quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Vai uma corrida?

Aparentemente desde 1866 que não verificava uma corrida a um banco no Reino Unido. A desconfiança generalizada em relação à situação financeira do Northern Rock levou recentemente muita gente a tentar retirar as poupanças do banco em questão o mais depressa possível. Do ponto de vista individual trata-se de uma decisão movida por boas razões, mas do ponto de vista colectivo, dado o efeito cumulativo de cada uma dessas decisões, pode gerar-se uma situação irracional que poderia frustrar aquilo que impeliu cada um dos indivíduos a agir: salvar o dinheiro depositado. Isto porque o banco não tem como satisfazer simultaneamente os seus compromissos com os depositantes (a suas reservas não chegam para cobrir todos os depósitos). O somatório destes comportamentos descoordenados poderia ser assim o incumprimento e a falência.

Até meados do século XIX, os bons velhos tempos do liberalismo, as corridas aos bancos eram muito frequentes porque não existiam mecanismos de regulação pública que garantissem de alguma forma os depósitos e sobretudo porque não se tinha ainda consolidado a ideia de um credor de última instância (Banco Central) que injectasse liquidez no sistema e assim estancasse a onda de desconfiança. Estes dispositivos existem (embora na Grã-Bretanha os mecanismos de garantia sejam menos robustos do que noutros lugares e por isso talvez este triste episódio tenha aí ocorrido). Mas nos momentos de instabilidade vê-se que por detrás de um sistema liberal (e a assegurar a sua reprodução) está sempre a mão firme do Estado a salvar, pelo menos por enquanto, a situação. Não me parece que a culpa possa ser atribuída assim tão facilmente ao governo britânico. Afinal de contas foi o banco que pediu auxílio. E na ausência de regulações mais robustas, que controlem o comportamento das instituições financeiras, as dinâmicas concorrenciais da «anarquia de mercado» como que «coagem» inevitavelmente os bancos a comportarem-se de forma crescentemente aventureirista na fase ascendente do ciclo. Os «moralismos» são aqui dispensáveis. É preciso olhar para a estrutura que gera estes comportamentos. Há aqui questões difíceis, que os liberais têm de enfrentar, como este artigo de Martin Wolf bem ilustra.

1 comentário:

NC disse...

«Não me parece que a culpa possa ser atribuída assim tão facilmente ao governo britânico.»

Claro que não. A culpa foi do estúpido responsável do Northen Rock que veio pedir aos clientes que não realizassem levantamentos.

http://vistodaeconomia.blogs.iol.pt/4914/

Em Finanças isso chama-se suicídio.