sábado, 24 de outubro de 2020

"Nem dado"

(Apanhado no Facebook com o recado que está em título) 

Até parece que alguém está a pagar o livro requentado de um tardio Cavaco Silva, escrito para comemorar os 25 anos em que deixou o Palácio de S.Bento. Ninguém já se recorda, mas Cavaco Silva saiu de S.Bento envolto no tabu de deixar o poder entregue aos mais turvos interesses, ao que parece pressionado por provas entregues à comunicação social do enriquecimento ilegal de diversos ministros, na sequência do seu papel de introduzir - através de políticas deliberadas e desejadas - o projecto neoliberal em Portugal

Na sua autobiografia política, escreveu que se afastou porque se tinha vindo "cansando da vida partidária", que "estava a ficar farto", que os "comportamentos oportunistas e mesquinhos de alguns dirigentes partidários desenvolveram" nele "uma crescente sensação de fastio e vontade de reencontrar outras envolventes humanas, outras linguagens, outras atitudes" e que "era com sacrifício que participava nas reuniões dos órgãos de direcção do partido e escutava os discursos dos chamados barões ou de certos dirigentes".

E cita aquilo que, a 13/8/1994, na Festa do Pontal, disse: 

"No PSD, tal como nos partidos da oposição, também existem alguns barões que vêem nos partidos trampolins para alcançarem benesses pessoais"

Frase que, numa entrevista (“As revelações de Cavaco”, Público, 28/3/1995), voltou a abordar: 

“Sangue novo, novas ideias, novas atitudes...” – começou por dizer. Depois interrompeu-se e a seguir disse algo aparentemente estranho, que nada tinha a ver com o que estava a dizer - “...e defendendo que o partido não devia ser trampolim para benesses pessoais. Fiz este discurso no Pontal, depois do Pontal... e há momentos em que o exemplo tem de vir de cima”.

Que exemplo? O da deserção? O de ser cúmplice de benesses pessoais, eventualmente ilegais e criminosas? O de defender o partido acima de tudo, mesmo da lei? 

Ora, eis algo que sobre o qual nada diz no seu livro requentado. Mesmo passados 25 anos sobre esse tabu.  

3 comentários:

Anónimo disse...

O responsável por Portugal ter sido o único País a acompanhar a Inglaterra de thatcher e os EUA de reagan a votar contra a resolução da ONU a exigir a libertação de MANDELA.

Jaime Santos disse...

Nos dias em que se embrulhava peixe em jornal, esse livro teria tido uma utilidade (muito embora fosse capaz de alterar o sabor aos animais e contribuir para a mais rápida perda de frescura).

Hoje nem com um desconto desses :) ...

Mas quem sabe as centrais de reciclagem poderão ter interesse em tal coisa... Ou as páginas deem boas acendalhas para quem tiver uma lareira...

João Ramos de Almeida disse...

Caro Jaime,

Deve haver mil e uma utilidades para um livro assim. Mesmo quando continua a ser "pecado" queimar livros :-) Há-de haver melhores dias! Um bom doningo.