segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Um jornal sem ilusões


Marcelo Rebelo de Sousa mostra agora preocupação com o aumento das desigualdades e da pobreza, mas não manifestou objecções às medidas que aprofundaram a situação de precariedade dos trabalhadores, em particular dos mais jovens, quando em 2019 o governo decidiu, por exemplo, alargar o período experimental, de 90 para 180 dias, para trabalhadores à procura do primeiro emprego (...) Tudo começa no trabalho. Esse trabalho que Marcelo Rebelo de Sousa acha aceitável ser remunerado por um salário mínimo de 635 euros, como defendeu, assumindo apenas as supostas dores dos grandes empresários. (...) Marcelo Rebelo de Sousa sempre defendeu que o importante é pensar o «sistema de saúde» no seu conjunto (público, privado e social) – a consagrada fórmula neoliberal para eternizar o financiamento público do lucrativo negócio da saúde privada (...) O presidente-comentador-candidato está também em campanha para que a direita compreenda que «só vai ao poder se atingir 45%», meta «realmente muito exigente em termos de afirmação de um qualquer partido ou coligação» («Marcelo admite Governo do PSD com apoio do Chega», SIC Notícias, 12 de Dezembro de 2020). Nada que não dissesse já em 2015; agora a diferença é incluir no potencial de crescimento das direitas um partido ultraliberal-autoritário. À esquerda, só tem ilusões sobre Marcelo Rebelo de Sousa quem quer. Era bom que essas ilusões não fossem mais tarde pretexto para não avançar com o investimento público e com as políticas de emprego e de defesa do SNS de que o país precisa.

Sandra Monteiro, O presidente, a saúde e o emprego, Le Monde diplomatique - edição portuguesa, Janeiro de 2021.

2 comentários:

Anónimo disse...

MRS precisa dos votos da esquerda para ser reeleito à primeira volta, o que talvez venha a ficar comprometido se dos 3 candidatos da esquerda, venha a restar apenas 1 na véspera da eleição.
A elevada abstenção que esta eleição vai ter (reeleição certa, confinamento/pandemia e inverno rigoroso), podem obrigar mesmo à segunda volta e talvez os planos da direita mais torta da europa saiam furados.
Talvez, repito!

Anónimo disse...

É verdade, MRdS assinou, promologou, toda essa legislação "anti trabalhador". E assinou muita outra legislação pró funcionário público, como por exemplo o insólito total de horas de laboração semanal de estes assalariados.

Além disso MRdS também ajudou a elaborar, e assinou(!), uma Constituição que dá ao Governo meios para que propostas de legislação vetadas por um PR retornem, para serem forçosamente assinadas pelo renitente PR. Esvaziamento total do "poder" presidencial. E tantos a quererem ser PR, sabe-se lá porquê?.
Acusar este, ou outro PR, de assinar legislação a favor ou contra, é apenas partidarite agúda. Afinal essa é apenas mais uma das tarefas formais do PR.