domingo, 16 de setembro de 2007

As metáforas podem ser perigosas

Teixeira dos Santos declarou, durante o recente encontro dos ministros das finanças da UE, que «as águas do Douro não são turbulentas» (Público de Sábado).

Não sei se o ministro disse isto para acalmar os seus colegas, à entrada para uma viagem de barco pelo Douro, ou se pretendia dar um alcance mais metafórico à sua declaração. Vamos assumir a segunda hipótese, até porque esta está mais de acordo com o tom complacente do conclave face aos potenciais efeitos de contágio de mais uma crise do regime financeiro liberal: não se passa nada de especial, é preciso mas é controlar a inflação e assegurar o equilíbrio orçamental que a melhor política é sempre a ausência de política. Pois bem. Esqueceu-se o ministro que a reduzida turbulência das águas do Douro é o resultado da construção de um complexo sistema de barragens que permitiram regularizar o caudal do rio.

Nos mercados financeiros, desde há mais de vinte anos, que pouco mais se faz do que destruir barragens. Mas isto das metáforas não é para todos. Dito assim até parece que os mercados financeiros são tão naturais como o rio Douro.

4 comentários:

NC disse...

Claro. Engenharia civil, engenharia social. Tudo a mesma coisa. Claro como água.

João Rodrigues disse...

E a construção política de mercados financeiros liberalizados é o quê? Mas o meu ponto era esse: as metáforas são mesmo perigosas.

NC disse...

«E a construção política de mercados financeiros liberalizados é o quê?»

Deixar que os agentes interajam e decidam por si. Diria que é precisamente o oposto de engenharia social.

Samir Machel disse...

João:
:)