sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Moralismo europeu...

A evolução das economias capitalistas já por várias vezes expôs a inanidade de constranger a política económica por regras que dão dignidade a números arbitrários para o défice orçamental e para a dívida pública. Limites que nenhum governo democrático, em tempos de crise aguda do capitalismo maduro, poderá cumprir sem gerar ainda mais desemprego e exclusão social. Por muito que isto desgoste os moralistas das finanças públicas, os défices e a dívida são sobretudo a consequência do andamento da economia. Por exemplo, a incensada e muito liberal Irlanda, que tinha uma dívida pública de 25% do PIB em 2007, ultrapassa os 90% em 2010; a Zona Euro tinha um défice de 0,6% do PIB em 2007 e de mais de 6% em 2009; a dívida pública estava em 66% em 2007 e passou para os 80% em 2010: crise e o correspondente colapso das receitas e aumento das despesas, a par com a luta por saber quem paga o ajustamento. Perante o fracasso de pactos estúpidos, maus substitutos dos instrumentos de política económica que se perderam à escala nacional sem que outros fossem criados à escala europeia, há sempre alguém que decide dar um passo em frente: Os pactos falharam? Demos-lhes dignidade constitucional. Moralismo redobrado com uma conversa sobre “credibilidade” que esconde a hegemonia política de um sistema financeiro disfuncional e o abandono de qualquer propósito público de combate ao desemprego à escala europeia e nacional. Esquecem-se que o desemprego é sobretudo o resultado de uma configuração do capitalismo europeu que incentiva o tratamento dos salários apenas como um custo a conter e não como uma fonte de procura e que não criou uma política económica europeia coordenada promotora do investimento, do emprego e bloqueadora de estratégias de competitividade à custa do mundo do trabalho: os problemas passam por aqui. A moralidade, pelo contrário, não passa por esta desunião europeia sob comando de utopias ordoliberais alemãs. Deixo-vos um gráfico bem ilustrativo de problemas europeus que a crise só acentuou:

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