sábado, 21 de junho de 2025

Relembrar o óbvio: a crise de habitação é internacional

Tem razão Sandra Marques Pereira. Em matéria de habitação, não só a AD «aprendeu muito pouco ou fez questão de não aprender» nada sobre a atual crise, como revela um desconhecimento confrangedor «do que se passa a nível internacional, tanto no entendimento do problema como das soluções». Cereja em cima do bolo, «continua a imputar a responsabilidade pela persistência da crise da habitação aos governos que o antecederam». Parece uma repetição rasca do embuste da bancarrota para justificar a vinda da troika, a que Paulo Coimbra aludiu recentemente aqui.

Era suposto ter-se já a noção de que, voltando a citar Sandra Pereira, «o setor da habitação mudou profundamente desde a crise do subprime», decisiva na conversão da habitação em ativo financeiro fazendo surgir novas procuras especulativas, as quais, a par do turismo, constituem a principal fonte da subida vertiginosa dos preços. Não se trata pois, ao contrário do que se tenta fazer crer, de uma mera «falta de casas», alegadamente resultante de um défice de construção na última década. Basta, aliás, observar o que se passou por essa Europa fora neste período, agora que o Eurostat já divulgou, finalmente, os dados censitários dos alojamentos para 2021.


Em termos globais, para os 25 Estados membros com dados disponibilizados, constata-se que o stock de alojamentos na Europa aumentou quatro vezes mais que a população residente (8% e 2%, respetivamente), sendo estes valores - de variação da oferta e da procura residencial - substancialmente inferiores ao aumento dos preços das casas, a rondar os 37%. Uma discrepância que é comum à maioria dos países, não se identificando qualquer relação consistente entre a variação da população e do número de alojamentos com a evolução do ìndice de Preços da Habitação (IPH).

Atendendo a que as novas procuras especulativas, nacionais e internacionais, são «virtualmente ilimitadas», como oportunamente relembrou Helena Roseta em artigo recente, a atual crise habitacional «não é resolúvel sem regulação pública, nacional e europeia». Ou seja, exatamente o caminho que a AD se recusa a fazer, na teimosia serôdia de que «o mercado é que deve fazer os preços das casas», bastando para tal desencadear, em linguagem de propaganda barata, um «choque de oferta».

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