quinta-feira, 3 de maio de 2007

Ultrapassar pela direita só se for em estradas britânicas

Não farei da minha participação neste blogue a crítica ou a resposta sistemática aos posts menos simpáticos sobre a governação socialista. O meu objectivo é intervir no quadro do diálogo e do debate com as diversas esquerdas na procura e defesa de alternativas ao programa político neoliberal e no combate à sua hegemonia actual. Este será o centro da minha intervenção sem prejuízo de alguns desvios a esta regra.

Dito isto, senti necessidade de reagir a dois posts (um sobre a política socialista para a saúde e o outro sobre o legado de Tony Blair) porque ambos incorrem num erro frequente de quem se coloca à esquerda do PS: «não há diferença entre o PS e o PSD»; «não há diferença entre a social-democracia e a direita liberal».

Compreendo que Marques Mendes, desnorteado com a fuga do eleitorado do centro para o PS e com a ameaça Portista à direita, não saiba para quem se dirigir e, confiante que os portugueses tenham memória curta, diga o que disse. No entanto, já não compreendo que à esquerda do PS seja possível fazer tábua rasa daquilo que o PSD fez e se preparava para fazer na área da saúde em Portugal. Nem se pode dizer que a agenda do PSD para a saúde seja uma agenda escondida, dada a clareza das suas intenções. Este partido iniciou, no último governo que liderou, um processo claro de privatização do sector público de saúde ,de que é exemplo: a transformação, de uma só vez, de 31 hospitais em sociedades anónimas (último passo antes da privatização); o anúncio da construção de 10 novos hospitais em parcerias público-privadas (só tiveram tempo para lançar 3 concursos: Loures, Cascais e Braga) ou o anúncio de taxas moderadoras indexadas aos rendimentos dos utentes (o objectivo não era moderar o acesso mas introduzir preços nos cuidados de saúde).

O PS não só suspendeu as parcerias com privados com excepção dos 3 concursos já lançados, como transformou os Hospitais SA em Entidades Públicas Empresariais. Rejeita taxas moderadoras diferenciadas porque entende que estas não são taxas de utilização dos cuidados de saúde.

Como é que se pode dizer que o PS está a fazer o que o PSD não poderia fazer no poder, quando o que este partido queria e já tinha iniciado era a privatização do SNS?

Num contexto de controlo das contas públicas, de fraco crescimento económico, de envelhecimento da população e de grandes avanços tecnológicos no sector tudo o que está a ser feito tem como principal objectivo preservar um Serviço Nacional de Saúde público, universal e de qualidade.

Debater visões diferentes à esquerda é fundamental. Reduzir o PS ao PSD não só é injusto como é um erro que só favorece a direita.

Sobre o legado de Tony Blair direi alguma coisa num próximo post.

3 comentários:

A. Cabral disse...

Ha que concerteza ter medo da "direita" mas tambem e' saudavel ter medo da "esquerda". Nao va' a "esquerda" pensar que pode fazer o que quiser que tem os votos garantidos.

Pata Negra disse...

Meu caro! A história regista-o, o PS tem andado apenas um pouco atrasado em relação às ideias do PSD. A breve prazo, embora de modo políticamente camuflado, acaba por por em prática aquilo que o PSD, por bloqueios que o PS melhor domina, não consegue!
Veja-se o "brilhantismo" com que Sócrates se defende na Assembleia:
Mas nós estamos a fazer aquilo que vocês não conseguiram fazer!
Na verdade, a desorientação de Marques Mendes, deve-se única e exclusivamente ao facto de ser ver obrigado a ser avançado de esquerda tendo apenas pé para a direita.
É verdade sim, já quase toda a gente o sente, ser do PS ou do PSD é como ser do Sporting ou do Benfica! Mais D menos D são apenas manias!
Eu sou de um clube da terceira distrital, com muita honra!

Pata Negra disse...

Meu caro! A história regista-o, o PS tem andado apenas um pouco atrasado em relação às ideias do PSD. A breve prazo, embora de modo políticamente camuflado, acaba por por em prática aquilo que o PSD, por bloqueios que o PS melhor domina, não consegue!
Veja-se o "brilhantismo" com que Sócrates se defende na Assembleia:
Mas nós estamos a fazer aquilo que vocês não conseguiram fazer!
Na verdade, a desorientação de Marques Mendes, deve-se única e exclusivamente ao facto de ser ver obrigado a ser avançado de esquerda tendo apenas pé para a direita.
É verdade sim, já quase toda a gente o sente, ser do PS ou do PSD é como ser do Sporting ou do Benfica! Mais D menos D são apenas manias!
Eu sou de um clube da terceira distrital, com muita honra!