sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Leituras


«Estou farto de negacionistas. Farto dos que recusam a necessidade de tomar medidas que permitam gerir a pandemia e manter uma folga razoável nos nossos cuidados hospitalares; mas também dos negacionistas de sinal contrário: os que negam a destruição causada por confinamentos agressivos e escolas fechadas. De momento, os últimos prevalecem. Tratam como efeito secundário quem caiu na miséria, rejeitam os estudos que mostram como o confinamento e isolamento tem efeitos gravíssimos na saúde mental — basta ver as toneladas de antidepressivos que se vendem, os suicídios adolescentes a disparar em vários sítios ou os níveis de ansiedade que tornam as crianças disfuncionais —, desvalorizam os estudos que mostram os impactos da falta de escola presencial na aprendizagem das crianças mais carenciadas e atiram para o lixo os estudos que mostram que essas carências acentuarão ainda mais as desigualdades no futuro. Falam com uma leveza assustadora sobre confinamentos de mais dois meses. (...) Na semana de 15 de janeiro, apresentaram-se cenários catastróficos para justificar o fecho das escolas. A 12 de janeiro, as muito badaladas projeções de Carlos Antunes diziam que, com escolas fechadas, seria de esperar 14 mil casos diários a 27 de janeiro. Nunca chegámos aos 13 mil casos por dia (média semanal). No fim de janeiro, Carlos Antunes previa, que até 9 de fevereiro e com escolas fechadas, estivéssemos nos 17 ou 18 mil. Errou por mais de 10 mil. Em vez de admitir que modelizou mal a epidemia, passou a insistir nos efeitos milagrosos das escolas fechadas

Luís Aguiar-Conraria, Farto de negacionistas

«O Público apresentou-nos o Samuel, que vive com a mãe, Ana Paula, a dois passos da Avenida da Liberdade, onde o metro quadrado mais caro do país custa mais de 5500 euros. O Samuel tem oito anos e está no segundo ano. Sabe ler “mais ou menos” porque o encerramento das escolas do ano passado o apanhou sem internet nem computador. Samuel tem perturbação de hiperatividade e défice de atenção. (…) Também pelo Público conheci a história de Joana Grilo, de 27 anos, operadora de call center das 10h às 19h, com 40 minutos de pausa. Está em teletrabalho sozinha em casa com dois filhos, de três e oito anos. Eu percebo de onde vem a ideia de que o teletrabalho é compatível com o cuidado de crianças pequenas: de pessoas com empregos diferenciados flexíveis e disponibilidade financeira para pagar apoio doméstico. Tudo o que Joana não é. Só que Joana não tem escolha, porque os apoios do Governo excluem-na. Como vai ser quando o filho mais velho pedir para imprimir a ficha, ajuda com a Matemática, fazer a ligação do zoom? E quem vai vigiar o de três anos para evitar acidentes domésticos? (…) Isto não é só um assunto de saúde pública. Aos especialistas de Saúde Pública compete oferecer cenários para a evolução da pandemia. Aos economistas para as consequências económicas. Aos psicólogos para a pandemia de saúde mental que para aí anda.»

Susana Peralta, As vidas não têm preço porque são os pobres que pagam a conta

«No dia seguinte ao encerramento das escolas, o debate no espaço público não foi sobre como iríamos resolver o problema daqueles que ficaram sem escola. Foi como defender os que, apesar de tudo, vão sofrer menos com este encerramento. E a razão é simples: os pais destes meninos mais privilegiados que têm acesso fácil à comunicação social e à liderança dos partidos. É só mais uma exibição da nossa desigualdade estrutural. E este assunto ficou encerrado quando os colégios foram autorizados a dar as suas aulas fingindo que não eram aulas. O encerramento das escolas deixou de ser assunto nos media. O debate acabou como acabam sempre estes debates em Portugal: os pobres tramaram-se e o resto tratou de si. (...) Quando se fala do que não foi preparado para as crianças com mais dificuldades poderem continuar a ter aulas, pensa-se em computadores e ligação à Internet. Mas não, esse não é o principal problema – apesar de também o ser e do governo ter falhado nisso. As escolas não preparam pais para terem o capital cultural que lhes falta. É difícil ajudar nas aulas de história ou matemática quando se tem a quarta classe. E aulas online sem esse apoio valem zero. Pelo menos nos primeiros ciclos. Avançar com o ensino à distância, mesmo que existissem computadores para todos, é tornar esse ensino inexistente para as crianças mais pobres. Este encerramento é uma punição a uma parte da população.»

Daniel Oliveira, Põe o pobre em baixo e não te niveles por ele

14 comentários:

Anónimo disse...

"negacionistas de sinal contrário: os que negam a destruição causada por confinamentos agressivos e escolas fechadas"
Era possível colocar aqui um link para um desses exemplos? De pessoas que negam a destruição causada por confinamentos agressivos e escolas fechadas?

Jose disse...

As epidemias têm um alvo e um motor: pessoas.

Ora as pessoas são uma variável pouco estudada nos modelos que projetam o que se tem de essencial para a sociedade: crescimento económico, impostos, provisões.

Ora o que agora mais convinha, trabalhar perto de casa e mandar os putos a pé para a escola tem estado sempre ausente de planos individuais e colectivos.

Jose disse...

As proclamações de solidariedade estão todas dirigidas a uma entidade - o Estado.
O Estado assegura a dignidade do pedinte, à sua caridade chama-se provisão, estender a mão é exercer um direito.
Para quê família, vizinhança, freguesia, paróquia?
Exerçamos os nossos direitos, Eu/cidadão, o Estado/sociedade!

E vem a pandemia...

Jose disse...

Da wikipédia

«A Telescola, oficialmente Ensino Básico Mediatizado e anteriormente designado como Ciclo Preparatório TV, foi um sistema de ensino via televisão, que arrancou em Portugal a 6 de janeiro de 1965, com programação produzida nos estúdios da Radiotelevisão Portuguesa, exibida diariamente pela emissora de televisão pública.»

...

JE disse...

"as pessoas são uma variável pouco estudada nos modelos que projetam ..."

A falta que faz alguma literacia social por parte dos que sempre renegaram o social.

JE disse...

"As proclamações de solidariedade estão todas dirigidas a uma entidade - o Estado."

Proclamações? Jose como sempre sonha com orientações e proclamações assim como os paridos naquelas inenarráveis conversas em família

Adiante, Jose:
"O Estado assegura a dignidade do pedinte, à sua caridade chama-se provisão, estender a mão é exercer um direito."

Eis o modelo societário de jose. O estado para os pedintes, para a caridade para o estender a mão.
Nada de interferir com a cidadania ou com o direito à exploração por parte do grande patrão. Nada de ser o Estado o garante do direito à saude, à educação, à paz, à habitação

Tudo se resolve na "família, vizinhança, freguesia, paróquia" , voltando se necessário ao direito de pernada ou às almoçaradas da legião, que matavam a fome aos vizinhos e aos fregueses.

E deixemos ao Estado o direito à repressão, tão abençoado por jose nos tempos em que esta promovia o bem-estar na famíla, na vizinhança, na freguesia, na paróquia e na colónia

E vem Abril e as portas que Abril abriu

JE disse...

Fui ver de facto a wikipedia.

A pobreza do texto é tão confrangedora, as referências tão idiotas que confirma o motivo de escolha por parte de jose.


Anónimo disse...

Entre o Nuno Serra e o Bolsonaro nisto a diferença que vejo é que o Bolsonaro é bruto, o Nuno Serra usa lágrimas de crocodilo pelas criançinhas e pais.
Lembra-me do Marx do 'tudo o que era sólido se desfaz'? A família que assegurava o apoio para cuidar das criancas foi desfeita. Com a cumplicidade do estado que fornece esses presídios juvenis onde os pais podem largar as criancas para serem disciplinados trabalhadores livres de Taís 'empecilhos', para poderem bem servir os patroes e os clientes. O Nuno Serra claramente aprova este estado de coisas, nem consegue conceber qualquer alternativa, nem durante uma emergência nem fora dela. É um bom apoiante do capitalismo realmente existente. E será tudo para poder suportar um governo que errou?

JE disse...

Apresentando desde já as minhas desculpas ao autor do post, quero dizer frontalmente que o "anónimo" de 13 de Fevereiro de 2021 às 19:04 é um idiota.

Não costumo crismar assim directamente uma pessoa, embora o faça quanto a ideias ou argumentos.

Tal anónimo é não só idiota, como é também outras coisas

E por várias coisas igualmente se pode dizer que é idiota.


Comecemos pelo básico. Só alguém que o é, consegue associar bolsonaro ao autor do Post. Só alguém que o é, e que o é muito. É ofensivo para Nuno Serra. Absurdamente ofensivo. Mas é também de certa forma ofensivo para quem lê estas obscenidades, mais próprias de um provocador. Que todavia é tão idiota, que de forma idiota pensa que as suas palavras têm qualquer acolhimento

É aquilo que é. E está tremendamente irritado para assim mostrar cristalinamente aquilo que de facto é

JE disse...

Mas o sujeito "anónimo" das 19 e 04 tenta ir mais longe.

Tenta forjar "clivagens falsas", segundo a expressão elegante e justa de João Rodrigues.

E o "anónimo". montado, não já na sua habitual segunda derivada, tenta ir à boleia de Marx como forma de mostrar os seus intentos rebolucionários.

Curiosamente tal paleio é idêntico a um tal
"manuel pinto" e anónimos limitada

https://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2021/02/foi-o-fecho-das-escolas-que-reduziu-os.html

Que fora entretanto desmascarado.

Será também por isso que o que sobressai no comentário deste "anónimo" é esta crispação tão obscenamente idiota?

JE disse...

Só há alguém que junta estas "qualidades" numa mesma pessoa.

Esse alguém é o tal comparsa do ministro holandês.

Tenta fazer o seu trabalho de achegado ao chega, antes do chega ter chegado. Desde há muito. Usando todas as formas e todos os pretextos. Ora na sua verdadeira face, ora usando uma miríade de nicks (que se espraiam por tudo o que seja caixa de comentário a assediar). Ora se apresentando com as ideias, ora com as ideias do adversário, dinamitando-as com as suas idiotices. Ora simulando cavalos de Tróia a usar no futuro, ora escondendo-se atrás de nicks alheios.

Mas há um terceiro motivo, para além do seu trabalho ideológico e da sua postura ética que o leva a este tipo de "actividades".

Quando este "anónimo", um tal de joão ferreira pimentel, estudava no Instituto Real de Tecnologia em Estocolmo (KTH), um dos seus projectos foi desenvolver um algoritmo de reconhecimento de padrões, usando cadeias de Markov

Apostou na altura que conseguia passar incólume pelos blogs que quisesse, ao longo do tempo e sem ser detectado. Blogs de esquerda, claro. Mas também nas caixas de comentários de jornais, como o Público

É também o que tem feito aqui no LdB. Por isso também a miríade de nicks.

Infelizmente para ele, nunca primou pela capacidade cognitiva. E os exemplos abundam. Basta pegar num dia ao acaso, dos comentários no Ladrões, de há 10 anos ou de ontem.

O amigo do ministro holandês travestiu-se de tantas formas, que tropeçou nas vestes de travesti quando saia da casa do dito

Anónimo disse...

Homem, trate-se. Nunca pus os pés na Holanda nem pretendo por. Você vê um fantasma em quem quer que diga algo que lhe desagrada, isso já é patológico.

Anónimo disse...

Um Bolsonaro a entrar com dentes de leão e a sair com pezinhod de cordeiro. RIP aqui e na Holanda

JE disse...

Ahahahah

Temos que a associação abjecta com Bolsonaro por parte do "anónimo", que escreve tal comentário abjecto, foi convertida num "nunca estive na Holanda"

Temos que a acusação directa do "anónimo" ser aquilo que é e de o sendo, ser ainda mais do que é, merece um seu fenecido "Nunca pus os pés na Holanda nem pretendo por".

Tão fofinho...e tão clarinho

Ahahahah