Infelizmente, quase todo o debate político em Portugal parece ter ficado truncado nos termos apresentados pelo governo e pela União Europeia. A atenção é, de forma justa, dirigida ao modo como a acção orçamental aumenta a pobreza e a desigualdade. Contudo, as condições e contradições estruturais do capitalismo português e sua articulação na actual conjunctura estão ausentes na proposta política. Por exemplo, o combate à inflação através de controlos de preços é justo e necessário, mas ele deve ser feito com parcimónia, dirigido a bens homogéneos com clara estrutura de custos (como a energia, as rendas e a habitação) e articulado com medidas que permitam encarar choques externos com robustez, através do propriedade pública de sectores estratégicos, políticas de aprovisionamento e gestão da procura que permitam autonomia face à excessiva dependência dos mercados internacionais.
Nuno Teles, Não há coincidências, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Dezembro de 2022.
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