quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Venha a picanha?


O governo português, pela voz de António Costa, quer que cada vez mais portugueses comam cada vez mais picanha importada do Brasil, à custa da floresta amazónica e dos circuitos mais curtos de produção nacional, ao mesmo tempo que aposta no reforço da abertura dos mercados da América do Sul às multinacionais do centro europeu. Caso contrário, é difícil compreender a sua aposta em mais um acordo dito de comércio livre, desta vez UE-Mercosul, reafirmada e partilhada num encontro político-empresarial com o seu homólogo espanhol na semana passada. 

Seria mais um daqueles acordos capitalistas produtores de míope pressão concorrencial, de impotência democrática ou de danos ambientais. Este sinal de pretensa liderança europeia, de fidelidade à lógica da UE, surge num contexto em que é cada vez mais clara a necessidade de desglobalizar, de aumentar o controlo político sobre os processos de provisão. Talvez por isso, pela posição de certos Estados, estou cautelosamente optimista sobre o destino deste acordo: o caixote do lixo da história.

Entretanto, é caso para dizer que os neoliberalismos zumbis, o progressista e o reacionário, com Bolsonaro à cabeça do outro lado, convergem numa extroversão económica crescente, ao arrepio da necessidade comum de proteção económica das sociedades nacionais.  

2 comentários:

Anónimo disse...

A convergência das esquerdas é uma urgência,perante o avanço da direita com a cumplicidade de alguns setores ditos de esquerda,a constituição de uma plataforma eleitoral(Bloco,PEV,PCP e movimentos sociais) pode constituir uma força que mobilize largos setores da sociedade,que deixaram de acreditar numa sociedade com mais justiça social,fraterna e livre.

Amilcar disse...

Leiam "As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, está tudo lá desde os descobrimentos.