quarta-feira, 16 de junho de 2010

Tragédia económica na zona euro

“A tragédia da zona euro é ser gerida como se fosse um colectivo de pequenos países”. O argumento de Wolfgang Münchau é macroeconómico e faz todo o sentido. A procura de uma saída individual pelas exportações, através da compressão da procura interna, conseguida graças às políticas de austeridade, leva a um resultado colectivo potencialmente desastroso. Esta costuma ser a orientação das chamadas pequenas economias abertas, mas tem sido nos últimos anos sobretudo a aposta do gigante alemão e tem guiado as decisões de política económica da UE. As políticas de austeridade generalizada sabotam a recuperação e fazem com que a Europa possa cair na armadilha da recessão e da deflação, com o correspondente aumento do desemprego. Engelbert Stockhammer, num artigo de 2008 sobre a quebra dos rendimentos do trabalho na zona euro e a subida do desemprego (ver gráfico), já tinha argumentado que, à escala europeia, o modelo de crescimento económico tem de ser guiado pelos salários, o que requer mecanismos de coordenação salarial para evitar a corrida para o fundo nesta área, que está hoje em risco de se intensificar. O problema, como assinala o sempre perspicaz Vincenç Navarro, não é a falta de lideres, mas sim a orientação ideológica e os enviesamentos de classe das escolhas politicas dos lideres existentes e de muitos dos aspirantes. Escolhas ajudadas pelas regras europeias em vigor, claro. Em Portugal, basta conhecer a proposta do PSD para alargar os tempos da precariedade e assim baixar os salários: uma proposta que não manterá ou criará qualquer emprego, mas apenas estimulará as más práticas laborais.

2 comentários:

croky disse...

Será que "mínimo denominador comum" nos levará ao mesmo nível social que a China ?

Até que ponto a "re-fascização" do mundo laboral nos continuará a tirar direitos tão dificilmente adquiridos ?

Em que ponto a "bolha" vai rebentar ?

Mais ? Ler http://obloguistaanarquista.blogspot.com/

João Aleluia disse...

1. Confusão entre crescimento pela exportações e austeridade.

O crescimento apenas pelas exportações é um disparate mercantilista, que a historia já demonstrou ter maus resultados.

No entanto, a austeridade é absolutamente necessária, independentemente do modelo de desenvolvimento que for escolhido, simplesmente porque o actual nível de despesa (publica e privada) em que Portugal (e outros) vive é insustentável. E como diz Medina Carreira não é preciso ser economista para perceber isto. E até digo mais, se já acedeu ao site do IGCP, conhece a dimensão do PIB Português, e continua a considerar que não é preciso austeridade, então é simplesmente cego.

2. A Alemanha tem implementado um modelo de crescimento demasiado apoiado nas exportações e tem concorrido pelos salarios mais do que devia. No entanto, o preço destas politicas será pago (no longo prazo) pelos alemães. O problema dos PIIGS não é significativamente influenciado por estas politicas alemãs. Como já escrevi aqui varias vezes, o mundo não é só a UE. Se não importasse-mos nada da Alemanha, importaríamos o mesmo valor (mas menos bens) de outros países fora da UE, e ainda por cima estaríamos a pagar essas importações (e a contrair dividas) em moeda estrangeira que (na situação actual) apreciaria face ao euro e agravaria ainda mais os problemas.

3. As economias não crescem pelo aumento dos salários. Antes pelo contrário, é o crescimento económico que leva ao aumento dos salários. Mais, apenas o crescimento económico leva ao aumento sustentável dos salários.
Qualquer modelo de crescimento que não seja baseado na poupança, na educação, no desenvolvimento tecnológico, na redução dos custos de transacção e das falhas de mercado. E que consequentemente resulte em investimento privado (e publico) criador de valor. Qualquer modelo de desenvolvimento que não cumpra estes pressupostos, estará inevitavelmente condenado ao fracasso.

4. Procurar não alinhar na corrida para o fundo salarial (adoptando o modelo de crescimento descrito no ponto anterior) é uma necessidade. Aumentar os salários por decreto é um disparate.

5. Quanto à proposta do PSD, como não podia deixar de ser, é mais um disparate de quem não têm a mínima noção da realidade. Não percebo como é que ainda há quem acredite na democracia.