Há uma vantagem no SIRESP, aquele sistema que deveria ter custado no máximo 100 milhões de euros, mas que o Estado aceitou pagar quase 500 milhões, tendo por intermediários aquela fina-flor dos actores mais badalados quanto a fraudes por julgar.
É que, com a sua compra, veio à borla um pacote eficaz de detergente e anulador de maus cheiros cuja patente deveria ser registada.
Apesar de tudo, apesar dos nomes dos personagens que se repetem, das quase evidentes cumplicidades aos mais diversos níveis patentes em todas as coincidências dos processos, apesar da trama que se entretece e que se pressente a emergir naquelas comissões que transitam pelos paraísos fiscais e naqueles financiamentos públicos obscuros a entidades políticas, apesar de tudo isto, o sistema é suficientemente opaco para impedir um Ministério Público de espetar asas no painel da investigação.
Está, pois, por ser feita a História Negra das Privatizações e de todas as Parcerias Público-Privadas.
O interessante de todo este processo de evangelização das virtudes do sector privado, da função espartana do lucro na afectação dos recursos e na supervisão da sua aplicação, da ideia da falta de vocação natural do sector público para exercer funções essenciais para a vida em comunidade, é que todos esses argumentos foram lançados e partilhados por todos aqueles, cujas caras nos vamos habituando a identificar como impróprios. Perversamente, são essas pessoas - tal como uma deficiente gestão dos entes colectivos - que dão a má imagem ao Estado, a qual justificará a jogada seguinte contra o sector público.
Nada, pois, como um sector privado, com uma actividade sem risco, em que o seu empreendorismo reside em montar esquemas - com a parceria necessária de pessoas a ocupar altos cargos políticos - para melhor assaltar o aparelho público ou o OE, financiados essencialmente pela maioria que quase nada tem. Ou seja, conquistar o Estado para, qual vírus, subverter a sua função redistribuidora e transformá-la numa função perversa de redistribuição invertida do rendimento.
Por que não é possível haver uma gestão correcta e eficaz do sector público, em que o
valor acrescentado é de todos e não de uma grupo selecto de accionistas?
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15 comentários:
Muito bom este texto
Eis o modus faciendi do Capital. Dos privados interesses. Dos que se sboletam como Donos de Portugal, herdeiros directos dos Donos de Portugal dos tempos negros do estado novo
«Por que não é possível haver uma gestão correcta e eficaz do sector público...»
Porque a abrilada trouxe, sob a capa revolucionária, um enorme caldo de chico-espertismo em larga medida residente na esfera pública e partidária.
Os valores burgueses da decência e da honestidade preteridos pela eficácia na luta pela mama orçamental.
A redistribuição da riqueza e a dívida como instrumento de compra de votos.
A treta esquerdalha como legitimadora universal do descaminho e da bandalheira.
540 000 000€
Custo total do SIRESP (Sistema Integrado das Redes de Emergência e Segurança de Portugal) feito em parceria público-privada, com um consórcio de empresas (PT, Motorolla, Esegur, do Grupo Espírito Santo e da CGD, e SLN).
Caro José,
Eu sei que, às vezes, lhe custa refrear-se. Mas vamos tentar todos responder às questões de fundo. A má gestão circunstancial do Estado não deveria ofuscar a questão teórica. O que seria melhor, mais eficaz e mais barato: um bem público gerido pelo Estado ou por um agente privado. É que má gestão há tanto pública como privada...
SIRESP, submarinos, blindados de transporte de tropas, estaleiros e... muito mais... Eu não sou de intrigas, mas ele há gente que, digamos, tem um estatuto de intocável. Já o "Socas" foi dentro em plena placa do aeroporto com pleníssima cobertura em direto das nossas queridas televisões e ficou arrecadado uns bons meses na belíssima estância balnear de Évora... Escusado será dizer que a carreira da "fera" socialista (de quem, é preciso que se diga, não sou particular apreciador) foi irremediavelmente para o galheiro. A Justiça deste país precisa urgentemente de ir ao oftalmologista: à força de mirar exclusivamente com a vista esquerda, mirrou-se-lhe o globo ocular direito e com ele nada enxerga.
E a má gestão publica está geralmente confiada aos boys e aos que tentam reverter a condição do público para o privado.
Como o texto de JRA aflora, para desespero maior dum tal jose traduzido neste ódio e ressabiamento face a Abril.
Relembra-se o dito na posta:
"dos nomes dos personagens que se repetem, das quase evidentes cumplicidades aos mais diversos níveis patentes em todas as coincidências dos processos, apesar da trama que se entretece e que se pressente a emergir naquelas comissões que transitam pelos paraísos fiscais e naqueles financiamentos públicos obscuros a entidades políticas"
Todos sabemos os nomes. E a maior parte foi defendida por quem não veda o seu rancor e anda a pregar os valores burgueses e outras tretas do género. Como os valores burgueses escondidos atrás dos ballet rose que adornaram a nossa elite empresarial mais a escumalha governativa da altura
Este post deve assim deixar inquieto este tipo da moral burguesa.
Tão inquieto que vai atrás da "mama".
Orçamental dirá.
O que chamará ele aos frequentadores dos bordéis tributários?
Não. Isso não é "mama". É apenas o jeito de burgueses endinheirados e ávidos, proxenetas das riquezas geradas por outros, para mostrar o que é a "decência e a honestidade ao serviço da eficácia na luta ...pela mama"
Mas este chico-espertismo dum fulano que vem para aqui elogiar o que não passa duma hipocrisia manhosa e ranhosa das classes possidentes tem um buraco de todo o tamanho.
Veja-se esta afirmação tão ternurenta:
"A redistribuição da riqueza...como instrumento de compra de votos".
Ou seja. Não é apenas a denúncia do Capitalismo e dos seus próceres que o afligem.
Esta história da redistribuição do que deve estar nas mãos dos "burgueses honestos e decentes", frequentadores de bordéis tributários deixa-o inquieto.
Tal como outrora devia estar nas mãos de outros burgueses honestos e decentes frequentadores de orgias com crianças entre os 8 e os 12 anos e em práticas de sado-masoquismo, as quais levaram à morte de, pelo menos, uma mulher.Por acaso homens ligados às mais altas cúpulas do Estado Novo
Caro João,
Ignorar o caldo de cultura que garante a impunidade a quem se serve do Estado e dos bens públicos abusivamente, é erro maior.
Note que 'um bem público gerido pelo Estado ou por um agente privado' não é a única alternativa. Um bem privado regulado e fiscalizado pelo Estado pode ser a alternativa mais eficiente.
Genericamente é mais provável obter a eficácia fiscalizadora de agentes do Estado do que fazer gestores públicos num quadro regulamentar que quase os condena à ineficiência e ao compromisso tutelar.
Ignorar o caldo de cultura?
Mas quem ignora o caldo de cultura?
Isto não é uma sociedade que se baseia nos mercados e no lucro acima de todas as coisas?
A impunidade de quem se serve do Estado está por aí, em todo o seu esplendor.
Por exemplo,mais um autarca laranja apanhado nas malhas da corrupção. Um tal Loureiro, a lembrar um outro Loureiro trafulha, fígura grada também laranja há uns tempos atrás.
E por aí adiante, a mostrar que a corrupção vai de par com o desenvolvimento actual deste modelo de sociedade.
Há até quem tente invocar "os valores burgueses da decência e da honestidade". Como se sabe estes valores são completamente diferentes de acordo com a perspectiva de quem os invoca. E são geralmente utilizados nas confissões públicas, ocultando a trampa dos seus vícios privados
O rato escondido com o rabo de fora está aí escondido. Repare-se na tese, velha como a cobiça dos que se apropriam dos meios de produção: "Um bem privado, regulado e fiscalizado pelo estado".
Bem privado? A banca, a que foi privatizada? Com as consequências que se conhecem?
E regulada e fiscalizada pelo "estado"? Com as consequências também que se conhecem?
E com a eficiência claro, que também se conhece. Sobretudo para quem se apropria do produto da riquezagerada
Genericamente pode dizer-se que é mais provável obter a eficácia fiscalizadora de agentes do estado do que fazer gestores públicos?
Sim? Genericamente isto é um ensaio para um novo argumentário para acabar com as instituições públicas? Antes era o choradinho da "maior eficiência" na gestão da coisa, mas com os casos que se vão somando da "eficácia da "gestão privada" o paleio agora muda para esta treta?
Em 2 de Novembro de 2013 , num artigo de Ivo Rafael Silva, expunham-se os lucros impressionantes da EDP e os "vencimentos pornográficos" dum gestor privado, o Mexia.
Hoje sabemos que a História fede.
Curiosamente quem fala nos "valores da decência e da moral burguesa", um tal Jose, apressava-se a defender a "coisa" nestes termos:
"Quem lida com mil de milhões vai ganhar 1 milhão?
Acontece que os privados pagam o suficiente para se livrarem da corrupção que sempre sai mais cara, porque estraga milhões para sacar tostões como é repetido exemplo no público."
Percebe-se o que é a "moral burguesa" assim invocada. E que o que é o bem privado, assim privatizado e assim regulado.
Mas não podemos deixar de nos comover perante os "gestores públicos que,num quadro regulamentar são quase condenados à ineficiência e ao compromisso tutelar".
Uns coitados:
Acontece que também em 2013, no tempo em que se julgava possível o assalto caceteiro e completo ao Estado para assegurar mais bem privados, (sem os cuidados na linguagem que a presente situação exige), o mesmo sujeito, (jose), fazia a seguinte proclamação sobre os ditos "gestores públicos"
"os administradores do Estado prometem e distribuem dividendos antecipados aos accionistas com mais votos para que estes os mantenham nos cargos; os accionistas nem querem saber de contas; a seguir exigem à Administração da massa falida que continue a pagar o mesmo por ser um direito adquirido!"
Outros tempos, outros argumentos. Com o mesmo objectivo. Assegurar mais oportunidades de negócio para os que concentram em si a riqueza produzida.
"Isto" é mais um exemplo da honestidade e decência da burguesia decadente e hipócrita
Mais uma vez curiosamente se verifica que quem fala assim nos "gestores do estado" oculte quem os nomeou e com que intenções os nomeou: quem precisava de ter vias abertas para a privatização ao mais baixo custo. Precisamente o tal poder político ao serviço dos grandes poderes económicos.
O silêncio sobre a corrupção dos administradores do estado que são nomeados pelo mesmo poder político que posteriormente privatiza as empresas em causa é atroador
A dança de cadeiras entre as administrações das empresas públicas e das empresas privatizadas era apenas isso: uma dança de cadeiras.Os rabos lá sentados eram quase sempre os mesmos. Com as honrosas excepções devidas
Em vez desta denuncia temos assim uma pieguice em torno da triste condição de condenados por parte destes "gestores públicos" nomeados quantas vezes com o fito da privatização.
Quando Durão Barroso foi contratado como banqueiro, para continuar a defesa dos mesmos interesses privados que defendeu quando em funções públicas, adivinhem quem saiu em defesa do "gestor público" Barroso, agora já liberto dos constrangimentos da ineficiência e do compromisso tutelar?
Precisamente o mesmo da "alternativa mais eficiente" para o bolso dos Mexias, Barrosos e tutti quanti. Um tal Jose..
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