domingo, 16 de setembro de 2007

Luta das ideias

A. Cabral acha que eu tendo a exagerar o papel que as ideias e os intelectuais desempenham na evolução das sociedades. Bom, talvez eu tenda de facto, por defeito de formação e por considerar que a dimensão da luta das ideias foi e é muito descurada à esquerda, a sobrestimar a importância das normas, dos valores, das ideologias que a cada momento se vão forjando e que definem a forma como os indivíduos interpretam o mundo, as opções que tomam e as alterações nas «regras do jogo» que decidem promover.

Prefiro pecar por excesso do que deixar-me aprisionar em interpretações que tendem a confiar na bondade de um activismo sem bússolas ou na ilusão de que as forças da história trabalham de alguma forma a favor dos projectos socialistas. Prefiro assim enfatizar o papel da produção e da difusão das ideias, a forma como certas instituições (academia, comunicação social e outros aparelhos ideológicos) tendem a robustecer determinadas agendas políticas, a forma como estas circulam e moldam os termos dos debates e a percepção dominante do campo dos possíveis. Produção, circulação e popularização de ideias, construção da hegemonia, acção política deliberada.

As vitórias do neoliberalismo também passaram e passam por aqui. Embora saibamos que o combate é desigual, aprendamos então com a «direita gramsciana». E lembremos, com Marx, que «as ideias são uma poderosa força material»...

2 comentários:

A. Cabral disse...

Desconfio da Lei de Say na economia intelectual: a producao das ideias nao gera a sua propria procura.

Encontrar familiariade entre o neoliberalismo concretizado e as ideias de grupusculos de intelectuais nao garante que os ultimos geraram o primeiro.

E' preciso estudar como as ideias circulam. E' preciso uma historia das massas que produzem, consomem, e votam, e nao somente dos discursos dos ilustres.

João Rodrigues disse...

1. Não gera automaticamente a sua própria procura. Concordo.

2. Não garante, mas pode ajudar a expicar. Sobretudo quando os grupusculos assentam arraiais no centro do debate político e deixam de o ser.

3. Aqui está uma bela agenda de investigação.