domingo, 22 de maio de 2011

Para reduzir a desigualdade

O economista Nuno Ornelas Martins escreveu um artigo no Le Monde diplomatique - edição portuguesa deste mês sobre as causas da actual crise: os "três DR", ou seja, a "Distribuição do Rendimento", os "Desequilíbrios Regionais" e a "DesRegulação". Trata-se de um excelente exercício de divulgação académica e de intervenção no campo da política económica. Aqui fica um excerto:

Poderemos não estar todos de acordo sobre o grau de igualdade que deverá existir na sociedade ideal. Mas não é necessário haver acordo sobre que distribuição de rendimento é a ideal para concordarmos que a desigualdade na distribuição de rendimento actualmente existente é muito superior ao que seria razoável em qualquer sociedade ideal concebível. No limite, mesmo aqueles que acreditam que a desigualdade na distribuição é necessária, por exemplo porque acreditam que a «natureza humana» implica a existência de incentivos a quem trabalhe mais, aceitarão que não é necessária uma distribuição do rendimento tão desigual para que existam esses incentivos.

Amartya Sen resume bem esta questão ao argumentar que em muitos casos não precisamos de concordar acerca do que será a sociedade ideal para sabermos que um determinado caminho trará uma sociedade melhor. Neste caso concreto, não é preciso que todos concordem com uma sociedade perfeitamente igualitária para se reconhecer que a sociedade tem de ser mais igualitária do que tem sido. A discordância não reside no caminho a tomar, mas na questão de até onde se deverá prosseguir nesse caminho.

John Maynard Keynes nota que existem não só razões éticas, mas também razões económicas, para uma maior igualdade. Uma distribuição de rendimento mais igualitária implicará um maior nível de rendimento para os indivíduos que têm maiores necessidades de consumo, que são aqueles com menor rendimento. Deste modo, haverá mais consumo, logo uma maior procura efectiva, e por conseguinte um efeito positivo na economia, o que contribui para se recuperar de uma crise como a actual.

Naturalmente, se uma distribuição menos desigual do rendimento implica mais rendimento para quem consome mais, implicará menos rendimento para quem poupa mais. A questão que se coloca é a de saber se uma distribuição de rendimento mais igualitária levará a uma redução da poupança que reduziria o investimento − como é pressuposto na teoria económica ortodoxa, que se preocupa mais com a poupança do que com a igualdade na distribuição do rendimento, acreditando que o aumento da poupança é fundamental para o investimento.

Keynes considerava que um aumento da poupança não levaria necessariamente a um aumento do investimento e do produto, pois essa poupança poderia ser entesourada, especialmente num contexto de crise. Para Keynes, o investimento não é determinado pelo nível de poupança, mas pela expectativa de ganho do investidor. Esse nível de investimento, por sua vez, gerará um nível de produto que originará um nível de poupança compatível com o investimento efectuado. Logo, uma distribuição mais igualitária não implica menos investimento.

Concordemos ou não com a totalidade da análise keynesiana, poderemos pelo menos aceitar que não há necessariamente incompatibilidade entre a sustentabilidade económica e a sustentabilidade social do processo de desenvolvimento, ou uma incompatibilidade com uma concepção ética que enfatize uma distribuição mais igualitária do rendimento, uma vez que uma distribuição de rendimento igualitária tem efeitos benéficos para a economia. Aliás, é essencial uma distribuição de rendimento mais igualitária para assegurar a manutenção da procura.

5 comentários:

Anónimo disse...

Vamos lá pessoal! consumam para salvar este capitalismo ou, então, poupem para encher o bandulho aos bancos.

Anónimo disse...

Isso das desigualdades tem muito que se lhe diga. Se o dinheiro existente no mundo fosse distribuido igualmente por todos, 1 hora depois já nada seria igual. Uns teriam poupado investido, rentabilizado e teriam mais dinheiro. Outros, pelo contrário, teriam ido ao restaurante ou teriam comprado marisco em vez de carapaus de gato, teriam comprado um carro, viajado para o estrangeiro e já estariam depenados. Por isso eu não quero igualdade tipo pcp ou be que querem tudo o que os outros conseguiram com o suor do seu rosto. Trabalhem que trabalho não falta. Há por aí muitos anúncios pedindo trabalhadores ou trabalhadoras, há muita gente de leste, do Brasil e de outros países a trabalhar em Portugal. Muitos portugueses não querem trabalho querem emprego e se possível lugares de chefia. Igualdade no esforço e, então, poderá haver igualdade nos rendimentos. Caso contrário os mandriões bem podem inscrever-se no pcp ou be que serão sempre uma minoria a querer comer o trabalho dos outros. Bem os conheço!

tempus fugit à pressa disse...

Concordemos ou não com a totalidade da análise keynesiana....

Concordemos ou não com a totalidade da análise social e económica...

apesar disso deveremos ter fé nas premissas dos outros

sei não nã m'agrada o postulado

The ordinary multiverse with its infinitely many bubbles whose possible vacuum states are located in 10^{500} different stationary points of the stringy configuration space was way too small for them. So they invented a better and bigger multiverse, one that unifies the "inflationary multiverse

parece-me muito com este...

Miguel Correia da Torre disse...

Se Keynes ouvisse o aproveitamento que fazem das suas ideias...voltava a este mundo!

Zuruspa disse...

Anonimozinho, nos países mais "iguais", que säo os do Norte da Europa, é onde existe melhor nível de vida, mais democracia, menos corrupçäo. Pensa antes de falares em PCP e BE. É que no Norte até os conservadores fazem pol+iticas mais à esquerda que o PS.

Quanto aos mandriöes, concordo. Mas eles näo estäo no PCP nem BE, estäo é mesmo filiados no PS e PSD, a ver se um amigo lhes arranja tacho, que trabalhar faz calos e suja as mäos! Mas todo o dia rosnam que o defensores da igualdade querem "comer do trabalho dos outros"! Bem os conheço!