quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Isto é mesmo a gozar com quem trabalha

Em agosto, o ministro Leitão Amaro assegurou («quero deixar aqui essa garantia, é essa a intenção inequívoca»), que a reforma laboral «era favorável às mulheres, aos jovens e à família», visando um maior equilíbrio no mercado de trabalho e incluindo «medidas que reforçam a conciliação da vida familiar com a vida pessoal». Em contramão, porém, a ministra do Trabalho afirmou recentemente o oposto, defendendo que o desequilíbrio existe, mas «a favor dos trabalhadores». Luís Montenegro, aliás, já tinha dito não ter «nenhuma intenção de prejudicar os direitos dos trabalhadores». Como quem diz, vão ser sacrificados, mas é sem intenção, não levem a mal.

Entre os argumentos invocados para defender o regresso ao século XIX em matéria de precariedade laboral, com as alterações profundas que estão em cima da mesa - e que a coligação de direita convenientemente omitiu no programa eleitoral - a ministra Palma Ramalho tem insistido na ideia de que as «novas gerações (...) já não querem um emprego para toda a vida», antes valorizando a mobilidade e a flexibilidade. «É mais atraente para os jovens o valor da remuneração do que a natureza dos contratos», disse. Sucede, porém, que os jovens não pensam como a ministra diz que pensam, nem querem o que a ministra gostaria que quisessem. Entre «um emprego para toda a vida» e um regime de instabilidade e precariedade sem fim vai uma enorme distância.


De facto, segundo um estudo de 2024 da Universidade Católica, logo a seguir a ter um emprego que permita progredir na carreira (coisa que o reforço da precariedade dificulta), 72% dos jovens consideram muito importante a estabilidade e segurança no emprego e, logo a seguir, ter um emprego que favoreça a conciliação com a vida pessoal e familiar (71%). Não é por acaso que Paulo Marques, do Observatório do Emprego Jovem, considera que «a questão-chave é a instabilidade dos contratos», lembrando que as reformas recentes - «uma durante o período da 'geringonça' e outra já com o governo do PS com maioria absoluta» - contribuíram para que a percentagem de jovens com contrato a termo baixasse, desde 2015, de 70% para 53%. Já a flexibilidade dos horários laborais - e ao contrário do que a ministra sugere - apenas é valorizada por 35% dos jovens inquiridos.

A direita é pródiga em lançar ideias falsas para o ar, ao arrepio dos factos. Foi assim nos tempos de Passos e Portas, com a cantilena do «empobrecimento competitivo» e da «economia do pingo», a que está a regressar. Não por acaso, e evidenciando a dificuldade do governo em demonstrar, para lá de o dizer, como é que a reforma laboral fará a economia crescer e tornar o país mais competitivo, a ministra do Trabalho, padroeira dos patrões, foi incapaz, na entrevista à RTP, de identificar «qualquer estudo que comprove o impacto económico das alterações que propõe».

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