quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Batalhas educativas (II)

Na sequência deste certeiro post do João Rodrigues, um amigo perguntou-me pela existência de dados que permitam comparar o perfil socioeconómico dos alunos da escola pública com os dos alunos do ensino privado. Respondi-lhe que não, que não tinha conhecimento de tais dados e que esse era, justamente, o cerne da fraude dos rankings, que comparam e ordenam resultados de todos os estabelecimentos de ensino dispondo apenas, porém, de informação sobre o perfil socioeconómico dos alunos da Escola Pública.


De facto, numa decisão indisfarçavelmente concertada, os privados recusam-se a fornecer essa informação ao Ministério da Educação, impedindo assim a necessária ponderação dos resultados dos exames com dados de contexto, que poria em causa a aparente supremacia do ensino privado, nomeadamente dos colégios que mais se esmeram na seleção de alunos, essencial para obter os melhores resultados nos ditos rankings, mesmo que a qualidade do ensino que ministram ande pelo medíocre.

E se as escolas privadas não facultam dados sobre o perfil socioeconómico dos seus alunos ao Ministério da Educação, os jornais e as televisões que elaboram os rankings não lhes sentem a sua falta, ordenando ao molho públicas e privadas, com as parangonas do costume. Isto é, numa prática reiterada de mau jornalismo, continuam a dar à estampa exercícios de fraude grosseira, em vez de recusarem integrar nos rankings as privadas que não lhes forneçam informação de contexto, essencial para proceder a comparações sérias entre a Escola Pública e os colégios.

Por último, já repararam que esta recusa de escrutínio das escolas privadas não encaixa lá muito bem com a sua reivindicação, apoiada pelos partidos de direita, de criação de um Sistema de Educação (em vez da Escola Pública), em que o Estado passaria a financiar, de forma indiferenciada, públicas e privadas, como se não existissem diferenças abissais entre os princípios em que umas e outras assentam, nomeadamente ao nível do acesso e da equidade? Interessante, não é?

3 comentários:

Anónimo disse...

É óbvio que quem põe um filho num colégio tem de ter folga financeira; fora, presumo, o que sobra dos contratos de associação. Do que leio é também comum não quererem lá alunos fracos. Nada disto se passa numa escola pública. Só que, ainda assim, tal não invalida que a qualidade do ensino seja superior. Com mais recursos financeiros, excluindo a burricada, o resultado só pode ser bom. Seria no entanto interessante saber porque é que os pais que o podem fazer preferem gastar 1000 euros por mês a ter a prole a estudar sem pagar. Alguma razão há.

Anónimo disse...

Em aditamento: é claro que há as bolsas, mas, visto de fora, podem ter dois objectivos: fiscal e arranjar matérias-prima de qualidade para melhorar as médias.
É engraçado ver como os colégios são todos, ou quase, cooperativas ou ligados a instituições religiosas. Destes últimos é caso para perguntar se beneficiam e até onde da Concordata para não pagarem impostos.

Anónimo disse...

Há algo a que aqui não se faz referência mas que é um aspecto fundamental nesta questão público/privado. É que os colégios privados, além de terem os alunos mais ricos, evidentemente, inflacionam as notas. Há inúmeras indicações e até evidências disso, mas ninguém ( isto é- as autoridades , aliás deveria ser a PJ a fazê-lo) quer esmiuçar até que ponto as notam são inflacionadas. mas é um facto...