quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Sensibilidade e bom senso

«Os EUA são muito mais realistas que o BCE. Em presença da realidade, os EUA reagem com realismo, enquanto a Europa reage escolasticamente. A descida das taxas de juro nos EUA vai prejudicar as empresas na medida em que em que com um euro alto perdemos competitividade. Quanto à Iberomoldes, já perdemos o mercado norte-americano por força da apreciação do euro».

O industrial Henrique Neto (um exemplo raro de um empresário que investe em bens transaccionáveis tecnologicamente avançados e a quem nunca ouvi uma queixa sobre a «rigidez do mercado de trabalho» português) descreve muito bem a situação depois da Reserva Federal (RF) norte-americana ter feito aquilo que lhe compete face a uma situação de crise cada vez mais grave: cortar decididamente a taxa de juro de referência. É preciso não esquecer que a RF tomou esta decisão porque tem um mandato político que aponta para uma missão dupla: crescimento económico e emprego por um lado e estabilidade de preços por outro. A Europa, por seu lado, criou uma instituição à qual foi atribuída uma missão principal a que tudo o resto deve estar subordinado: manter a estabilidade de preços. Não se espantem por isso se, apesar das boas razões existentes, o BCE decidir nos próximos tempos ser fiel à ortodoxia económica que presidiu à sua criação.

7 comentários:

NC disse...

«É preciso não esquecer que a RF tomou esta decisão porque tem um mandato político que aponta para uma missão dupla: crescimento económico e empregoÉ preciso não esquecer que a RF tomou esta decisão porque tem um mandato político que aponta para uma missão dupla: crescimento económico e emprego por um lado e estabilidade de preços por outro.»

Estabilidade dos preços até compreendo. Mas o emprego e crescimento económico não são "responsabilidade" das empresas?

Ricardo G. Francisco disse...

Portanto, preconiza políticas monetárias que favorecem alguns empresários à custa da inflação, um imposto que afecta todos e em particular os que menos têm.

O que é que o João Rodrigues tem contra os que menos têm? Porque é que empresários pontuais têm de ganahr mais à custa de TODOS os outros via uma intervenção do estado?

nuno ivo disse...

Esta gente é louca. Desde quando é que a descida da taxa de juros não vai favorecer quem menos tem? Então e a habitação? Então o aumento das exportações?

Ricardo G. Francisco disse...

Caro Nuno,

Quem menos tem não tem empréstimos de habitação para pagar nem exporta. Alguns terão com certeza.

Todos comem entre outras coisas. E a isso ninguem escapa, muito menos quem menos tem.

Competitividade artificial temporária mantida com desvalorização cambial. E o engraçado é que quem defende isto tambem anda nas manifestações contra os baixos salários...

Samir Machel disse...

O problema com a preocupação EXCESSIVA com a inflação é que mata a economia.

Em Portugal um dos mais sérios problemas é o desemprego e a falta de dinamismo económico, não a inflação a níveis historicamente baixos.

Ricardo G. Francisco disse...

O Caro Machel esquece-se que a inflação é historicamente baixa desde que alguem se preocupou com a inflação. Ainda há muitos que se lmebram da inflação perto dos 30% na década de 80.

O que emperra a Economia é o excesso de peso do estado em tudo. Ficámos com o condicionamento industrial do estado novo e com todas a leis (impossíveis de aplicar) resultantes de uma constituição socialista.

Repare que não falo do IRC. Mas falo da intervenção do estado na economia ajudando umas empresas ao mesmo tempo que é o pior pagador.

Ao mesmo tempo um estado que desincentiva ao investimento porque não garante os direitos de propriedade nem protege os contratos. O estado não garante justiça célere. Justiça a 10 não serve a investidores sérios. Só serve a investidores malandros ou que não têm outro remédio (os portugueses).

Mas força aí com as taxas de juro...esse é que é o problema.

Samir Machel disse...

Caro Ricardo,

Não se preocupe que a minha memória por enquanto está óptima.

Numa série de coisas até concordo consigo, noutras nem tanto. Especialmente não pense que tenho qualquer simpatia pelo estado actual das coisas: uns senhores tem-se alimentado do Estado muito bem, com relações privilegiadas com algumas companhias...

E sim, acho que se deve ter um olho na inflação e outro no crescimento da economia. Era por isso que o candidato ideal para o BCE era o Medeiros Ferreira...