domingo, 24 de fevereiro de 2008

À esquerda só há questões de sociedade

Renato Carmo do blogue A Vez do Peão defende que o debate à esquerda «deve ultrapassar a questão económica e, sobretudo, deverá representar mais do que uma mera discussão em torno da viabilidade económica do Estado social». Concordo inteiramente. Aliás julgo que é urgente superar a ideia de que existem questões económicas, sociais, políticas ou culturais. Assim separadas para serem escrutinadas por diferentes «especialistas». Para ser mais concreto: uma coisa que me preocupa em certas debates à esquerda é a ideia de que existe uma «coisa» a que chamamos «o económico», geralmente reduzida «ao nexo mercantil», que tem de ser complementada com mais atenção ao «social» ou ao «político». Isto só pode gerar maus diagnósticos e propostas incompletas e ineficazes. Estou a pensar em fórmulas do tipo: «queremos uma economia de mercado, mas não uma sociedade de mercado». Já aqui argumentei que o conceito de economia de mercado é demasiado vago para nos permitir pensar a pluralidade de instituições que asseguram um sistema viável e decente. Uma estratégia igualitária de esquerda tem que discutir todas as «regras do jogo» da vida social que são importantes na determinação dos recursos, das oportunidades e do poder que cada um possui. Isto exige ir a «montante» e a «jusante» dos espaços onde está a placa que diz «proibida a entrada a pessoas estranhas ao serviço», mas também entrar neles e questioná-los. Até porque, feliz ou infelizmente, não é possível separar a «produção» da «distribuição». Também é por isso que à esquerda só há questões de sociedade.

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