Antonio Gramsci tem vindo a ser redescoberto entre nós, graças ao qualificado trabalho militante de Carlos Carujo, organizador da obra: Antonio Gramsci, Cadernos do Cárcere – A Filosofia da Práxis, vol. 1, Edições 70, Lisboa, 2023. Uso-o no último artigo no Le Monde diplomatique – edição portuguesa sobre o fascismo que vem por arrasto:
Se as direitas funcionam por incessante repetição e se têm a hegemonia, então é caso para dizer que há algo a aprender com tal modo de operar. Deve reter-se uma formulação de um estratego de George Bush, lida há uns anos na repetitiva The Economist, e trazida para aqui de memória: «repetir, repetir, repetir sempre, e é só quando se está farto de repetir que o público começa a prestar atenção pela primeira vez».
Hegemonia é a articulação entre um bloco de forças sociais e capacidade de liderança ético-política, ensinou-nos Antonio Gramsci. Também nos ensinou que socializar verdades já conhecidas é um ato da maior importância moral. Só deve ser repetido aquilo que julgamos válido. A partir deste julgamento sobre validade colocam-se as magnas questões do que pode ter poder numa relação de forças dada. Esta distinção é fundamental para manter a lucidez, mas foi durante demasiado tempo elidida em certas correntes intelectuais, que de resto fragilizaram as análises concretas dos capitalismos concretos, com os seus efeitos deletérios bem reais no florescimento humano subjetivo e objetivo.
2 comentários:
Não é por nada, no segundo parágrafo, a partir da sexta linha, "só...", não vejo nexo linearidade, e muito menos premissas aristotélicas.
Se não tivesse a filosofia política como coisa por demais chata até leria os cadernos de Gramsci. Mas já não tenho idade nem paciência; nem para Gramsci nem para Kant, Locke e companhia. Assim como assim, daqui por uns anos já cá não estou.
A direita usou muito bem a janela de Overton, que não é mais do que aquilo que em psicologia se chama "ancorar" uma ideia. Usa-se em negociações colocando um preço admitidamente excessivo num item, mas que condiciona a percepção do outro.
No caso da política, a profusão de ideias de liberalismo económico, mercados a decidir, individualismo, etc, com que os múltiplos comentadores e lideres de opinião vão objetivamente fazendo a cabeça da opinião pública, levando-a, por exemplo a considerar a liberalização/privatização de tudo e mais alguma coisa com muito menos radical do que a coletivização/nacionalização de tudo. E no entanto, são os dois extremos entre os quais nos situamos.
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