segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Apresentar o trabalho


Este livro tem como objeto o trabalho e o emprego, o impacto da crise em termos de desemprego e precariedade, as políticas públicas adotadas ao abrigo do memorando com a Troica, o seu significado e as suas consequências. Mostra que o resgate a que Portugal esteve sujeito fez do trabalho “variável de ajustamento” de um “desequilíbrio” que na sua origem era antes do mais financeiro. Defende que o verdadeiro reequilíbrio passa pela revalorização do trabalho em todas as suas dimensões — retribuição, segurança, autonomia, participação na definição do destino das empresas e de outras organizações.
 

5 comentários:

Anónimo disse...

Feliz tema! Obrigado aos autores pelo esforço!

Unabomber disse...

"A revolução tecnológica, o impacto no emprego e na repartição da riqueza criada"

"No período 2007/2016, mesmo antes do nosso país ter sofrido um forte impacto da revolução tecnológica (ela ainda está no início, em Portugal ela está a dar ainda apenas os primeiros passos), verificou-se uma profunda reestruturação do mercado do emprego com consequências dramáticas para determinados grupos da população.
Alguns dados do INE sobre o que sucedeu nos últimos anos em Portugal para se tornar claro o que se verificou, já que passou despercebido a muitos portugueses:
- Entre 2007 e 2016, foram destruídos, em Portugal, 546,5 mil postos de trabalho (o emprego passou de 5,15 milhões para 4,60 milhões), mas não foi só isso.
- Se a análise for feita por níveis de escolaridade a conclusão que se tira é que, entre 2007 e 2016, a destruição de emprego atingiu quase exclusivamente o emprego ocupado por trabalhadores com o nível de escolaridade até ao 3º ciclo do ensino básico, cujo número de empregos diminuiu em 1,4 milhões , tendo a maior parte deles sido excluídos definitivamente do mercado de trabalho;
- Uma parte destes empregos foram ocupados por trabalhadores com o ensino secundário (o emprego destes aumentou, neste período, em 405,5 mil) e com o ensino superior (+ 462,8 mil), muitos deles a receber salários muito baixos;
(...)
Se a análise for feita por profissões , conclui-se que, entre 2007 e 2016,:
- O emprego de "Especialistas intelectuais e científicos" aumentou em 384,5 mil, mas foi inferior ao aumento do emprego de trabalhadores com o ensino superior que aumentou em 462,8 mil neste período;
(...)
- O emprego de "Operários" reduziu-se quase para metade, pois diminuiu em 439,2 mil (entre 2007 e 2016, passou de 1,02 milhões para 581,6 mil).
(...)
Contrariamente ao que muitos podem pensar, o desemprego tecnológico é uma ameaça real, motivado por um desajustamento entre as competências dos trabalhadores e as exigências determinadas pelo rápido desenvolvimento técnológico.
As crises agravam todo este processo, de que é exemplo a destruição em Portugal, entre 2007 e 2016, de 1,4 milhões de empregos ocupados por trabalhadores de baixa escolaridade e de quase metade do operariado.
(...)
Em Singapura, o metro já funciona sem maquinistas.
No Japão já existem restaurantes onde os empregados de mesa foram eliminados.
O WATSON, um computador da IBM, instalado num hospital oncológico do Texas, já faz diagnósticos que ajudam os médicos a decidir.
Muitos artigos de grandes revistas já são "escritos" por computadores.
Milhões de robôs já existem no mundo e o seu crescimento é exponencial.
Num interessante estudo publicado na Harvard Business Review em 12 Abril de 2017 por três investigadores com o titulo esclarecedor "Os países mais e menos afetados pela automação" concluíram que "Atualmente, cerca de metade das atividades remuneradas na economia global têm o potencial de serem automatizadas por tecnologia já existente"
(...)
Segundo o FMI, desde 1980, tem-se verificado que a participação dos rendimentos do Trabalho no Rendimento nacional tem diminuído (em Portugal, entre 2002 e 2016, diminuiu de 38,7% do PIB para 34,2% do PIB).
E que "se estima que nas economias avançadas , aproximadamente METADE da diminuição da participação dos rendimento do Trabalho no Rendimento Nacional pode-se atribuir ao impacto da tecnologia".
A globalização contribui para a redução com um valor que é "METADE do da tecnologia".
E "juntas, a tecnologia e integração mundial explicam cerca de 75% da diminuição da participação do Trabalho no Rendimento Nacional da Alemanha e Itália, e cerca de 50% nos Estados Unidos".
(...)
A revolução tecnológica é IRREVERSÍVEL, o que não é inevitável é que ela se faça dominada pelas leis do mercado capitalista, nomeadamente a caça ao lucro, como os defensores do capitalismo pretendem fazer crer."

Frases "soltas" de um texto (longo) de Eugénio Rosa

Anónimo disse...

Um excelente texto de Eugénio Rosa.

Um pouco truncado mas excelente. Também um pouco fora de "lugar", mas isso não tem qualquer relevo embora se possa ficar erradamente com a sensação que o seu principal objectivo foi "ocultar o impacto da crise em termos de desemprego e precariedade, as políticas públicas adoptadas ao abrigo do memorando com a Troica, o seu significado e as suas consequências".

Mas isso provavelmente é má língua

Anónimo disse...

Já agora, como se colocou a questão da Revolução Tecnológica , mais um texto da área política do Eugénio Rosa sobre CRISE, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E INGENUIDADE TECNOLÓGICA

"Os que defendem a inteligência artificial (IA) como solução para os problemas económicos padecem de uma enorme ingenuidade tecnológica. Alguns chegam até a perguntar como a IA poderia traduzir-se em crescimento económico . Na verdade, os engenheiros que sabem muito de IA & de robots pouco ou nada sabem de economia política – o que limita o seu entendimento. Eles Incidem assim em ilusões, como se o progresso tecnológico pudesse resolver a depressão económica actual. Por isso, convém repetir o b-a-bá do modo de produção capitalista. A generalização da IA & dos robots significa um aumento da composição orgânica do capital, ou seja, da substituição de trabalho vivo pelo trabalho morto incorporado nos equipamentos. Ora, o aumento da composição organica, leva inelutavelmente à redução das taxas de mais-valia e de lucro, pois elas só podem ser extraídas do trabalho vivo. Dessa forma, o incremento da queda da taxa de lucro será um motivo ulterior para agravar ainda mais a crise actual. É verdade que na concorrência inter-capitalista as empresas que chegam primeiro à IA e aos robots têm uma vantagem acrescida em relação aos seus competidores mais atrasados, os quais podem ser expulsos do mercado. Mas a generalização da IA e dos robots a todas as empresas poderá significar o dobre de finados do capitalismo, um sistema baseado no lucro. Não há falta de inteligência entre os tecnólogos da Inteligência Artificial – eles apenas padecem de uma visão em túnel e espalham as suas ilusões entre aqueles que os ouvem."

Anónimo disse...

Pois... Depois de termos fábricas totalmente robotizadas, talvez seja melhor os tecnólogos da Inteligência Artificial inventarem o "consumidor robotizado", visto que os de carne e osso não terão um tostão no bolso para consumir o que quer que seja, pois estarão todos num desemprego perpétuo. Ou seja, o lucro absoluto transformar-se-á em lucro nenhum e em miséria total. Com tanto avanço tecnológico ainda acabamos na Idade da Pedra... lascada.
Bem sei que a História não é dada a repetições, mas, se puxarmos pela memória dos tempos, teremos a estranha sensação de que já vimos esta absoluta e anestesiante fé na omnipotência do progresso e da tecnologia: foi nas vésperas da I Guerra Mundial.