quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Os vira-casacas

Fonte: INE, Contas Nacionais
Um leitor do meu anterior post lembrou que, em defesa da coligação de direita, o seu mandato eleitoral não teria sido completamente inútil porque o consumo público teria sido reduzido.

Não sei por que razão a redução do consumo público pode ser considerado - por si só - como algo bom ou mau. Há muito consumo público. Mas o que se viu com este mandato foi que as famosas "gorduras", os famosos consumos intermédios que o Instituto Sá Carneiro teria estimado em 2010 em mais de mil milhões de euros, eram apenas miragens... ou algo "impossível" de ser cortado - como os outsourcings legais, dos pareceres jurídicos pedidos a escritórios de advogados conhecidos, ou os famosos contratos blindados das PPP. Dezenas e centenas de milhões de euros, pagos, apesar da austeridade.

A austeridade foi, na verdade, outra coisa. E um dia far-se-á por completo a sua História.


Mas neste caso concreto, o consumo público foi efectivamente reduzido de 2010 (os famosos PECs de Sócrates) até 2013. No 4T de 2013, inicia-se uma estabilização do consumo público que, veja-se lá, coincide com uma subida do consumo privado. Recorde-se que essa altura, desde 2012, foi a de diversos chumbos do Tribunal Constitucional, da penosa 7ª avaliação da troika, que viria a julgar o Memorando inicial como "mal desenhado" (porque provocara um excessivo desemprego). Foi a altura da demissão de Vítor Gaspar e da flexibilidade das metas orçamentais e das condições de pagamento dívida pública. Enfim, todo um outro programa, muito diferente do defendido desde o início do Memorando.

Se houve revisionismo troikista, ele começou pelos seus defensores que nunca tiveram a coragem de dizer que estavam errados. Nem assumir a sua responsabilidade pelas vidas estragadas de centenas de milhares de portugueses.

Hoje, apenas gerem os negócios das privatizações. E tentam parecer apenas mais cautelosos do que o PS. Quem os viu e quem os vê. Uns vira-casacas, oportunistas.

18 comentários:

Jose disse...

Os malvados não mantiveram o agravamento da austeridade e arriscam-se a ganhar as eleições!
E o pessoal acredita que a austeridade acabou e começa a consumir e a endividar-se!
Fica a 'esquerda' sem margem para desagravar coisa nenhuma, se é que não se arrisca a ter que a agraver...

Dias disse...

Seria de enorme interesse fazer a decomposição do consumo público, para se conhecer as fatias que servem sobretudo a tal minoria que vive encavalitada no Estado-das-costas-largas (a dos pareceres jurídicos pedidos a escritórios de advogados conhecidos, por ajuste directo, a das PPP, etc.), limitando-o depois nas suas funções intrínsecas.

Quanto ao “revisionismo”, este foi em certa medida, imposto, quando este governo já ia em roda livre, sem lei nem roque. Aliás, ainda hoje se anda a furtar às decisões da Justiça…

João Ramos de Almeida disse...

Caro José,
É uma situação baralhada, não é? Estar a direita compelida a defender o contrário do que acha correcto, apenas para ganhar eleições, para poder - espera-se que seja por coerência teórica - voltar a aplicar um programa para o qual não teve mandato...

À esquerda, o trabalho é mais fácil: desagrava e fica sem mandato para agravar.

Acho que neste momento está a lembrar-se da Grécia e a sorrir. E tem razões para sorrir dada a correlação de forças existente, ainda que seja difícil sorrir sinceramente, tal é a situação grega. Mas dá uma ideia do ridículo da situação criada na UE. Todos acham a austeridade estúpida mas não querem perder a face.

Em 1992, havia um comentador cujo nome não me lembro que criticava as metas de Maastricht por serem economicamente estúpidas, mas que eram impossíveis de revogar. Era - dizia - como se o chanceler alemão tivesse enfiado uma banana no ouvido, e - apesar de lhe doer - não a pudesse tirar, sob pena de os mercados se zangarem...


Anónimo disse...

A questão é que mesmo parando com a austeridade o dano está feito.

Temos uma economia que não cresce e está completamente estagnada.

Paulo Marques disse...

Reduzir o consumo público numa recessão é fantástico... para ela nunca mais acabar.
O Jose ainda não leu o memorando de entendimento nem o TO, a austeridade é para continuar independentemente dos resultados.

Anónimo disse...

Os viras casacas são de todos os tempos. sempre existiram e vão continuar. São daquelas coisas perpetuamente consistentes, inerentes ao próprio ser humano.
Os vira-casacas são, na actual conjuntura antipolítica, antieconómica, antiecológica e antisocial = igual a bagunça, “O elixir da vida”.
Sem vira casacas, o que seria deste país, deste povo?
Que seria da Historia Pátria sem os vira-casacas?
E o pior, pior, são os vira-calças, os vira-saias, enfim tudo da´ para virar: de ideal, de partido, de grupo, de família e até de sexo. Eles são tantos senhores…
As vezes, só as vezes, o pobre vira rico…
O processo histórico não falha – o homem só esta bem onde não esta --! De Adelino Silva






Jose disse...

É evidente que a austeridade é para continuar uma vez que a palavra serve para manifestar a contrario um disparate: o de que a economia só tem um caminho e um ciclo - crescer em crescimento contínuo.
Seguramente uma herança ideológica de planos quinquenais sustentados a retórica.

Anónimo disse...

Pois, caro João Ramos de Almeida, o diabo são os pormenores. A verdade é que a Senhora Merkel não enfiou banana nenhuma no seu próprio ouvido. Fiel à tradução alemã do velho ditado "Pimenta na vista do outro é refresco", a piedosa Bismarck de saias e o seu Dr. Strangelove de estimação desceram um pouco mais abaixo do que o ouvido, e têm-se diligentemente dedicado a enfiar pinheiros mal desbastados naquele sítio onde o sol não brilha de Gregos, Portugueses e Irlandeses. E até gritos de agonia dos pacientes do Sul têm sido convenientemente abafados pelo sonoroso tilintar do dinheirinho do lucro alemão com a desgraça alheia.

Anónimo disse...

Mas que disparates são estes?

" a austeridade é para continuar uma vez que a palavra serve para manifestar a contrario um disparate: o de que a economia só tem um caminho e um ciclo - crescer em crescimento contínuo."

Para continuar... porque a palavra?
E esta serve para manifestar a contrario um disparate?
Que a economia só tem um caminho e um ciclo ( isto dito por um arreigado extremista do caminho único só pode ter como resposta uma franca gargalhada)

Que este tipo saia da sua zona de conforto, que abandone por momentos o convívio habitual e que explique este "credo" que coisa nenhuma é.

(A menos que não passe mesmo duma ruminação em modo pavloviano)

De

Anónimo disse...

Pois é caro Paulo Marques. a marca de água deste jose, e agora cito um ilustre anónimo: "é a sua receita a nobre receita para endireitar o país: fome e tuberculose, porrada e muita missinha, 4ªClasse tirada e ala para o campo, uma enxada nas unhas e a beiça caída por terra de admiração ao ver passar o "espada" do "Xôr Dótôr". E tudo isso, claro está, "A bem da Nação".

Repare que os dados e os factos, a realidade e os números causam engulhos tais ao tal "jose" que este não só foge deles como o diabo da cruz , como tem a suprema lata de confessar a sua incapacidade em fazer contas( "isso é para os funcionários publicos", solta irado e esbaforido). Só recita "credos" como os acima citados, enformados no neoliberalismo caceteiro e pesporrento característico desta fase do desenvolvimento do capitalismo.

Por exemplo mais dados:
O PIB em termos reais recuou para o nível existente em 2001
"Com as medidas dos PEC e do Pacto de Agressão de violenta redução salarial e da despesa social, de diminuição ainda mais drástica do investimento, o afundamento do País acentuou-se. Neste período o PIB em termos reais passou de 181 mil milhões de euros em 2008, para 169 mil milhões de euros em 2014, uma quebra de 6,6%, recuando para o nível existente em 2001.

Uma evolução que aprofunda a divergência com o crescimento médio da União Europeia. Mantêm-se um elevado défice da balança de mercadorias e os crónicos défices agro-alimentar, energético e tecnológico. A melhoria verificada na balança de bens e serviços resultou essencialmente do esmagamento da procura interna e não da substituição de importações por produção nacional. O modelo de baixos salários e de produções de baixo valor acrescentado é outro dos factores que contribui para comprometer o desenvolvimento do País".
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/o-pib-em-termos-reais-recuou-para-o-1955484

De

Anónimo disse...

Mais uma prodigiosa imbecilidade de Herr "José": agora, é a "herança ideológica de planos quinquenais" que escora a fé no obrigatório crescimento económico contínuo. Olhe, ilustradíssimo Herr "José", deve ser no exemplo desses "planos quinquenais" que os seus tão admirados gestores de multinacionais, de bancos e de outras associações de mafiosos da finança, uma vez chegada a hora das contas ao lucros auferidos, mascaram os prejuízos e os transformam em "excedentes" através do prodigioso e recorrente passe de mágica do despedimento massivo de "colaboradores". Afinal de contas, os parteiros da actual rapina financeira, o Senhor Reagan e a Senhora Tatcher, ajudaram a vir ao mundo um global leninismo. As coisas que Herr "José" descobre...

Anónimo disse...

Percebe-se que jose, admirador confesso do tempo em que a Pide executava os seus "bons serviços à Pátria" ( isto foi escrito pelo sujeito), entre agora em campanha eleitoral e componha o ramalhete.
Escrevia ele em 12/10/12 pelas 23:49 "A esquerda está no poder há 38 anos!". O ponto de exclamação da ordem enfeitava a pesporrência de extrema-direita aqui demonstrada e assinada, em que juntava na esquerda o cavaco pelo qual agora dá brilho às botas e o portas e o santana e o barroso pelos quais agora faz campanha eleitoral desta forma abjecta.

Cabe todavia a todos nós ter os olhos abertos e esfregar-lhe na cara aquilo que ele devota e quotidianamente quer apagar:

"O “projeto europeu” e os números
Estagnação, recessão, endividamento, desemprego, pobreza:
Entre 2008 e 2014 os juros da dívida pública tiveram um crescimento de 54,4%, atingindo um total de 48 759 milhões de euros, quase 30% do PIB (em termos reais) em 2014.
O endividamento constitui o aspeto central da política da UE. O montante da dívida externa e do serviço de dívida constituiem um índice do grau de exploração suportado pelos povos estabelecendo-se uma hierarquia na qual os países com dívidas insustentáveis perdem direitos de soberania e democráticos em benefício dos credores por via de processos imperialistas.
O impacto do endividamento leva à recessão e ao aumento das distorções e desequilíbrios existentes. Assim na UE e muito particularmente na zona euro as economias nacionais tomaram comportamentos divergentes.
A UE é um falhanço, como os números mostram, independentemente de algumas variações cíclicas que não atenuam o andamento geral. Uma recuperação consistente não é possível com os níveis atuais de endividamento e serviço de dívida que não permitem o investimento necessário nem os défices da BC que se produziriam com os critérios da UE (sem possibilidade de políticas públicas e de defesa da produção nacional).
Por muito que a propaganda "europeísta" proclame não há saída para a crise sem a resolução dos constrangimentos e bloqueios fundamentais em que o país está envolvido: a questão do euro e dos tratados da UE."
Daqui:http://foicebook.blogspot.pt/2015/08/o-projeto-europeu-e-os-numeros.html#links

De

Anónimo disse...

E‘ deveras emocionante falar de planos quinquenais
Ainda recentemente falamos de planos orçamentais a fazer arrepiar o plano económico familiar.
Diga-me la o´ Sr. José qualquer coisa. Então na sua mentecapta figura passa uma economia sem planificaçao?
O Pentágono EEUU não fez e não faz planos a Long Time para derrotar a URSS e agora a Rússia ou a economia Germânica anda ao sabor dos Ceus…
BRETTON WOOD não foi um sistema fabricado e planeado a long and long prazo?
Tanto assim e´, que não param de falar de Maynard Keines
Ate o Passos/Costa já tem planos para um quadriénio, não e´ verdade?
Sei que não e´ canibal, por isso não vai comer comunistas ao pequeno-almoço, mas que tem vontade de os tragar todos la isso tem… De o “Catraio” com respeito

L. Rodrigues disse...

José,
só por estupidez ou má vontade é possivel dizer que alguém de bom senso pensa que a economia só tem um ciclo. O que pensam é que as políticas públicas devem ser contracíclicas, já que o capitalismo deixado a si mesmo é dado aos espasmos que se vêem. Cresce, cresce e BUM!

Agora, se quiser tirar o capitalismo da equação, podemos falar de um mundo sem crescimento, mas com adequada redistribuição... á um mundo de possibilidades que se abrem.

Anónimo disse...

O convencidozeco ainda anda por aqui.?
Bolas que o fulaninho não se enxerga. Há gente que por muito que lhes digam que era melhor estar calado e reduzir-se á sua insignificância não vê o que está á sua frente, não entende, não ouve, enfim falta-lhe qualquer coisa.
Esperemos que o convencidozeco, depois das eleições e depois dos seus queridos levarem uma boa berlaitada, finalmente,desapareça daqui.

Anónimo disse...

Passeei desde o Rio das Enguias – Alcochete – ate´ a` Baia do Seixal, Estaleiros de construção e beneficiação de Barcos de recreio a Yates, mais para sair fora do meio em que que me habituei do que por outra coisa…
Entretanto, se reparei na linda paisagem da Orla Marítima, há muito tempo a necessitar de alguém que olhe por ela, não deixei de ver a desolação de salinas e campos agrícolas que foram outrora uma riqueza da região.
Observei também que dezenas de pessoas (mariscadores?)
Extraem, Berbigão e lameginha (haja ou não salmonela) diariamente, nas mares-baixas da suja Bacia do Tejo.
Anotei que os Arrastões continuam a delapidar pescado e outros seres vivos marinhos em vias de extinção.
A Ostra, bivalvo que foi muito apreciado na região teve um fim triste, nem o funeral lhe fizeram…
Falar de economia local ou regional para que, se as produções locais e regionais simplesmente desaparecem?
A industria que proliferava nesta região, Bacia a Sul do Tejo esta em coma, mas contradição – proliferam caixas bancarias por tudo quanto e´ lado – Ah, já esquecia, as várias seitas religiosas também cresceram bastante. De Adelino Silva

Jose disse...

L. Rodrigues
Vejo que é capaz de formular uma opinião sobre capitalismo.
Deixemos por um momento a felicidade de esquerda, sem crescimento e tudo muito bem repartido.

Talvez me possa explicar se quando a esquerda exige maximizar a distriboição no ciclo da prosperidade e quer manter emprego, direitos no ciclo da contracção, fá-lo por estupidez ou acredita que a miséria é o caminho para o socialismo?

Anónimo disse...

Deixemo-nos mesmo de tretas.

Tudo muito bem explicadinho. Para que até a boçalidade de quem invectiva os demais de "estúpidos" perceba que o comportamento arruaceiro da direita-extrema não é aceitável numa sociedade democrática
A maezinha e o paiziho não souberam educar este traste.Que à falta de cidadania adiciona um posicionamento ideológico estreito que vai de petain a salazar.
Que queira manter os seus privilégios de privilegiado e que ande nesta faina a ver se passa por entre os pingos da chuva é uma das suas maiores motivações.
Que queira fazer os demais de parvos ( ou estúpidos, no vocabulário em uso pelo dito)
é que parece mesmo ser demais

As crises económicas do capitalismo são ao mesmo tempo uma manifestação de deterioração das condições de acumulação e um meio para ele ser reestruturada para restaurar a sua taxa de lucro.

Verifica-se quem sai a ganhar e a perder nesta crise estrutural em que nos encontramos.
Por isso que "jose" ou jgmenos abandone essa pieguice em torno da defesa do Capital e que não fuja ao que é objectivo e concreto:

"Crise tirou 7,6 mil milhões a salários e deu 2,5 mil milhões ao capital"
"Economia alemã ganhou 100 mil milhões de euros com crise na Grécia"

A miséria defendida por este jose para a generalidade das populações já foi há muito desmascarada.

Por exemplo por Almeida Garrett:

"«E eu pergunto aos economistas, políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?»

De