Em 1927, no livro Liberalismo, Ludwig von Mises afirmou: “Não se pode negar que o fascismo e movimentos semelhantes, visando ao estabelecimento de ditaduras, estejam cheios das melhores intenções e que sua intervenção, até ao momento, salvou a civilização europeia. O mérito que, por isso, o fascismo obteve para si estará inscrito na história.”
A decadência da linha editorial dos jornais está bem patente num artigo ignobilmente ignorante da autoria Ricardo Simões Ferreira, Editor-Executivo Adjunto do Diário de Notícias.
Diz que Ludwig von Mises “provou matematicamente” que o socialismo não funciona. Mises nunca usou qualquer matemática nos seus livros e artigos antissocialistas. O seu famoso argumento acerca da impossibilidade do cálculo económico em socialismo é um exemplo disso. Não é pior, nem melhor, por isso. Mas os factos contam. E obviamente, houve economistas socialistas que, armados da teoria neoclássica, por exemplo, lhe responderam. O liberal austríaco Joseph Schumpeter, o da destruição criativa, deu-lhes razão e tudo.
Por outro lado, não há hoje uma única faculdade de economia que tenha cadeiras de economia marxista e mesmo o pensamento de Keynes é ensinado numa versão diluída pela economia neoliberal avassaladoramente dominante, infelizmente. Os estudantes é que perdem com a falta de pluralismo.
Quanto ao Manifesto do Partido Comunista, que aposto que este fulano nunca leu, continua a oferecer pistas frescas para quem quer compreender o mundo, tal como A Riqueza das Nações, de Adam Smith, de 1776, por exemplo. Haja curiosidade pelos clássicos. São sempre surpreendentes.
Leia-se o que Smith escreveu sobre a vulnerabilidade estrutural dos trabalhadores perante os patrões ou sobre o lado negro da divisão do trabalho ou sobre a natureza de classe do Estado ou....
O chorrilho de aldrabices prossegue, incluindo a ideia de que os professores e logo os jornalistas são comunistas encafuados: “é preciso limpar” o ensino, urra. Isto é a retórica do fascismo. No fundo, ele sabe que os comunistas são parte essencial do antifascismo que cruza Marx e Keynes, da economia política à política económica, do Brasil à China. O objetivo é só instilar medo. Mas nós não temos medo. Ou, melhor, até temos, quando nos sentimos sozinhos, mas sabemos que não o estamos e por isso o medo passa.
E não é só a ignorância da história das ideias que assim se revela, é também ignorância da história económico-política deste país capitalista: qualquer pessoa séria sabe que os últimos quarenta anos não têm sido dominados pelo “socialismo”, mas sim pelo neoliberalismo e pela sua lógica privatizadora e liberalizadora, tornando Portugal um dos países europeus como menos ativos públicos empresariais ou menos stock da habitação pública, em percentagem do total, por exemplo. E este padrão tem sido impulsionado pela lógica da integração europeia, que impede estruturalmente políticas económicas keynesianas, para já não dizer socialistas, até pela anulação de vários instrumentos de política económica.
Na realidade, esta gente não descansa enquanto existirem alguns elementos de civilidade democrática na sociedade portuguesa, da escola pública ao SNS, passando por alguns direitos laborais, cada vez menos face ao crescimento dos direitos patronais. O anticomunismo revela o reconhecimento de que os comunistas portugueses foram e são uma condição necessária, mas não suficiente, claro, para todos esses elementos. Esta é a verdade.
Enfim, jornais dirigidos por gente desta são puros veículos de desinformação, de mentira e de ódio. Liberais até dizer chega, em suma.


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