domingo, 6 de maio de 2007

Economistas de Combate (I) - Gunnar Myrdal

Sem critério objectivo na escolha dos economistas a apresentar, começo hoje pelo sueco Gunnar Myrdal (1898-1987). A escolha prende-se sobretudo com o facto de este ter sido um dos grandes críticos do pensamento económico ortodoxo e um fervoroso adepto da abordagem multidisciplinar e institucional à realidade social. Além disso, Gunnar Myrdal partilha a ironia histórica de ter ganho, em 1974, o Prémio Nobel de Economia a meias com, o agora famoso, F. Hayek, claramente nos seus antípodas políticos e académicos.

Considerado um dos principais arquitectos do Estado-Providência sueco, Gunnar Myrdal soube aliar ao seu trabalho teórico em prol da social-democracia radical a participação activa na vida política sueca como senador e ministro do comércio. No seu profícuo trabalho académico destaca-se o livro «O Equilíbrio Monetário», onde Myrdal desmonta a estática e irrealista «teoria do equilíbrio geral» (a economia, se exclusivamente organizada pelo mercado, deslocar-se-ia «naturalmente» para um equilíbrio óptimo) e advoga a intervenção contracíclica do Estado na economia - investir mais em tempos de recessão, menos em tempos de expansão... grosso modo, o contrário do que está agora a ser feito em Portugal.

Mas não foi só como um dos grandes construtores da social-democracia europeia que este economista ganhou o seu lugar na história do pensamento económico. Através do seu «Teoria Económica e as Regiões Subdesenvolvidas», dedicou-se à Economia do Desenvolvimento. Podem-se tirar três grandes conclusões deste trabalho: 1- sem políticas públicas activas a desigualdade tende a crescer, quer dentro dos países, quer entre estes; 2- é uma maior igualdade na distribuição do rendimento, e não o contrário, o grande alicerce do crescimento económico; 3- a intervenção do Estado é decisiva no lançamento do desenvolvimento dos países mais pobres ao desencadear um ciclo cumulativo virtuoso de crescimento.

Se as ideias de Gunnar Myrdal estão, mais pelo contexto político do que pela sua invalidade teórica, fora de moda, elas continuam a ser influentes em certas correntes do pensamento económico, como a Economia Institucionalista.

Encontrarão aqui a palestra dada aquando da cerimónia de entrega do prémio Nobel.

1 comentário:

A. Cabral disse...

So em acrescento, o Myrdal fez fama internacional com o livro AN AMERICAN DILLEMA sobre a situacao racial nos EUA. Alem da sua advocacia contra-ciclica e pro estado providencia (que nao eram incomuns para a epoca), ele propos que a "moralidade" tivesse uma maior papel na ciencia economica, uma sugestao que nem na altura nem agora, foi muito bem aceite.