domingo, 17 de fevereiro de 2008
Debate à esquerda? Vamos a isso II
Mas acho que se pode e deve ir mais longe: é preciso criar condições para que a prazo possa emergir um espaço permanente de encontro, debate e proposta no campo da esquerda socialista que esteja para além dos partidos (que não contra eles) e que contribua, através de um envolvimento sério e sem concessões na luta das ideias, para quebrar o consenso neoliberal que ainda continua a definir os termos do possível em Portugal. Um «colectivo intelectual», organizado e consequente, que junte académicos, jornalistas, dirigentes políticos e activistas para elaborar argumentos e propostas robustas. Precisamos de aprender com a direita intransigente e com a sua capacidade para criar dispositivos formais e informais de persuasão. Será que o modelo anglo-saxónico do «think-tank» poderia ser viável em Portugal?
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7 comentários:
Um think tank precisa de ser financiado, e não fica barato.
Prefiro a noção de "intelectual colectivo" a de «colectivo intelectual», os intelectuais de esquerda têm "mauvaise presse", excessivos "reniements"...e outras coisas no género. Demais a ideia que um "colectivo intelectual" possa vir a mudar o que quer que seja ao estado actual, parece-me irrealista e pouco modesta. Não faltam por aí fora textos e ideias, falta sim, a cavilha operária para os pôr em prática...Como dizia Alain Badiou no Le Monde "L''intellectuel de gauche va disparaître, tant mieux"!!
Depende José Luiz Sarmento. Existem formatos variados. Acho que o dinheiro é um obstáculo, sobretudo para projectos mais robustos, mas nem sequer é o principal. Antes fosse...
Ab, permita-me clarificar o que eu quero dizer: não há nenhuma pretensão de fazer depender a "mudança" de um qualquer colectivo intelectual; há apenas a convicção de que faltam "textos e ideias" com vários formatos e para vários públicos que sejam capazes de ajudar a definir um programa de mudança. Por exemplo, a esquerda socialista está tremendamente desarmada na questão das reformas do estado social, na definição de uma agenda concreta para diminuir as desigualdades, na articulação entre intervenções conjunturais e objectivos de maior fôlego, etc. O voluntarismo obreirista sem bússolas produz sempre maus resultados. Hoje, dadas "as condições objectivas" é mais fácil colocar duzentas mil pessoas na rua (muito importante)do que articular esse esforço com um programa realista que possa persuadir mais gente, consolidar convicções e oferecer alternativas. Trabalho de hegemonia.
O que se está aqui a defender não é a figura do "intelectual tradicional" de esquerda (que tem o seu digno lugar). É outra coisa. É um esforço cooperativo colectivo para quebrar consensos e elaborar alternativas convincentes que ultrapassem os nossos frágeis lugares comuns.
Não sei se será assim tão fácil "colocar duzentas mil pessoas na rua"..., penso mesmo que a fragilidade desse género de projecto (bem que respeitável), vem essencialmente da falta de alicerces no mundo real, (sindicatos, partidos políticos, associações, simples cidadãos não encartados, etc), não é de um dia para o outro que se inventam forças alternativas, (as existentes levaram dezenas de anos a construir), e isso a partir da base de um texto programático de um só grupo social, (por vezes um pequeno numero de indivíduos). Antes pelo contrário, penso que, bem que difícil, há que construir a partir das forças existentes, criando novos espaços de inventário, de prospectiva, e de debate. Quanto a mim o "consenso neoliberal" não existe, existe sim o "benefício de dúvida" quanto a alternativa possível, por isso um número crescente de indivíduos se refugia na abstenção. De qualquer maneira face ao capitalismo financeiro mundializado as estratégias exclusivamente nacionais estão condenadas desde início. Em todos os sectores das esquerdas europeias (comunistas, socialistas, antiliberais), existem hoje largos espaços de interrogação e de convergência para um larga e profunda reelaboração do futuro. Entre falência do socialismo dito real a leste e uma social-democracia "à bout de souffle", "la donne" a changé! É um dado que os militantes dos diferentes partidos vão
interiorizando pouco a pouco e que importa agora transformar.
Que pensa destas 125 proposições programáticas dos comités antiliberais franceses?
http://bellaciao.org/fr/article.php3?id_article=35845
Nao e' viavel em Portugal porque em Portugal toda a gente quer ser vedeta e alavancar instituicoes para seu beneficio. Somos mais individualistas que os ingleses e americanos, onde os think tanks influenciaram porque aceitaram permanecer cinzentos e escondidos no lobby.
A. Cabral, todos os países têm "vedetas". Não aceito explicações baseadas na "psicologia dos povos". Os think-tanks têm essa dimensão de trabalho discreto, mas também têm uma dimensão pública inegável.
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