Até parece que alguém está a pagar o livro requentado de um tardio Cavaco Silva, escrito para comemorar os 25 anos em que deixou o Palácio de S.Bento. Ninguém já se recorda, mas Cavaco Silva saiu de S.Bento envolto no tabu de deixar o poder entregue aos mais turvos interesses, ao que parece pressionado por provas entregues à comunicação social do enriquecimento ilegal de diversos ministros, na sequência do seu papel de introduzir - através de políticas deliberadas e desejadas - o projecto neoliberal em Portugal.
Na sua autobiografia política, escreveu que se afastou porque se tinha vindo "cansando da vida partidária", que "estava a ficar farto", que os "comportamentos oportunistas e mesquinhos de alguns dirigentes partidários desenvolveram" nele "uma crescente sensação de fastio e vontade de reencontrar outras envolventes humanas, outras linguagens, outras atitudes" e que "era com sacrifício que participava nas reuniões dos órgãos de direcção do partido e escutava os discursos dos chamados barões ou de certos dirigentes".
E cita aquilo que, a 13/8/1994, na Festa do Pontal, disse:
"No PSD, tal como nos partidos da oposição, também existem alguns barões que vêem nos partidos trampolins para alcançarem benesses pessoais"
Frase que, numa entrevista (“As revelações de Cavaco”, Público, 28/3/1995), voltou a abordar:
“Sangue novo, novas ideias, novas atitudes...” – começou por dizer. Depois interrompeu-se e a seguir disse algo aparentemente estranho, que nada tinha a ver com o que estava a dizer - “...e defendendo que o partido não devia ser trampolim para benesses pessoais. Fiz este discurso no Pontal, depois do Pontal... e há momentos em que o exemplo tem de vir de cima”.
Que exemplo? O da deserção? O de ser cúmplice de benesses pessoais, eventualmente ilegais e criminosas? O de defender o partido acima de tudo, mesmo da lei?
Ora, eis algo que sobre o qual nada diz no seu livro requentado. Mesmo passados 25 anos sobre esse tabu.
3 comentários:
O responsável por Portugal ter sido o único País a acompanhar a Inglaterra de thatcher e os EUA de reagan a votar contra a resolução da ONU a exigir a libertação de MANDELA.
Nos dias em que se embrulhava peixe em jornal, esse livro teria tido uma utilidade (muito embora fosse capaz de alterar o sabor aos animais e contribuir para a mais rápida perda de frescura).
Hoje nem com um desconto desses :) ...
Mas quem sabe as centrais de reciclagem poderão ter interesse em tal coisa... Ou as páginas deem boas acendalhas para quem tiver uma lareira...
Caro Jaime,
Deve haver mil e uma utilidades para um livro assim. Mesmo quando continua a ser "pecado" queimar livros :-) Há-de haver melhores dias! Um bom doningo.
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