quinta-feira, 19 de junho de 2025

Basta de ofuscação


Em relação à primeira página de 16 de junho, basta seguirmos Carina Castro: “Podia comentar a folha de propaganda governamental que é esta primeira página, mas vou só constatar que são 3 notícias da mesma família (de classe) e parece-me que as restantes também”. Em relação à de 18 de junho, basta perguntarmos: “Mortas por quem, Público? Por quem?”. 

Estas duas primeiras páginas estão ligadas pela mesma linha editorial euro-liberal do “perdócio” da Sonae, relembrando a célebre expressão de Belmiro de Azevedo. Enfatizar a Sonae justifica-se, porque a autonomia dos jornalistas, incluindo político-ideológica, em relação aos interesses e valores dos proprietários é cada vez menor, dada a precariedade da profissão, a ameaça permanente do desemprego, o medo nas redações, a fragilidade dos freios e contrapesos sindicais neste contexto. 

Enfatizar a linha euro-liberal justifica-se, porque a dependência, intelectual e não só, em relação à UE é cada vez maior. E a verdade é que a linha de cor, a que preconiza que as vidas palestinianas valem menos, por exemplo, está tão inscrita no euro-liberalismo realmente existente como o proprietarismo, a defesa de todos os direitos associados à propriedade privada, com deveres sociais cada dia mais escassos.   

Neste contexto, não surpreende que a UE ofusque o colonialismo sionista e a sua natureza genocida. O Público segue Bruxelas. O europeísmo é tão responsável como os EUA pela catástrofe sem fim: será que agora querem fazer do Irão uma nova Líbia, mais um estatocídio? “Os israelitas estão a fazer o trabalho sujo por nós”, disse Merz com a franca brutalidade da sempre perigosa elite alemã. 

Foi por estas e por outras que, ao fim de mais de trinta anos, deixei de pagar pelo Público. Mesmo sabendo que a política que conta não passa por decisões individuais desta natureza, digo ainda assim: basta de ofuscação.

Sem comentários: