica, digo-lhe que só pode estar a falar sem conhecer o que se escreve neste blogue...

Diogo disse...

Eu sigo razoavelmente o que se vai escrevendo neste blogue. Para muitos, a ciência é o esforço humano para descobrir e aumentar o conhecimento de como a realidade funciona. Acontece que este blogue parece-me mais preocupado com a correcta utilização de uma determinada gíria do que procura do conhecimento em si.

Já agora (e a propósito), o que é uma ciência social pós-disciplinar? Um conjunto de palavras ocas?

Alexandre Abreu disse...

Pedindo emprestados alguns dos seus termos, ciência social pós-disciplinar é o esforço humano para descobrir e aumentar o conhecimento de como a realidade social funciona, não reconhecendo validade externa ou utilidade à divisão desse esforço em disciplinas (história, economia, sociologia, antropologia, ciência política) que são um produto particular da visão do mundo dominante no mundo europeu do séc. XIX.

Dias disse...

Acho que Krugman acerta.
É um facto que há dados objectivos para resolução do “problema” da dívida. Ou melhor, para a sua insolvência, como aqui já foi mostrado.
Que a economia seja uma ciência social, é assunto marginal na discussão em apreço.

Diogo disse...

Então porque não lhe chamar muito simplesmente uma ciência social holística?

Pós-disciplinar? Continuam os tiques do mofo académico com o objectivo, não de esclarecer, mas de embrulhar um conceito simples numa resma de jargões destinados a ser entendidos apenas por uma pseudo «elite».

João Carlos Graça disse...

Tem toda a razão, caro Alexandre. Pena que o ambiente geral seja "more heat than light"...
Em todo o caso, obrigado pela paciência.