Uma das vantagens da actual crise financeira é a forma como os maiores defensores do capitalismo liberal se tornaram entusiastas da regulação pública. No entanto, esta defesa da intervenção pública limita-se a clamar pelas injecções de liquidez e descidas das taxas do juro dos bancos centrais ou por maior transparência nas transacções financeiras. Para que se atinga este último objectivo apela-se amiúde a que os bancos sigam as recomendações do comité de Basileia. Este muito pouco democrático comité (só os dez maiores bancos centrais têm aqui assento), nascido do fim do sistema de Bretton Woods, define os requisitos de capital desejáveis que os bancos de todo o mundo devem ter face aos empréstimos concedidos, sendo o verdadeiro regulador global da actividade bancária. Ora, mesmo na sua versão mais recente (Basileia II) as recomendações deste comité estão completamente desfasadas face à realidade destes dias. Como bem argumenta o economista françês, Dominique Plihon, os bancos estão hoje sujeitos não só ao risco de não pagamento dos empréstimos concedidos, mas também, como se confirma com a actual crise, às variações dos mercados financeiros. A titularização dos créditos permitiu que os bancos vendessem os seus créditos a instituições financeiras bem menos reguladas, como os hedge funds, diminuindo teoricamente o seu risco individual, mas aumentando o risco sistémico.Não bastam pois medidas parcelares, meramente curativas, que apenas adiem a próxima crise. Só com regulação eficaz da esfera financeira pode a economia real libertar-se da sua instabilidade e dos insaciáveis apetites da finança.
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