domingo, 20 de janeiro de 2013

Enviesamentos

Esta semana ficámos a saber que um dos co-autores da fraude que não é sobre Portugal, também conhecida por relatório do FMI, e que por sinal foi autor do programa económico de Zapatero, faz campanha contra a austeridade nas horas livres. Qual é a surpresa? A Comissão Europeia, ou melhor a sua direcção-geral de emprego, assuntos sociais e inclusão, também fez um estudo detalhado, onde conclui que a austeridade leva, olha a surpresa, a uma compressão da procura agregada e que não há nada que faça mais pela destruição de emprego, ao mesmo tempo que se cava um fosso entre centro e periferia, o tal desenvolvimento desigual. O próprio FMI é conhecido por rever em alta os multiplicadores orçamentais: agora, por cada euro de austeridade, a economia pode cair até 1,7 euros, o que faz com que a economia portuguesa, só devido ao corte adicional de 4000 milhões de euros a que estamos “condenados”, a expressão é de Passos, possa dar um tombo adicional de 4% do PIB, segundo Eugénio Rosa. Só o BCE, por sinal a instituição mais poderosa das três, insiste em negar que a realidade tem um enviesamento keynesiano, para retomar Krugman, ao nível macroeconómico, embora BCE, Comissão e FMI mantenham o enviesamento anti-keynesiano nas políticas, o que aliás está na sua natureza. De resto, é cada vez mais claro qual é o objectivo destas políticas: “O horror que está diante dos nossos olhos é a ruina social. A estratégia europeia face à crise consiste em partir a espinha à resistência dos trabalhadores aos cortes salariais, deixando que o desemprego exploda. É nisto que consistem as ‘desvalorizações internas’. E isto causa repulsa.” Quem escreveu isto não escreve por aqui, mas sim num jornal conservador britânico: vale a pena seguir Ambrose Evans-Prichard, comentador económico do Daily Telegraph. Parece que a realidade também tem uns enviesamentos marxistas...

1 comentário:

João Carlos Graça disse...

O artigo do Evans-Prichard é uma pérola. Muito obrigado pela recomendação.
Quanto ao panorama português: felizmente há Eugénio Rosa! Se não fosse ele, os números tenderiam ainda muito mais (do que do que apesar de tudo tendem) a ser aquilo que "nós" quisermos que sejam, e só mesmo isso...